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Frozen - Uma Aventura Congelante

(Frozen, 2013)
7,0
Média
450 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Disney faz história ao colocar uma mulher para dirigir pela primeira vez um dos seus longas de animação.

8,0

Nos últimos 3 anos, a Disney tem feito grandes esforços para adaptar suas animações, gênero que outrora fora o seu forte, para o novo cenário que se instalou com o 3D. Enrolados (Tangled, 2010) foi a sua volta às princesas com sucesso, mas de um jeito menos adocicado, com mais aventura e mocinhas menos frágeis. Detona Ralph (Wreck-It Ralph, 2012) tinha grande apelo entre os meninos, utilizava personagens consagrados de vídeo-games, além de um mundo “fofo” de açúcar, que garantia que as meninas teriam sua cota de merchandising pra consumir. Com o sucesso de ambas as produções, uma dúvida se instalou: estaria a Disney conseguindo enfim se libertar dos fracassos do passado e da consequente dependência aos filmes da Pixar?
 
A resposta é sim e não. Boa parte dessa nova fase começou exatamente quando John Lasseter assumiu o controle criativo da Walt Disney Animation Studio. Então é difícil medir até que ponto as mudanças são pontuais, reflexos de um homem que já provou ser um gênio no quesito animação, ou se uma mudança interna realmente está acontecendo. Mas o que importa é que está dando certo. E o primeiro sinal claro é que, pela primeira vez na história, uma mulher dirigiu um longa-metragem de animação do estúdio. Percebam, tantas gerações, principal mas não unicamente de meninas, cresceram criando arquétipos femininos baseados exatamente nas princesas da Disney, fato até hoje bastante controverso, e durante esse tempo todo sempre havia a mente de um homem dirigindo o espetáculo. Que seja muito bem vinda, Jennifer Lee. Verdade também que ela divide a direção com (pasmem!) um homem, Chris Buck, veterano responsável por Tarzan (idem, 1999) e Tá Dando Onda (Surf's Up, 2007). Mas, ainda assim, percebe-se uma mudança ocorrendo. Lee também foi responsável pelo roteiro, e a última vez que uma mulher teve essa função, sem um homem nobre para ajudá-la, foi em A Bela e a Fera (Beauty and the Beast, 1991), quando pela primeira vez uma animação foi indicada ao prêmio de Melhor Filme.
 
O que enfim nos traz a Frozen – Uma Aventura Congelante (Frozen, 2013). Anna, a princesa atrapalhada, que passa a vida trancafiada em seu castelo, sem muito contato humano e uma carência que beira a doença, podia muito bem ser prima da Rapunzel de Enrolados (talvez por isso a última faça uma pequena participação especial que apenas os mais atentos perceberão). As duas são bem mais independentes, assumem seus riscos e suas jornadas e não esperam príncipes para resolverem seus problemas. O desespero de ambas ao serem finalmente libertadas de seu isolamento perpétuo é um pouco diferente. Enquanto Rapunzel tem reações bipolares entre culpa e êxtase, Anna literalmente se joga no primeiro homem que vê pela frente. Como mais uma prova de amadurecimento, o filme critica (levemente, nada muito duro) os grandes amores que acontecem em apenas um dia, e embora o hábito faça com que aceitemos perfeitamente que ela se apaixone e queira se casar em apenas um dia, o filme nos lembra logo em seguida que isso não é normal, e só poderia acontecer com alguém tão desesperado por contato humano. Uma dezena de princesas Disney se reviraram em seus túmulos de cristal com essa pequena lição de moral.
 
Mas engana-se quem pensa que o filme é mais um romance açucarado. O dedo de Lasseter pode ser sentido principalmente aí. Frozen pode ter suas distrações (sim, é isso que os homens são aqui), mas seu coração está na relação entre as duas irmãs. Elsa, que possui o poder de manipular o frio, machucou Anna quando criança por acidente, e com isso passou uma vida isolada, afastada de tudo e de todos, privada de todo afeto que não trouxesse medo e a possibilidade de perdas. Uma das melhores cenas do filme é exatamente a música "Do you want to build a snowman?", que mostra o desespero de ambas pelo afeto mútuo, contando ainda com o tom melancólico já clássico do estilo Pixar. Durante a música, Anna e Elsa perdem seus pais e sofrem separadas por uma porta, mas com a mesma angústia. A relação entre as duas vai guiar todas as boas reviravoltas, enquanto sempre que um outro personagem tente se sobressair, o filme perde em qualidade.
 
