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Críticas

Cineplayers

Um herói precisando de ajuda: metade anjo/metade Will Smith.

6,0

No mínimo um caminho diferente, vou ter que admitir. Quando todo mundo pega os super-heróis justamente por aquilo que é mais óbvio neles - o bom mocismo e os uniformes apertados -, os roteiristas Vicent Ngo e Vince Gilligan (que foi do conselho criativo, produtor de vários episódios e também do novo filme da franquia Arquivo X que está prestes a estrear) resolveram pensar num herói cotidiano, um homem de verdade dotado de super poderes e nenhuma polidez. Esse é John Hancock (Will Smith) e é exatamente assim que somos apresentados a ele: num dia qualquer, uma perseguição policial surge na contramão atrapalhando o tráfego enquanto Hancock dorme num banco de rua depois de duas garrafas de... whisky, suponho. Ele é acordado por uma criança que lhe mostra a perseguição transmitida ao vivo numa loja de televisores. Não muito contente, pega outra ‘garrafa de ânimo’, mexe na saia de uma mulher que passa e finalmente sobe aos céus, voando de maneira bem menos elegante que Neo em Matrix.

Paralelo a isso vemos outra cena: um relações públicas bonzinho que tenta vender o seu próprio selo de qualidade a grandes empresas, desde que estas se comprometam a alguma contrapartida social de vulto, como doações de seus próprios produtos a pessoas necessitadas. Seu nome é Ray Embrey (Jason Bateman). E você pode estar pensando "em que parte da história esses dois personagens vão se encontrar?". Pois pense mais um pouco!

Aqui dou uma pista do que levará Embrey e Hancock a mais do que um encontro casual: apesar de livrar a cidade de vários tipinhos asquerosos e malvados, o modus operandi de Hancock é extremamente contestado pela população, já que suas boas ações vêm sempre acompanhadas de muitos prejuízos públicos, destruição e coisas do tipo, numa outra sacada interessante para um filme-de-herói onde costumamos ver batalhas, carros batendo, ruas rachando, prédios queimando, mas afinal, você já pensou em quem é que limpa essa bagunça toda? Neste filme alguém pensou. E nesse conflito a imagem de Hancock acaba filtrada por lentes que o vêem menos como uma dádiva e mais como um grande problema.

Finalizando essas primeiras considerações, o quadro geral que temos sobre esse personagem e seu filme é que ele é um super-herói bêbado e anti-social, que mesmo ajudando sempre comete alguma gafe, e reverte atitudes que poderiam alçá-lo ao patamar de amigo público número 1 em problemas de ordem pública.

Seguindo a ação, Embrey se mete numa confusãozinha e acaba salvo por Hancock, que para ajudá-lo descarrila um trem inteiro, para desespero dos presentes. Dali eles partem para um almoço na casa de Embrey e as cartas se põem na mesa: o que este herói precisa, sem dúvida, é de um relações públicas! Pausa para pensar: outro argumento interessante esse do marketing pessoal de um super-herói, porque quantas vezes você já olhou para as versões da série Batman dirigidas por Tim Burton e ficou realmente irritado quando daquela roupa preta e musculosa saia de dentro quem? Michael Keaton. Ainda bem que Christopher Nolan chegou para pôr as coisas em seus devidos lugares (leia-se: Christian Bale) e salvar a imagem do velho morcego de mais uma gafe.

Daí em diante o filme transcorre naquela seqüência conhecida de erros-acertos, onde o bad boy de bom coração começa a polir as garras, não sem algumas situações engraçadas. Mas acredite: os roteiristas preparam ainda outra surpresa pra nós. Algo que envolve a esposa de Embrey, Mary (Charlize Theron), que desde o primeiro encontro com Hancock disse através do olhar que alguma coisa estava programada para acontecer entre eles. Mas prefiro que vocês descubram o desfecho disso sozinhos, pois dessa sub-trama sai também o desfecho dessa história. Falando ainda da senhorita Theron, um fato engraçado aconteceu durante a sessão, quando em uma cena Mary chega para uma conversa com o protagonista e o crítico sentado ao meu lado esquerdo não conseguiu suprimir o "meu deus" que escapou da boca dele e ecoou na sala inteira. Charlize realmente é sempre bonita, mas nessa cena seu figurino e maquiagem ressaltaram a questão...

De maneira geral o filme não desagrada e até surpreende um pouco, levando a ação por caminhos menos comuns, mas ainda assim sem poder desvencilhar-se totalmente das fórmulas do gênero. Na tentativa de ser um anti-filme sobre um anti-herói, piadas sobre o uniforme que Embrey prepara para Hancock não soaram tão engraçadas como deveriam ser no processo de desmistificação do herói clássico, da mesma maneira que o conflito pessoal que pulula a cabeça do protagonista não se sustenta apenas com uma carinha emburrada de Will Smith, que só me convence quando interpreta o papel dele mesmo, o papel de Will Smith, aquele tipo brigão, marrento e engraçado. No mais, as boas idéias do filme (como a história do Personal Relações Públicas e do anti-heroísmo) são usadas com muita economia deixando ainda para os clichês o papel principal. Enfim, vale como diversão, sem dúvida.

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