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Críticas

Cineplayers

Um dos pecados do filme é falhar ao tentar agradar adultos e crianças.

4,0

Animais e seres humanos dividem as telas de cinema há anos. Porém, apenas de alguns anos para cá que a coisa se tornou digital. E, com o passar desse tempo, o método de se digitalizar criaturas e inseri-las em um filme pré-preparado está cada vez mais perfeito. Força G, nova investida da Disney no gênero ação com animais e humanos lutando para salvar o planeta, eleva essa técnica praticamente à perfeição, mas a sub-aproveita em um filme extremamente ruim, batido, sem emoção e com personagens que vão encontrar certa dificuldade para encontrar e conquistar seu público.

Força G é um departamento da CIA que vem sendo mantido em segredo por treinar animais para a ultraespionagem. Quando os responsáveis decidem que todo o investimento não está tendo retorno, resolvem fechar o local, mesmo que os pequenos animais os impressionem falando ou mostrando suas habilidades. Quando uma poderosa empresa pretende destruir o mundo, os pequenos, com a ajuda de seus treinadores, partem sem autorização em uma missão que terá não apenas os vilões como contratempo, mas também os agentes da CIA, determinados a recuperar os animais fugitivos antes que eles aprontem ainda mais.

Se a sinopse já não é original, o desenvolvimento confirma que tudo não passa de clichê após clichê disfarçados de ratos (ou melhor, porquinhos da Índia). Tudo está presente: os talentosos injustiçados; o vilão misterioso que, quando se revela, é quem todos esperavam; a Terra sendo ameaçada; os mocinhos que passam a ser perseguidos tanto pelo lado bom quando pelo mau; a tecnologia pronta para resolver qualquer problema de roteiro; enfim, a listagem de características que Força G recicla é tão grande que, se detalhada, pode ser considerada contar detalhes que deveriam ser descobertos apenas assistindo (não que você não fará isso ao longo da produção, antes de serem revelados).

Chega a ser engraçado ver a lista de nomes famosos envolvidos no projeto (Bill Nighy, Will Arnett, Sam Rockwell, Nicolas Cage, Penélope Cruz, Steve Buscemi, Jon Favreau), o que comprova que, em Hollywood, nomes de empresas (no caso, a Disney) podem chamar bem mais atenção do que um roteiro de verdade (que aqui fora escrito em cinco mãos, o que nunca é um bom sinal). Os personagens são caricaturas do que é visto normalmente nos Estados Unidos: o gringo tradicional, o negro americano (com direito a gestos e sotaque), a bela imigrante e o oriental mais inteligente que os demais (e mais traumatizado também).

Abusando de canções recentes do pop rock norte-americano, como o grupo The Black Eyed Peas ou a polêmica Lady Gaga, a tentativa é de deixar tudo o mais cool possível. Só que esta mesma tentativa vai por ralo abaixo quando os personagens ficam em um meio-termo entre agradar pais e filhos. O que mais agrava tudo é o fato da ação ser ruim e a comédia ser desinteressante. Com piadas batidas, o humor involuntário funcionará muito melhor do que o premeditado pela direção do longa-metragem.

O que chama atenção em Força G, e que talvez seja realmente sua única força (com o perdão do trocadilho), são os efeitos especiais. Tudo está lindo e convincente, desde os animais até as cenas de ação, não devendo nada a grandes produções do gênero (no visual, não na empolgação que elas proporcionam, que fique clara a diferença). Os porquinhos são lindos, com sua pelugem sendo diretamente afetada pelas condições que o rodeiam, como luz, clima etc. Quando molhados, parecem ainda mais reais do que quando estão se movendo habilmente pelos cantos de cada cenário. E sua interação com o mundo real beira a perfeição, não sendo à toa sua pré-indicação ao Oscar de efeitos especiais do ano que vem, ainda que dificilmente venha a ser um dos finalistas (mas se chegar a ser não será exagerada a indicação).

Se não é tão infantil para agradar as crianças e nem tão bem feito para os adultos, a quem se direciona Força G? Realmente é uma boa pergunta com resposta difícil de ser encontrada. Pelo menos mostra que a Disney ainda não desistiu de seus filmes em live action, ainda que a empresa escolha os projetos errados para focar, na esperança de nascer mais um High School Musical por aí.

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