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Críticas

Cineplayers

Apesar de vários problemas, serve como registro histórico do conflito entre ciência e religião.

7,0

Baseado no best seller homônimo de Noah Gordon, O Físico é um drama histórico que conta a história de Rob (Tom Payne), que aos dez anos se torna órfão quando sua mãe é atingida por uma doença desconhecida. O garoto se refugia com um curandeiro beberrão e rabugento chamado Barber (Stellan Skarsgård), que com o passar dos anos, vai lhe transmitindo seus conhecimentos sobre como tratar e curar doenças. Porém, inconformado com os ensinamentos superficiais de seu mestre acerca da medicina (termo ainda inexistente na Idade Média), Rob se lança numa longa jornada pela Europa até a Pérsia, enfrentando e percorrendo diversos lugares hostis ao cristianismo. Disfarçando-se de judeu, Rob começa a ter aulas com Ibn Sina (Ben Kinsgley), um dos grandes físicos do mundo e que lhe ajuda a expandir o conhecimento sobre a arte da medicina, ao mesmo tempo em que Rob acaba se apaixonando por Rebecca (Emma Rigby), uma jovem já destinada a um casamento forçado.

O Físico teve uma passagem tímida pelos cinemas brasileiros, talvez pela combinação entre sua longa duração (são quase 150 minutos) e sua abordagem até interessante, mas que para muitos talvez pouco faça valer ficar tanto tempo diante da tela. O filme é, entretanto, um retrato bastante curioso e historicamente relevante sobre o conflito entre ciência e religião existente na época, onde qualquer sinal de curiosidade sobre algo além dos ensinamentos divinos poderia levar à morte pela Inquisição, quando filósofos e estudiosos eram considerados traidores perante o fundamentalismo religioso dos cristãos.

Este talvez seja o principal mérito do filme, conseguir levantar um debate pertinente sobre o ideal reinante da época. O roteiro de Jan Berger não apresenta muitos rodeios quando quer mostrar as raízes do ódio religioso, refletindo bem o grande poder de persuasão detido pela Igreja durante aquele período.

Berger, infelizmente, diminui o impacto deste retrato ao se entregar a um bom número de clichês e estereótipos que, obviamente, poderiam ter sido deixados na sala de edição sem trazer nenhum dano prejudicial à obra. O romance entre Rob e Rebecca é deveras dispensável para a narrativa, e seu foco acaba por diminuir consideravelmente o maior desenvolvimento que os médicos (ou físicos) poderiam ter recebido, por exemplo, durante a sequência em que a Pérsia é atingida pela peste bubônica. Neste momento, podemos sentir a pressa do roteiro em avançar no tempo, e com isso acaba por se perder em detalhes fascinantes que, se melhor explorados, poderiam ter rendido uma experiência histórica ainda mais rica.

Existem claras boas intenções por trás do projeto, que apesar de não ousar tanto quanto poderia, consegue trabalhar bem os conflitos de seu protagonista (que também, infelizmente, conta com um intérprete um tanto apático). As necessidades comerciais, entretanto, levam o diretor Philipp Stölzl à inevitável obrigação de elevar a dramaturgia da adaptação, numa óbvia tentativa de abranger o público ávido e desejoso por uma típica romantização. Dispensável também é o fato de Rob possuir uma espécie de poder sensitivo que lhe ajuda a curar as pessoas, uma saída fácil (e inexplicável) do roteiro para resolver certos conflitos.

Mas apesar destes muitos empecilhos, O Físico ainda é válido por seu discurso crítico acerca da delicada linha que separa a ciência e a religião, e que apesar de não se aprofundar nos detalhes como deveria (mais uma vez, culpa dos objetivos comerciais que acabam limitando esta oportunidade), consegue ser finalizada como uma bela obra, historicamente relevante e tecnicamente bem realizada.

Comentários (7)

Matheus Rodrigues Barbosa | terça-feira, 25 de Novembro de 2014 - 00:03

Este filme deve ser excelente,afinal tem aprovação de 74% dos críticos do Cineplayers,uma fatia elevada.

Rodrigo Cunha | terça-feira, 25 de Novembro de 2014 - 00:58

Cara, 74% é dos leitores do site...

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