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Críticas

Cineplayers

Um filme que chega para consolidar a mistura entre cinema e artes marciais, contrariando todos os clichês do gênero.

8,0

Muitos gêneros cinematográficos são cercados por estereótipos, como os de artes marciais, geralmente vistos e rotulados como aqueles em que lutadores, empunhando espadas adornadas, travam batalhas assustadoras sob a regência de uma coreografia complicada, em detrimento da história e do aprofundamento das personagens.

Sempre há, no entanto, um nome capaz de mudar a visão da maioria. É o que acontece com o diretor Zhang Yimou e seu esforço em legitimar o gênero. O surgimento de produções mais suntuosas do estilo já havia se iniciado com O Tigre e o Dragão, de Ang Lee, mas é com Herói que Zhang Yimou realmente mostra o que se pode extrair do casamento entre artes marciais e cinema.

A história se passa na China pré-unificada, quando todo o território chinês era divido em seis reinos. O rei de Qin, graças a seu ambicioso plano de unificar toda a China, tem sofrido permanentes ameaças de assassinato, entre as quais de Céu (Donnie Yen), Neve Que Voa (Maggie Cheung) e Espada Quebrada (Tonny Leung), três grandes guerreiros de um reino inimigo. Quando o rei de Qin toma conhecimento de que o guerreiro Sem Nome derrotou os outros três, ele o convida ao seu palácio para que discorra do fato.

O enredo do filme desenvolve-se a partir do diálogo entre o rei e Sem Nome, mostrando versões diferentes sobre o modo como o guerreiro conheceu e derrotou Céu, Neve que Voa e Espada Quebrada. À medida que a trama avança, o rei de Qin percebe falhas e possíveis mentiras na história de Sem Nome - e aí entram as versões variadas para a mesma história.

Num filme que não exige grandes interpretações, os atores permitem-se aprofundar um pouco mais as personagens e aplicar ao filme um tom mais dramático. Maggie Cheung, por exemplo, deixa sua personagem tão madura, séria e temível que ela passa a ser a mais respeitável entre os três guerreiros, pelo menos para o público. A história de amor entre Neve Que Voa e Espada Quebrada deixa espaço para que os atores invistam nas cenas de romance e drama, retirando todo o vazio sentimental que o filme possivelmente poderia ter. A sempre presente Zhang Ziyi, que participou de O Tigre e o Dragão e de O Clã das Adagas Voadoras (previsto para estrear no Brasil em abril), realiza um papel secundário, embora tenha também seus momentos mais dramáticos.

Os que procuram veracidade na obra de Zhang Yimou ficarão desapontados, pois é no absurdo e no inverossímil que o diretor encontra brechas para extrapolar e encher os olhos dos espectadores. A produção visual que se vê em Herói é digna de admiração; reflete o perfeccionismo e o esmero tipicamente orientais. A beleza suntuosa tem um pé no exagero, mas não enjoa e empurra o filme adiante, fazendo-o fluir sem cansar os olhos dos que o vêem.

As lutas, o grande atrativo da película, apostam no contraste de cores e nos movimentos perfeitamente coreografados, embalados pela empolgante música de Dun Tan, cujo repertório abusa dos instrumentos típicos para abranger desde as cenas de combate até as cenas mais sérias. Os cenários têm um papel fundamental, porque funcionam de base para a escolha das cores e determinam os movimentos dos combatentes. Incrível é o fato de que as lutas, as cores, os cenários e a música nunca entram em discordância, uma vez que estão sempre em harmonia rigorosa, revelando uma sensibilidade fantástica do diretor e da equipe de produção.

Herói é tudo o que um filme de artes marciais já sonhou em ser: tem boa história, um enredo que se desenvolve de modo criativo, efeitos visuais bem realizados, lutas formidáveis, cenários grandiosos, trilha sonora exótica, atores competentes e uma beleza magnânima, que falta transbordar pelas telas. Além disso, é impecável, equilibrado e de tirar o fôlego. Heróico, enfim.

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