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Críticas

Cineplayers

Vencedor do Oscar, um filme inovador para sua época, recheado de estrelas e estrelismos...

7,0

Sete estrelas do cinema reunidas em um único filme. Um formato narrativo inovador. Uma grande estratégia de marketing. É um arrasa-quarteirão prestes a estrear? Nada disso, é apenas "Grande Hotel", filme de 1932 que foi a grande aposta do estúdio MGM para aquele ano, que acabou recebendo o Oscar de melhor filme e nenhuma outra indicação! Caso único na história e, dizem, isso acabou acontecendo mais por pressão do estúdio que por suas qualidades.

Baseado na peça teatral "Menschen im Hotel", de autoria de Vicki Baum, que relatava as próprias experiências da escritora que foi camareira em dois hotéis em Berlin, o filme foi uma aposta do lendário produtor Irvin Thalberg, que teve a revolucionária idéia de compor o elenco com somente astros da época. Mas a tarefa não foi fácil. O primeiro anunciado foi o grande comediante Buster Keaton, para depois ser substituído por Lionel Barrymore. Depois, foi a lendária Greta Garbo que entrou na produção. A grande dama recusou o papel por se achar velha demais – ela tinha 27 anos na época (mas há quem diga que foi por uma crise de estrelismo), mas acabou aceitando o papel sob a condição de escolher o seu par na trama. O escolhido foi seu ex-noivo John Gilbert, que vinha de péssimos resultados no cinema e acabou sendo recusado por Thalberg. Quem acabou com o papel foi John Barrymore, que na época era um dos atores mais famosos do teatro, e que era irmão de Lionel, que já estava no elenco.

Outro que recusou um papel no filme foi Wallace Beery, que achava o personagem antipático - ele foi convencido a atuar graças à promessa de Thalberg de que ele seria o único a ter sotaque germânico na trama. E Joan Crawford tinha muito receio com seu papel, já que achava que várias cenas suas seriam cortadas pela censura da época - o já contratado diretor Edmund Goulding prometeu à atriz que todas as cenas seriam filmadas com grande cuidado -  mas mesmo assim os estados americanos mais conservadores acabaram por retirar várias cenas da futura estrela. E Lewis Stone e Jean Hersholt foram os últimos a integrarem as filmagens, que foram bastante tranqüilas mesmo com as insinuações que Garbo e Crawford estavam em pé de guerra - soube-se depois que não houve hostilidades entre as duas.

"Grande Hotel" é um marco, na verdade, por ser o primeiro filme a não seguir uma linha narrativa só. Ele interlaça vários personagens ao mesmo tempo e pode ser considerado o precursor dos chamados "filmes-painéis" (como "Magnólia" e "Short Cuts - Cenas da Vida"). Inclusive, foi muito copiado depois, como em "Se Eu Tivesse Um Milhão", do mesmo ano. A famosa e enigmática frase de  Dr. Otternschlag (Lewis Stone), "Grande Hotel... as pessoas vêm e vão, e nunca acontece nada", proferida com certo cinismo e melancolia, vai de encontro com a trama movimentada. Garbo é a instável dançarina Grusinskaya, que desacreditada no amor não vê um rumo em sua vida, até se encontrar com o falido Barão Felix von Geigern (John Barrymore), que por sua vez se torna amigo de Otto Kringelein (Lionel Barrymore), um senhor que descobriu que está à beira da morte e decide passar seus últimos dias no luxo do hotel em que está seu patrão, o execrável Preysing (Wallace Beery), rico empresário que está para fechar um grande negócio que salvará sua carreira e que contará com os serviços da taquígrafa Flaemmchen (Joan Crawford). Os personagens de Lewis Stone e Jean Hersholt são basicamente coadjuvantes sem importância na trama.

Quem se dá melhor no filme é incontestavelmente Joan Crawford. Sua belíssima e atraente taquígrafa, cheia de dubiedade e surpresas, é um primor de presença na tela. A grande presença de Crawford inclusive fez com que fossem filmadas cenas adicionais com Garbo para que esta não se sentisse prejudicada. Mas a atriz sueca também se mostra extremamente bem em cena, mesmo estando um pouquinho deslocada no papel. Neste filme ela profere sua fala mais famosa: "Eu quero ficar sozinha, eu só quero ficar sozinha", que definiria toda a sua vida e carreira - Garbo é considerada a atriz mais reclusa da história do cinema. Já John Barrymore entrega um personagem simpático e bastante atraente, que muitos consideram um dos dois melhores parceiros em cena de Garbo (e há quem afirme que ambos tiveram um romance), enquanto Wallace Beery não consegue fugir do estereótipo intransigente. Quem realmente desaponta é o talentoso e oscarizado Lionel Barrymore, que está caricato, exagerado e inconvincente. Seu personagem é tão mal realizado que consegue até irritar.

Edmund Goulding realizou um ótimo trabalho na direção. Notáveis são as cenas dirigidas no saguão do hotel e a tomada sobre as telefonistas logo no início do filme. Goulding só perdeu mesmo a mão com os atores - deve ter sido um problemão controlar tantos egos. Tecnicamente, a bela fotografia e os belos cenários em art déco - o saguão é um achado - se destacam. Goulding consegue amarrar todas as histórias com sutileza e sem grandes impactos na narrativa, deixando um ritmo fluente e preciso. Obviamente o filme foi um sucesso de bilheteria na época, dando um alto retorno. Sua estréia no Teatro Chinês, dia 12 de abril de 1932, atraiu grandes estrelas da época como Marlene Dietritch, Jean Harlow, Norma Shearer, Douglas Fairbanks Jr. e o futuro astro Clark Gable, além de uma multidão de pessoas comuns querendo ver seus astros favoritos - Greta Garbo, como sempre, não compareceu à festa. Ela devia estar cansada...

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