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Críticas

Cineplayers

Nessa onda de refilmagens de filmes orientais, conheça um lotado de sustos.

6,5

Se um filme oriental pouco divulgado faz um enorme sucesso em seu país de origem, por que não fazê-lo bem-sucedido também no Ocidente? Além de propagarem por uma boa parte do mundo uma história inusitada e diferente, as refilmagens, quando decentemente realizadas e divulgadas, deixam os espectadores curiosos acerca do filme original. Apenas de filmes japoneses, podem-se citar refilmagens de Ringu (O Chamado), Dark Water (a ser lançado em meados de 2005), Dança Comigo? e, mais recentemente, The Grudge (estranhamente traduzido no Brasil para O Grito).
 
Refilmagem do terror psicológico Ju-On: O Rancor , O Grito trata de uma maldição gerada por um rancor guardado por alguém no momento de sua morte. A maldição impregna o ambiente onde a morte aconteceu e atinge indiscriminadamente a todos que entrarem em contato com o local. Dessa forma, tem início uma enorme cadeia de acontecimentos horríveis que, muito provavelmente, nunca acabarão.

Karen (Sarah Michelle Gellar) é estudante de Serviço Social e a pedido do namorado vai morar com ele em Tóquio. Em pouco tempo, Karen é convidada para substituir uma outra assistente, que misteriosamente desapareceu. Ela fica encarregada de cuidar de uma velha senhora americana que mora numa casa tradicionalmente japonesa. Chegando lá, Karen percebe que existe algo estranho no lugar, uma atmosfera desagradável e ominosa. Explorando a casa, ela descobre um armário selado por fita adesiva. Ao abrí-lo, Karen inevitavelmente libera a maldição.

Sarah Michelle Gellar não é o que se pode chamar de uma brilhante atriz. Em muitos filmes em que aparece, ela apenas faz o seu trabalho, talvez por não escolher papéis muito difíceis, por ser ofuscada por outros atores ou por simplesmente não conseguir desenvolver ao máximo suas personagens. Com O Grito não é muito diferente. A atriz sabe, sim, como conduzir seu papel, embora o faça de maneira pouco atraente. De qualquer maneira, O Grito é o tipo de filme em que as atuações não precisam ser exatamente brilhantes. Os outros atores, bem como Sarah, saem-se bem, mantendo o clima das cenas em que aparecem.

Uma decisão sensata foi a de manter Takashi Shimizu na direção da refilmagem. Diretor também do filme original. Shimizu teve todo o tempo necessário para repensar o filme japonês e arrumar possíveis erros no americano, além de, é claro, deixar a trama da película muito bem explicada, como gostam os ocidentais. O enredo, inclusive, parece adquirir um novo aspecto quando transportado para o ambiente hollywoodiano. A decisão de gravar o filme em Tóquio e de manter nele alguns atores japoneses (os espíritos malignos de O Grito são interpretados pelos mesmos atores de Ju-On) parece servir apenas para deixá-lo com um aspecto mais nipônico, enquanto, na verdade, confere à história uma nova moldagem.

A música de Christopher Young, como em todo terror psicológico, é fundamental para o andamento correto do filme, é através dela que o medo e a tensão serão sugeridos. Muito parecidos com os de Ju-On, os efeitos sonoros são os efetivos responsáveis pela manutenção da atmosfera tensa e, quando comparados aos da versão japonesa, não deixam a desejar. A imagem do filme recebeu uma polida e a fotografia (ainda que muitas cenas sejam idênticas às originais) parece sutilmente melhor, a ponto de se perceberem as melhorias desejadas - e alcançadas - pelo diretor.

Mesmo que a essência do filme japonês esteja toda no americano, assistir à refilmagem depois que se viu o original é muito mais interessante, pois se vêem as adaptações almejadas pelo diretor e a nova face impressa à história da película. Ainda que direcionado especialmente ao público norte-americano, ou ocidental como um todo, O Grito, diferentemente de O Chamado, não apresenta um aspecto inteiramente ocidental, ainda que levemente modificado. O destaque que a rancorosa e vingativa Kayako recebe no filme, apenas reforça o lado oriental da refilmagem, pois remete, com insistência, aos espíritos característicos das lendas nipônicas. Na verdade, de tantas referências à cultura japonesa, o filme parece uma refilmagem parcial, isto é, um filme americano bem oriental (ou seria um filme japonês bem ocidental?).
 
Se o objetivo do diretor e do produtor Doug Davison foi o de adaptar a história de Ju-On ao gosto ocidental, a tentativa pode ter sido falha, porque O Grito não é, de maneira alguma, parecido com o terror ocidental. Entretanto, se o objetivo foi o de divulgar o filme original e de expor o Ocidente a um terror bem diferente do usual, a tentativa foi, sim, bem sucedida.

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