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Críticas

Cineplayers

Conseguiu acertar em muitos aspectos, mas deixou a desejar em vários outros.

7,0

Harry Potter vem obtendo um enorme prestígio no campo literário, graças à sua história imaginativa e especialmente atraente para os jovens, o que transformou inúmeras crianças em ávidas leitoras. Nos últimos anos, o sucesso do menino-bruxo tem sido tão estrondoso que apareceram as inevitáveis adaptações cinematográficas - e Harry Potter transformou-se numa mina de ouro. As primeiras adaptações, lideradas por Chris Colombus, souberam transmitir o espírito do livro e agradaram a muitos leitores. Para o terceiro filme, o núcleo de direção mudou, sendo liderado por Alfonso Cuarón, que prometeu transformar o clima da história em algo mais sombrio, principalmente porque O Prisioneiro de Azkaban, o terceiro livro, é mais carregado.

Em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Sirius Black (Gary Oldman) foge da prisão (a Azkaban do título), e acredita-se que está atrás de Harry (Daniel Radcliffe) para eliminar de vez a família Potter. Afim de que seja assegurada a segurança em Hogwarts, a Escola de Magia e Bruxaria, dementadores (guardiões de Azkaban) são enviados para encontrar o fugitivo. Além de se preocuparem com tudo isso, Harry, Hermione (Emma Watson) e Rony (Rupert Grint) têm que lidar com um novo professor de Defesa Contra Artes das Trevas, visitas a Hogsmeade (uma cidadezinha próxima aos terrenos da escola) e problemas com Bicuço, o animal de estimação de Hagrid (Robbie Coltrane).

Era de se esperar que a atuação do trio de jovens bruxos melhorasse. Daniel Radcliffe desenvolveu suas habilidades consideravelmente, mas Emma Watson e Rupert Grint destacam-se mais em seus papéis. A omissão de personagens menos importantes, como a professora McGonagall e os gêmeos Weasley abriu espaço para melhores atuações e melhor desempenho por parte dos atores mais importantes. E a maioria se sai bem. Outros não agradam tanto, como por exemplo Tom Felton (no papel de Draco Malfoy), que se torna mais insuportável que a própria personagem.

O terceiro filme também traz personagens novas, como os professores Sibila (Emma Thompson) e Lupin (David Thewlis), que se saem bem em seus papéis, mas não passam disso. Aliás, dá-se um grande destaque a Sibila Trelawney neste filme, apenas porque a atriz que a interpreta carrega um nome de boa reputação. Sua atuação, porém, não atinge um nível tão soberbo. A morte de Richard Harris trouxe Michael Gambon para o papel de Dumbledore - embora as semelhanças entre os dois atores sejam muitas, é claramente perceptível a mudança, graças a diferenças (pequenas) nas interpretações.

Pode-se dizer que, mesmo não sendo tão fiel ao livro (houve desvios em relação à história original, no que diz respeito a algumas cenas e aspectos do cenário), o diretor soube capturar a essência da obra literária, o que resultou num trabalho de conteúdo decente, embora haja inúmeras falhas resultantes de idéias mal utilizadas. A introdução e a conclusão do filme deveriam ter sido repensadas, por exemplo, simplesmente por serem horríveis e apresentarem efeitos de última categoria. Algumas cenas são completamente descartáveis, como a do passarinho que voa próximo ao Salgueiro Lutador, e outras poderiam ter sido apresentadas de maneira diferente, como a que envolve a transformação de Tia Guida num balão, um processo demasiado lento que,  simplesmente, é contemplado pelas personagens durante longo tempo.

Tais momentos poderiam ter sido encurtados para que outros fossem mais bem aproveitados, como os de Hogsmeade ou o Quadribol, que foi praticamente extinto. Além do mais, a velocidade com que as informações são reveladas decepciona - mas pensar em um filme de duas horas e meia que revele com decência o mesmo volume de informações que contém O Prisioneiro de Azkaban é difícil.

Estranhamente, embora John Williams tenha composto as músicas do terceiro filme, como fizera nos outros dois, as composições perderam parte de sua magnitude. Algumas são boas, outras são razoáveis e outras simplesmente não deveriam ter sido feitas. A cena em que Harry conjura um patrono para afugentar os dementadores, por exemplo, é acompanhada por uma mistura de sons desagradáveis que não combinam com o momento. Outros efeitos sonoros parecem ter saído diretamente do estúdio de Kenji Kawai, o compositor de Ringu.

Se houve mudanças positivas, tais mudanças certamente dizem respeito ao uso da câmera. A fotografia, mais madura desta vez, captura cenários e paisagens belíssimos, de aparência mais realista e menos fantasiosa. As tomadas aéreas contêm uma harmonia e uma leveza inexistentes nos outros dois filmes da série, esbanjando beleza, principalmente nas cenas em que Harry voa montado em Bicuço.

Enfim, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban acertou em muitos aspectos, sendo considerado por muitos o melhor da série, mas deixou a desejar em vários outros. A decisão de pôr Alfonso Cuarón na cadeira do diretor foi saudável, pois abriu espaço para idéias mais maduras e cenas mais sombrias. De qualquer maneira, sombrios ou não, bem estruturados ou não, amadurecidos ou não, os filmes de Harry Potter continuarão rendendo montanhas de dinheiro - e, atualmente, é isso que conta.

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