Quando Elsa é forçada a sair do isolamento para enfim virar Rainha, seu segredo é desvendado ao ser pressionada pela personalidade impetuosa de Anna. Acuada, se refugia nas montanhas onde finalmente se livra de suas amarras emocionais e libera todo o seu poder (cantando a provável indicada ao Oscar "Let it Go", em mais um bom momento musical do longa). O problema é que, com isso, o resto do reino emerge em um inverno rigoroso. Anna vai atrás de sua irmã para tentar convencê-la a voltar e trazer consigo o verão de volta, e quem sabe “descongelar” também a relação entre elas.
 
As lições de moral sempre estão ali, sobre auto-aceitação, importância da família, a necessidade de afeto, atos de amor verdadeiro. Mas é louvável perceber que nenhum desses conceitos está simbolizado na imagem de um homem. Ambas as princesas têm que aprender a encontrar sua força dentro de si.
 
Vale ressaltar também a beleza da animação, impecável direção de arte, que traz uma paleta de cores bem inesperada para o padrão das animações do estúdio. Assim como se espera de um filme “invernal”, as roupas possuem um tom mais escuro, sempre contrastando com a brancura preponderante dos cenários de neve. E mesmo com a dificuldade de tornar o inverno diferente, ou particularmente bonito (vide desafios similares para Happy Feet: O Pinguim [Happy Feet, 2006], ou Era do Gelo [Ice Age, 2002]), o resultado é exuberante, seja na arquitetura de Arendelle, do Castelo de Gelo, ou nas explosões de cristais e neves proporcionados por Elsa.
 
Embora tenha muitas qualidades, nem tudo são flores em Frozen. Olaf, o boneco de neve que parece protagonista no trailer do filme, só aparece depois de 45 minutos. E se a sua função é preencher a cota de personagens fofos secundários de função humorística, ele está a milhas de distância do Gênio de Aladdin, Timão e Pumba e similares. Os personagens masculinos, candidatos a príncipes, são imperfeitos, cômicos, assim como Anna e Elsa, mas nem por isso bem desenvolvidos, ou particularmente interessantes. A impressão, no fim da projeção, é que possivelmente elas conseguiriam melhores pares se esperassem um pouco mais.
 
Frozen – Uma Aventura Congelante não vai mudar o curso da história da animação. Nem é o melhor filme do estúdio desde O Rei Leão (The Lion King, 1994), como tem sido considerado. Mas ele simboliza diversos passos certos. Mais mulheres dirigindo e escrevendo filmes relevantes, mais sensibilidade, mais músicas que desenvolvam a história, personagens divertidos e protagonistas, mas nem por isso rasos. A Walt Disney Animation Studio está ascendendo novamente. E quem sabe não é assim que ela ganhará seu primeiro Oscar de animação?

Comentários (9)

Raphael da Silveira Leite Miguel | terça-feira, 07 de Janeiro de 2014 - 19:44

Boa crítica e esse filme parece remeter aos antigos clássicos da Disney, recheado de musicais, que parecem agradar. Ainda assim, prefiro o estilo da Pixar.

Robson Nakazato | quinta-feira, 09 de Janeiro de 2014 - 19:59

Já passou-se o tempo que a Disney investia nas animacoes de princesa depois que o estilo da Pixar dominou🙄
Apenas duas coisas que salvam o filme: o curta metragem antes do filme, na qual reinventa Mickey e cia nos dias de hoje; e personagem mais interessante Olaf.

Walter Sampaio | sábado, 11 de Janeiro de 2014 - 16:50

Acho q VC viu outro filme. Excesso de músicas q só servem para encher lingüiça. A única coisa q salva e o personagem Olaf. De resto mais uma bola fora da Disney

Daniel Oliveira | quarta-feira, 22 de Janeiro de 2014 - 08:31

Achei um ótimo filme! Há momentos, como a cena da canção \"Let it Go\", memoráveis.

Minha crítica: http://cinefilosantista.blogspot.com.br/2014/01/critica-frozen-uma-aventura-congelante.html

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