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Críticas

Cineplayers

Ao querer seguir os personagens por muitos anos, Fora da Lei se arrasta em sequências que atrapalham esse objetivo.

6,5

A indicação argelina ao Oscar de filme estrangeiro irritou os franceses. E não é porque a história abordada por Rachid Bouchareb conta o difícil processo de independência da Argélia, resultado de muitos conflitos com os colonizadores europeus. A inconformidade veio porque a produção francesa Homens e Deuses (Des Hommes et des Dieux, 2010), que aborda o mesmo tema sob outra ótica - e que havia ganhado o Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes 2010 -, foi ignorada pela Academia de Artes e Ciência Cinematográficas de Hollywood. 

Fora da Lei tem inicio com a expulsão de uma família argelina de suas terras. Processo que, historicamente, foi bastante comum. Os colonizadores invadiram o país e desapropriaram a grande maioria da população muçulmana que, em função da religião e ao contrário dos judeus, não eram contemplados pelas leis francesas, além de não terem acesso à cidadania do país invasor. Assim, os estrangeiros se apoderaram das melhores propriedades da Argélia.

É por meio do drama dessa família que o roteiro representa o sofrimento de toda uma população oprimida. A partir daí, foca no destino dos três irmãos desalojados. Messaoud se alista para combater o nazismo na Segunda Guerra Mundial, enquanto Saïd se entrega a negócios escusos para fazer dinheiro com maior facilidade. E, por fim, Abdelkader é levado para uma prisão em solo francês por participar de manifestações pela independência.

Anos mais tarde, o trio se reencontra no subúrbio da França e, enquanto Saïd ambiciona apenas acumular mais dinheiro, Messaoud e Abdelkader se dedicam a causa da independência argelina organizando, a princípio junto aos operários das fábricas, a revolução armada que levaria pânico para as autoridades do país colonizador. Esse ingresso em terras europeias só foi possível porque após intensos conflitos em solo africano pela libertação do país, a França resolve ceder politicamente e permitir o acesso dos muçulmanos argelinos.

Assim, surge a Frente de Libertação Nacional (FLN), que usa da luta armada para alcançar seus objetivos. É desse modo que Messaoud e Abdelkader passam a liderar as violentas ações do grupo, com cada vez maior adesão de argelinos, no território francês. A história segue traçando o paralelo das personalidades dos três irmãos e a relação deles com a mãe, uma senhora idosa cheia de princípios que não consegue aceitar a ação de Saïd no submundo, sem entender que seus outros dois filhos cometem crimes ainda piores, por mais que em nome de uma causa justificável – o que, ao contrário do que o filme parece sugerir, não justifica o expediente usado.

E, ao contar uma história que atravessa anos, Fora da Lei se arrasta desnecessariamente em seu desenvolvimento, tornando-se cansativo em função de suas duas e horas e meia de projeção que, mesmo com as sequências mais agitadas de conflitos e ações terroristas políticas, não consegue achar o ritmo ideal. Não tem a calma necessária para abordar os quase 40 anos narrados e não consegue dar a cadência adequada às sequências dentro do recorte que realiza. A fotografia escura parece sugerir o tempo inteiro a clandestinidade das ações de todos os personagens, e talvez seja o melhor que Fora da Lei tem a oferecer em termos visuais.

Se tem seu desenvolvimento histórico satisfatoriamente interessante – até mesmo a ponto de me fazer pesquisar melhor os acontecimentos -, os personagens, mesmo que responsáveis por uma subtrama cheia de possibilidades dramáticas, são limitados por uma narrativa que não emprega seu potencial com competência suficiente para causar empatia por aquelas figuras. Se um carrega o fardo das mortes pelas quais é responsável, se o outro é o elo renegado daquela família e o terceiro um idealista em muitos momentos aproveitador, estudá-los ou entendê-los, quase inexplicavelmente, não parece algo interessante a ser feito. Talvez por isso mesmo eu seja solidário à revolta dos franceses que citei no início.

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