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Críticas

Cineplayers

Outra produção de terror oriental totalmente medíocre, que nem bons sustos consegue despertar.

3,0

Há poucos anos, Hollywood descobriu mais um filão para ganhar dinheiro: os filmes de terror vindos da Ásia. Como de praxe na terra do cinema, assim que uma obra se sai bem nas bilheterias, uma leva de produções segue pelo mesmo caminho até esgotar a paciência do público. Foi assim que diversos filmes do outro lado do mundo foram reinventados em território ianque – alguns com ótimos resultados (O Chamado), outros medianos (Água Negra) e, como não poderia deixar de ser, algumas verdadeiras bombas (O Grito).

Infelizmente, é justamente este último que recebe a continuação que chega agora às telas. Achar uma sinopse em O Grito 2 é tão difícil quanto ver George W. Bush falar algo inteligente. Se a obra original já não possuía a mínima coerência, não é surpresa que esta seqüência siga pelo mesmo caminho. O que se pode dizer é que são três tramas paralelas – uma envolvendo a irmã da protagonista do filme anterior –, cujos personagens são perseguidos por um espírito cabeludo preso numa maldição.

E é só. O que se vê a partir daí é uma série de cenas de sustos e mortes que fazem pouco ou nenhum sentido. O diretor Takashi Shimizu (o mesmo responsável pela série japonesa) e o roteirista Stephen Fusco não têm a menor pretensão de estabelecer uma narrativa ou desenvolver os personagens. Com isso, a série de mortes que acontecem não tem o menor efeito sobre o espectador, uma vez que este não se identifica com as pessoas vistas na tela ou ao menos entende as “regras” do mundo criado pelos cineastas.

Tomemos a forma de agir do espírito cabeludo, por exemplo. Sabemos que ele surgiu de um rancor (seja lá o que significa “surgir de um rancor”) e que ataca qualquer um que cruze seu caminho. Mas quais seriam os critérios dele para escolher quem morre cedo e quem será infernizado? Enquanto certos personagens têm destino fatal logo no primeiro ou segundo encontro, outros sofrem com as peripécias da entidade durante todo o filme, como se ele estivesse apenas se divertindo em assustar suas vítimas.

Além disso, o espírito parece confuso, pois não sabe que fim dar aos amaldiçoados. Tem gente que morre sufocada pelos cabelos, outros que têm o pescoço quebrado e inclusive aqueles que desaparecem. Sim, algumas pessoas simplesmente somem, indo parar em alguma outra dimensão ou na Terra do Nunca. Por que isso acontece? Não faço a menor idéia e acredito que nem o próprio Shimizu faça.

E os incríveis poderes da rancorosa criatura do além não param por aí. Em O Grito 2, descobrimos que o fantasma ainda tem a capacidade de influenciar malignamente as pessoas que estão ao seu redor. Mas, de alguma forma, isso só acontece com a família americana em Chicago. Eles são os únicos atingidos dessa forma, em mais uma demonstração do inabalável alcance malévolo do espírito japonês em questão. Ah, e não dá pra esquecer dos sons que ele faz: às vezes abre a boca para o miado de um gato, às vezes para soltar algo que parece um arroto e em outra para uns gritos patéticos, como a cena com a psicóloga. Aliás, esta cena é tão despropositada e sem sentido que me recuso a comentar.

Toda essa balbúrdia do roteiro diz respeito ao fato mais óbvio das obras do gênero, que é estabelecer um padrão para os atos do espírito. Isso simplesmente não acontece em O Grito 2 e o diretor subestima a inteligência do espectador ao fazer o que bem entende, mesmo que isso não tenha a menor lógica com o restante da história. E, falando em lógica, o que dizer da investigação sobre a tal de Kayako? A partir de determinado momento, dois dos personagens principais passam a acreditar que a história dessa mulher detém todas as respostas para o mistério. Mas de onde eles tiraram essa conclusão jamais é explicado.

Outro problema em O Grito 2 são as tramas paralelas. Parece que a intenção de Shimizu foi fazer uma “versão terror” das obras de Alejandro González Iñárritu ou Paul Thomas Anderson, com diversas histórias simultâneas que têm algo em comum. No entanto, isso exige talento narrativo, capacidade que falta ao cineasta japonês – se ele não consegue coerência em apenas uma, o que esperar quando conta três histórias ao mesmo tempo?

Mas O Grito 2 é um filme de terror e quem vai assistir a uma obra dessas quer ver sustos, sangue e um clima de tensão, não é? O fato é que nem isso Shimizu consegue oferecer. Claro que em uma ou outra cena a atmosfera de suspense é bem construída, mas a direção é tão óbvia que praticamente não existem surpresas. Percebe-se de antemão quando está vindo um susto – que, por sinal, chegam a cansar – ou quando o fantasma vai surgir, o que arruína qualquer possibilidade de tensão no espectador.

Na realidade, O Grito 2 funciona, mas apenas sob a ótica da comédia. Existem diversas cenas capazes de provocar risadas, quase todas elas involuntárias – sendo a principal delas a já citada seqüência com a psicóloga, quando uma personagem “reencontra” com suas colegas, um momento que, logo acima, recusei-me a comentar, mas acabei retornando, de tão patético.

Claro que procurar por atuações qualificadas num filme com tantos defeitos é exigir demais. É difícil avaliar se o elenco de O Grito 2 possui algum talento ou não, uma vez que a única utilidade dos atores na produção é fazer cara de assustado e correr de um lado para o outro. Culpa mais do roteirista e do diretor do que do elenco propriamente dito.

Porém, há algo a ser elogiado em O Grito 2. Uma reviravolta ao final, unindo duas das histórias, é interessante, ainda que pouco acrescente à trama como um todo. É mais como uma pegadinha de Shimizu na platéia do que algo relevante. Mas em um filme com valor cinematográfico nulo como O Grito 2, qualquer tentativa mais ou menos bem-sucedida como essa já é grande coisa.

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