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Críticas

Cineplayers

Um grande musical vindo de Hollywood. Um dos filmes mais vibrantes e contagiantes de 2007.

8,5

Em 1988, chegava aos cinemas Hairspray – E Éramos todos Jovens, produção dirigida por John Waters. Depois, o filme virou um musical de sucesso na Broadway. Agora, Adam Shankman dirige a versão musical para os cinemas. No novo Hairspray, a história sofreu uma reformulação, mas manteve a linha principal (ou seja, versa sobre o mesmo assunto que o original). Alguns novos ingredientes foram acrescentados, como os números musicais, conseguindo, dessa maneira, deliciar o público. A versão de Adam Shankam supera a de Waters. É mais animada, vibrante, e menos incisiva na abordagem da questão da segregação racial. 

Tracy Turnblad (Nikki Blonsky), uma adolescente gordinha de Baltimore, tem o sonho de aparecer no "The Corny Collins Show", programa de dança sensação entre os jovens, sucesso na tevê local. Provando ter talento para dançar, ela ganha uma vaga para ser dançarina fixa do programa, mesmo contra a vontade da gerente da emissora, Velma von Tussle (Michelle Pfeiffer), que tem como interesse principal promover a carreira de sua filha, Amber (Brittany Snow). Ao mesmo tempo em que brilha no programa, Tracy se envolve na luta contra a segregação racial, defendendo que brancos e negros possam aparecer juntos, pela primeira vez, em um programa de tevê. O único espaço fornecido aos negros na televisão, até então, era o chamado “Negro Day”, espécie de “The Corny Collins Show” exclusivo para eles.

Hairspray – Em Busca da Fama já começa de forma maravilhosa, com Tracy cantando, ao acordar, uma deliciosa canção, uma das melhores do filme, em uma verdadeira declaração de amor à cidade em que vive. Um começo arrebatador, envolvente, com a capacidade de mandar para o espaço o mau humor de qualquer pessoa. E o bom ritmo se mantém. As seqüências musicais, em sua totalidade, funcionam muito bem, até porque as canções são ótimas. A vontade, ao sair da sala com um inevitável sorriso estampado no rosto, é cantarolar as melodias ouvidas durante a projeção. A qualidade incontestável das músicas não deve ser ignorada pela Academia de Hollywood, e Hairspray deve arrancar duas ou três indicações na categoria de melhor canção (ao menos, estou torcendo por isso). Aproveito para citar o nome das músicas pelas quais gostaria que o filme fosse indicado, são elas: “Good Morning Baltimore”, a deliciosa canção que abre o longa, “I Can Hear The Bells”, também cantada pela protagonista, e “I Know Where I’ve Been”, cantada no momento mais emocionante.

Não são só as músicas, apesar de ser este o quesito com chances maiores, que podem render a Hairspray indicações ao Oscar. Direção de arte, responsável por reconstruir a década de 60, maquiagem, com o brilhante trabalho realizado para engordar e “desmasculinizar” John Travolta, que aqui intepreta a mãe obesa de Tracy, e figurino, que acredito ser, depois das canções, a categoria em que Hairspray tem chances mais palpáveis.

O elenco está maravilhoso. As interpretações de todos os envolvidos superam as interpretaçõs dos atores que primeiramente, em 88, deram vida aos personagens. John Travolta não precisa abrir a boca para divertir, mesmo desenvolvendo um papel coadjuvante no filme, o difícil é saber se de ator ou de atriz coadjuvante. Christopher Walken também tem seus momentos ao interpretar o marido de Travolta e, conseqüentemente, o pai de Tracy. E é justamente Nikki Blonsky, a garota que interpreta Tracy, quem brilha, em seu primeiro papel no cinema. Ela é um achado e tanto. Blonsky é espetacular, carismática, e já conquista o público em sua primeira cena. O elenco ainda conta com boas atuações de Michelle Pfeiffer, Queen Latifah, Zac Efron (High School Musical) e de todos os demais coadjuvantes. Será que terá força para ser lembrado pelo SAG (prêmio do Sindicato dos Atores), na categoria melhor trabalho de elenco? Não é impossível.

Cheio de energia, Hairspray é uma comédia-musical que funciona tanto no humor presente nos diálogos, como no humor visual que o personagem de Christopher Walken tanto se utiliza. A parte musical, como disse, é fantástica, sem pirotecnia alguma, lembrando os musicais hollywoodianos mais antigos. Além de tudo, a produção carrega uma forte mensagem social, passada sem nenhum tipo de moralismo. Pelo contrário, a mensagem é transmitida em meio a piadas. O título Hairspray significa laquê, usado pela geração de 60 para construir o penteado da moda. E são esses jovens da geração laquê mostrados no filme que demonstram a alienação da juventude da época, distante dos problemas sociais. Infelizmente, essa questão do preconceito, mais de 40 anos depois, ainda não foi totalmente superada.

Entre as produções americanas de 2007, Hairspray se junta ao hall das melhores, ocupando um lugar ao lado de Zodíaco. Muito do sucesso deve-se ao diretor Adam Shankman, que coreografou as seqüências musicais, arrancou grandes atuações tanto de atores consagrados, como dos mais novos. Conseguiu, enfim, produzir um verdadeiro musical hollywoodiano.

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