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Críticas

Cineplayers

Uma obra-prima do drama em tempos da Primeira Guerra Mundial.

8,0

De Jean Renoir, este é considerado pela crítica em geral um dos mais importantes filmes franceses de todos os tempos e, por que não, um dos mais importantes de qualquer nacionalidade. Inspirador de inúmeras obras, fala sobre a Primeira Guerra Mundial em uma época que ela não era conhecida como tal – 1937 – e a sombra de Hitler já começava a amedrontar meio mundo. Mas Hitler não tem nada haver com A Grande Ilusão. O filme conta a história de um grupo de soldados franceses presos em um campo de prisioneiros na Alemanha em 1916, de suas análises sobre a guerra e do comportamento humano no meio dela.

É um filme que serviu como inspiração para inúmeros outros filmes de priosioneiros de guerra, tais como Inferno Número 17, de Billy Wilder (inclusive o número do campo de priosioneiros da primeira metade de A Grande Ilusão é o número 17), Fugindo do Inferno, com Steve McQueen (considerado por muitos como o melhor desse sub-gênero) e até mesmo de filmes mais recentes como A Guerra de Hart, com Bruce Willis. Mas A Grande Ilusão não é simplesmente “sobre um grupo de soldados que faz de tudo pra fugir do campo de prisioneiros”. O filme entrou para a história do cinema por suas interpretações e seus gloriosos temas, em uma época bastante importante para a humanidade.

Várias cenas não foram exibidas até o final da década de 50, como a sequência em que dois fugitivos – um judeu e um francês – durante sua fuga vão hospedar-se com uma mulher alemã e esta apaixona-se por um deles. Há uma cena, também maravilhosa, onde os prisioneiros franceses cantam La Marselhaise em pleno território germânico em alto e bom som (a cena em Casablanca, então, é bem posterior a esta). O filme é recheado desses pequenos grandes momentos, e no todo ele encanta e coloca-se na história cinematográfica por tudo isso. Seus personagens são complexos – tanto os prisioneiros quanto os alemães. Os diálogos entre estes e os prisioneiros franceses são os melhores, e daí surgem grandes momentos que mostram a mensagem anti-militarista do filme.

Esses momentos, que ocorrem principalmente entre o capitão Rauffenstein (o grande ator Erich von Stroheim) e os prisioneiros franceses funcionam como um manifesto a favor da amizade entre os seres humanos: mesmo que o capitão tenha como dever manter presos os franceses, ele reconhece que o faz por obrigação e que não é a favor da guerra. Uma mensagem do diretor para um público temeroso, em uma época que a sombra de uma nova guerra – muito maior do que aquela primeira – estava pairando no ar.

A direção de Jean Renoir não chega a ser o maior destaque do filme: hoje apresenta-se quase convencional, mesmo comparando-se a outros filmes da época, e por mais relevante que seja seu conteúdo, ainda assim ele derrapa por ser um tanto monótono em vários momentos (e ainda é um filme com menos de duas horas). Tecnicamente o destaque vai para a fotografia: um lindíssimo preto-e-branco que explora muito bem as diversas locações nas quais o filme foi produzido, incluindo um maravilhoso castelo medieval, além do fato de todas as locações possuírem uma iluminação primorosa.

Para finalizar, ratifico que este é mais um clássico absoluto que, ainda hoje, quase 70 anos depois do seu lançamento original, permanece sendo reconhecido e visto por platéias do mundo todo. Temas como disputas de classes (sim, mesmo em um campo de prisioneiros Renoir consegue mostrar tal tema, e de forma perfeita), amizade, saudade, entre vários outros, povoam esta obra do realismo poético do diretor. Um filme obrigatório para quem quer conhecer um pouco mais a fundo a história do cinema e mesmo para quem é estudioso da alma humana e de como ela pode ficar sempre acima de tragédias como uma guerra de nível mundial.

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