Saltar para o conteúdo

Morte Te Dá Parabéns 2, A

(Happy Death Day 2U, 2019)
5,9
Média
67 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Nova sequência sacrifica o horror em nome do humor. E ainda bem!

6,0
A Morte Te Dá Parabéns surgiu em 2017 em meio ao boom de uma nova onda da produtora Blumhouse, quando boa parte de seus filmes mais comerciais eram sequências (como Atividade Paranormal, Sobrenatural e Uma Noite de Crime) e quando Jason Blum passou após um ensaio com A Visita a investir pesado em projetos mais autorais - Fragmentado teve uma das atuações mais elogiadas do ano e Corra! acabaria vencendo o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018. 

Ensanduichado entre esses dois, A Morte Te Dá Parabéns, o "encontro entre Feitiço do Tempo e Pânico", se saiu bem, lucrando US$ 125,5 milhões de dólares sobre um orçamento de quatro e oitocentos em uma história sobre uma colegial eternamente presa no mesmo dia e sendo morta pelo mesmo assassino. Foi mais uma prova do faro de Blum, que entre o "popular" e o "”respeitável" chega em 2018 conseguiu mais êxitos comerciais e críticos como Halloween (sequência direta do clássico de 1978), Vidro (terceiro filme de M. Night Shyamalan pela produtora) e Infiltrado na Klan (vencedor de Cannes e nome forte do Oscar). O céu é o limite, mas um passo de cada vez: e esse parece ser o tom da nova sequência A Morte Te Dá Parabéns 2.

Perseguida por um maníaco com máscara de bebê e lâmina comprida, a jovem Tree Gelbman havia conseguido em 2017 descobrir quem era(m) o(s) seu(s) assassino(s), aprende importantes lições sobre amizade e família e consegue rearrumar sua vida em um filme amalucado que logo que percebe o absurdo da situação (acordar em um laço temporal) tirava sarro disso. Agora, o mesmo parece estar acontecendo com seu colega de faculdade Ryan. Parece, pois logo percebemos que a culpa do que parecia ser um elemento fantástico no filme anterior é, na verdade, científico: um experimento com um reator montado dentro da faculdade que acaba jogando a traumatizada Tree outra vez no multiverso.

O filme de Christopher B. Landon é, com certeza, um derivativo na cara dura do primeiro, mas ao mesmo tempo também o expande. Enquanto o anterior se equilibrava na dinâmica entre o horror e o suspense (um assassino foragido ficava obcecado pela protagonista disfuncional), com um final com algo de pensamento mágico embebido de moralismo (arrume sua vida, aja de maneira racional, saia da prisão temporal), esse já parece um pouco mais seguro de si, já mirando na ficção científica e assumindo ainda mais o tom cômico de filmes de universidade, sem por isso recusar a violência grotesca porém bem-humorada e um dramalhão até que bem trabalhado, quando descobrimos que no multiverso a mãe da protagonista está viva e a mesma fica em dúvida sobre qual realidade pertencer.

Um pouco, digamos, que por ser meio De Volta Para o Futuro (no lado sci-fi juvenil), meio As Patricinhas de Beverly Hills (o questionamento da realidade fútil através de uma construção algo meio soap opera/novela) e meio Deadpool (na falta de medo de usar nojeira como recurso cômico) faz o filme escantear o arco "assassino à solta" e a porção de horror, parecendo ser incluído só para justificar uma sequência e com reviravoltas que acabam estendendo desnecessariamente, pois a matança não é mais o foco, mas sim o dilema de tempo-espaço.

Não é perfeito, longe disso - é uma salada que tem tanto corpos sendo destroçados por risadas quanto cenas melodramáticas com pianinho ao fundo encenado sem autoconsciência nenhuma - mas comparado com o primeiro parece ter maior autoconsciência e por isso mesmo não deixa que o terror vire uma limitação. É mais pirado, mais desgovernado, com muitas idas e vindas que mereciam uma aresta por simplesmente não interessarem - mas também é, inegavelmente, mais divertido.

Após acabar de maneira completamente cínica com o que no final era uma situação calamitosa digna de Além da Imaginação, A Morte Te Dá Parabéns 2 merece talvez ser assistido como uma sessão dupla, pois ele parte dos dispositivos do primeiro (a situação se repetir tanto a ponto de não ser mais assustadora, mas ridícula) para incrementar ainda mais esse jogo de linguagem de que, diferente do filme habitual, agora os personagens sabem de (quase) tudo que o espectador sabe e agora não dependem de "”serem pessoas melhores"e mais do acaso. 

A atriz protagonista, Jessica Rothe, subverte o papel da "final girl" dos slashers revelando uma grande faceta cômica que não só parodia o arquétipo mas o transgride e nunca falha em arrancar risadas com seu gênio progressivamente irritadiço (e rabugento). Caretas, contorções e comentários sarcásticos para nenhum espectador do Saturday Night Live botar defeito.

Difícil dizer o que esperar de um possível terceiro filme (admitido pela cenas pós-créditos) senão um abraço ainda maior da paleta de cores coloridas utilizada de maneira satírica para retratar o mundo elitista e hedonista das fraternidades e sororidades americanas, de mais movimentos de câmera que espertamente emulam o gênero horror para fazer piada com o mesmo e de ainda mais humor politicamente incorreto sobre corpos se despedaçando de maneira inconsequente. Talvez não seja nada disso que um fã da Blumhouse queira, mas é admirável o tanto que Landon, mesmo que pecando pelo excesso, tenta fazer um filme que se fie pela ação e não pelo gênero ou tom. Um suspiro de criatividade, ainda que nunca uma lufada ou fôlego.

Comentários (2)

Abdias Terceiro | sexta-feira, 22 de Março de 2019 - 09:06

Então, pensei que seria péssimo, mas não foi.
Divertido e bem situado em relação ao primeiro.

Marcelo Eduardo Marchi | segunda-feira, 02 de Dezembro de 2019 - 20:19

Que sequência digna. Muito espertamente reciclando o primeiro e divertindo-se com isso.

Faça login para comentar.