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Críticas

Cineplayers

Os fãs vão adorar, mas para todos os outros, Harry Potter pode ser um filme confuso e entediante.

5,0

A série Harry Potter é a atual menina dos olhos da Warner Bros. Em 2001, o primeiro capítulo, A Pedra Filosofal, arrecadou 975 milhões de dólares no mundo todo, sendo o filme número 1 nas bilheterias daquele ano; este segundo capítulo, A Câmara Secreta, só perde em arrecadação para O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, sendo o filme número 2 nas bilheterias do mundo em 2002. É um investimento de retorno garantido. Deve ganhar mais centenas de milhões nas vendas de DVDs, a partir de maio de 2003. Com o lançamento do novo livro (o quinto!!!), para breve, a febre promete não cessar tão cedo.

O filme ainda conta com a vantagem de não ser apenas um grande sucesso comercial, mas também recebe um enorme apoio da crítica, de maneira geral, que resolveu abraçar a série como se ela fosse referência em termos de filmes infantis nesse novo milênio. É mais ou menos por aí mesmo. As crianças amam os livros e os filmes, e quaisquer bugigangas relacionadas a seus personages e atores. Daniel Radcliffe e Emma Watson, a dupla protagonista de atores, é tão requisitada quanto foi Macaulay Culkin no início da década de 90, com seu mega-sucesso Esqueceram de Mim.

A Câmara Secreta – o filme – (a tradução literal de “Chamber of Secrets” correta seria “A Câmara dos Segredos”) é uma aventura bastante parecida com a do filme original, desde a estrutura do roteiro até mesmo várias cenas, que são incrivelmente parecidas. Como não li nenhum dos livros, não tenho como julgar a qualidade da adaptação, mas, se é como dizem – que o filme é uma translação fiel do livro – percebe-se como a escritora J. K. Rowling é bastante limitada, e está levando seu sucesso pela mega-máquina de fabricar dinheiro chamada marketing. Quando é com crianças (um público bem menos exigente) é tudo ainda mais fácil: basta uma história boba, recheada de elementos fantasiosos como chapéus e pássaros falantes, bandidos pseudo-perigosos (sim, eles em nenhum momento proporcionam algum grande desafio para Harry Potter), e cenas de ação bastante movimentadas, que todos os infantes (e muitos adolescentes) são rapidamente fisgados. Mas tudo bem, afinal o objetivo é entreter, mesmo da forma mais barata possível, certo?

Certo! Mas exigir um roteiro mais palpável, com um toque mais original não é pedir muita coisa. Afinal, Rowling está ganhando milhões de dólares pelo seu trabalho. Por falar em roteiro, acho que dificilmente alguém não está por dentro do que se trata A Câmara Secreta, mas vamos lá: Harry Potter, de volta à casa de seus maldosos pais adotivos, está passando as férias antes de seu segundo ano na escola de feiticeiros. Um elfo doméstico (??!?), Dobby, chega a seu encontro para alertá-lo a não voltar, pois correrá grandes perigos caso o fizer. Logicamente, o alerta de nada serve e logo Potter está de volta a Hogwarts, agora muito mais famoso e adorado do que antes (não só na história), porém suas inimizades com alguns alunos e professores continuam. Não demora muito, e estranhas coisas começam a acontecer, e... ZZZZZZZZZZZZZZZZZZ!!!

Brincadeiras à parte (sei que não era necessário contar o resto da sinopse), o roteirista Steven Kloves criou uma história longa, de ritmo irregular, com muita coisa que serve apenas para diversão visual (o próprio jogo de quadribol, por exemplo, enquanto visualmente espetacular, é um desperdício de tempo para a história). O filme é bastante divertido até sua metade, mas logo começa a ficar redundante, repetitivo (são 161 minutos), e a diversão se transforma em tortura para muitos dos que não estão ambientados com a história e não se identificam com os personagens (leia-se: os não-fãs). A confrontação de Potter com o inimigo do filme, nos minutos finais, é risível, e tem muito pouco clima.

O melhor de A Câmara Secreta, fácil fácil, é a parte técnica. Não é pra menos: foram gastos mais de 100 milhões de dólares (excluindo-se os custos de marketing) para o diretor Chris Columbus (não coincidentemente, o mesmo de Esqueceram de Mim e o do fime original – ele não vai dirigir o terceiro capítulo) poder gastar à vontade com sets, nas locações, e principalmente com efeitos especiais. Esse último requisito demonstrou uma visível evolução em relação ao primeiro filme. Ouso dizer que em muitos momentos, os efeitos encontrados no filme são superiores à boa parte dos efeitos existentes em Star Wars Episódio 2, o que não é pouca coisa. Particularmente, gostei muito do elfo Dobby. Ficou muito realista, e a interação da figura de computação com o mundo real ficou perfeita. A perseguição dentro da partida de quadribol, que embora em termos de roteiro pouco adiciona, é o momento que mais tira o fôlego dentro do filme. São minutos em que você tem a sensação de estar em uma montanha-russa, tamanha a intensidade da cena.

Os atores mirins (agora, quase não mais), principalmente os integrantes do inseparável trio principal, fazem um trabalho apenas regular, mas não dá pra exigir muito de crianças semi-novatas na arte de atuar, com um diretor não muito ousado como Columbus, e um roteiro tão ruim. Macaulay Culkin não teve muito futuro após os mega-sucessos Esqueceram de Mim 1 e 2. Talvez estes tenham melhor sorte, mas vão ter que se esforçar. O negócio de cinema hoje em dia é muito competitivo, e enquanto a indústria gosta de rostinhos bonitos em seus filmes, estes são facilmente (e rapidamente) substituíveis por outros ainda mais bonitos, sem dó. Não são atores ruins, mas é importante que se dê alguma chance para eles em trabalhos que exijam mais. Já os atores adultos fazem um bom trabalho. Com um roteiro fácil, Richard Harris dá um show de simpatia como o mago Dumbledore, neste que foi seu último papel antes de sua morte. Para os próximos filmes (o terceiro já está sendo filmado, e o quarto já foi confirmado), Harris será substituído por Michael Gambon, outro ótimo ator, porém tenho certeza que os fãs vão sentir bastante falta de Harris.

Comparativamente ao filme original, considero esta seqüência um pouco (muito pouco) inferior, principalmente pelo fato de a história ser bastante parecida, e o filme ser ainda mais cansativo que o último. Em termos de filmes infantis, recomendo mais a série Pequenos Espiões. São dois filmes (principalmente o segundo) bastante divertidos e engraçados, feitos com orçamento modesto mas muita criatividade. Estão longe de serem obras-primas, mas tenho certeza que as crianças vão adorar. Isso se os pais conseguirem fazer seus filhos largarem de Potter por alguns instantes... Boa sorte pra tentar!

Comentários (2)

Beatriz R. | quinta-feira, 15 de Dezembro de 2011 - 23:48

Falou tudo!

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