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Críticas

Cineplayers

Um filme de pretensões artísticas que não consegue se desprender de clichês convencionais. Ainda assim, é bom.

6,0

Em meio a comédias românticas tão, mas absolutamente tão vazias e sem graça, é sempre agradável descobrir que há uma pequena porcentagem de produtores investindo em roteiros que, ainda que não sejam um mar de originalidade, pregam uma fuga em relação ao marasmo em que se encontra o gênero. Garota na Vitrine é baseado em um romance escrito pelo próprio Steve Martin e, como não pode ser considerado surpresa, o filme é interpretado por ele mesmo no papel masculino principal. Claire Danes é seu par amoroso, e a diferença de idade entre ambos (que ultrapassa a barreira das três dezenas de anos) é o principal tema do filme.

Afinal, idade interessa se houver amor? Para muitas garotas, em absoluto! O que importa é achar alguém se importe em abraçá-la nos momentos mais ternos. Infelizmente, o filme entra um pouco na obviedade quando o triângulo amoroso criado pelo roteiro possui duas peças masculinas tão diferentes – uma charmosa, rica, porém fora da idade (Martin); outra imbecil, desajeitada, mas cheia de boas intenções, além de jovem (Jason Schwartzman). Isso é justamente óbvio porque não ficará complicado prever seu final, o que irrita um pouco, além do fato de Jeremy (Schwartzman) ser uma figura tão, mas tão desprezível que seria forçado demais este conseguir conquistar uma garota como Mirabelle (Danes).

Ainda assim há um desenvolvimento interessante e incomum entre Ray Porter (Martin) e Mirabelle, que traz charme especial, ainda que um pouco fora da realidade prática. Afinal, se Porter fosse pobre jamais teria chances com uma garota como Mirabelle, e nesse sentido o filme soa manipulador e pode ser visto como uma história de Cinderela deveras forçada. Mas deixemos nos levar, pois ambos os atores estão muito bem, e ver Steve Martin ou um ator como Steve Martin fazer um papel romântico não convencional é algo raro.

O ritmo dos acontecimentos é agradável. Somos brindados com o sumiço do irritante Jeremy por quase todo o filme, fazendo com que o centro das atenções seja o romance entre menina e homem. Pelo fato de ser uma adaptação de material escrito, algumas incoerências aparecem aqui e ali, como o total subdesenvolvimento da trama envolvendo os pais de Mirabelle. Há uma cena em que ela vai visitá-los para tentar “reencontrar seu coração”, mas o diretor entendeu que “diálogos mudos” seriam melhores do que explicar a relação entre pais e filha com palavras. Pode até ser verdade (afinal, a expressão de Mirabelle para sua mãe após atender a um telefonema de Porter realmente disse tudo), mas a sensação de deslocamento da cena com o fluxo do filme ficou no mínimo estranha e talvez pretensiosa demais, o que certamente foi desnecessário.

No final das contas Garota da Vitrine é um filme com boas intenções artísticas, mas que em poucos momentos consegue esconder que é algo mais do que um romance moderno ordinário e comercial. É um bom filme, de fato, recheado de momentos agradáveis, boas interpretações (com exceção de Jason Schwartzman, mais por este ter um papel ridículo no filme do que falta de habilidade como ator) e ritmo decente. Há vários pontos negativos – além dos já citados, a subtrama envolvendo a colega de trabalho vadia de Mirabelle é vazia, previsível e dispensável – que acabam tirando o brilho e colocando o filme em um patamar abaixo do que os produtores certamente estavam almejando. Há uma sensação de cinema independente em várias cenas e no estilo de direção, mas fica sempre na sensação. Enfim, um trabalho recomendável para quem curte romances não tão convencionais.

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