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Highlander 3 - O Feiticeiro

(Highlander III: The Sorcerer, 1994)
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Críticas

Cineplayers

O mefítico feiticeiro provocador

6,0

Highlander 3 - O Feiticeiro (Highlander III: The Sorcerer, 1994). Fonte: Distribuição Entertainment Film DistributorsHighlander 3 - O Feiticeiro. Fonte: Distribuição Entertainment Film Distributors
Mario Van Peebles como o imortal feiticeiro vilanesco Kane

Segue o caminho que deu certo no primeiro filme, inclusive tentando emular parte de sua estrutura aqui e acolá, assim como promulga exercícios de montagem entre set-pieces que relembram o Highlander de 1986. Mostra o highlander (Christopher Lambert) nuns passados, seu futuro antagonista (com enaltecimento de seu poder), e o herói na contemporaneidade pra enfrentar este desafio. Aposta na preservação do que funcionou na primeira fita, já que a segunda fora considerada um desastre – inclusive aqui a intenção não é só esquecê-la somente, mas sim apagá-la da saga.

Ao buscar o passado – nos mais variados flashbacks, que a franquia carrega com tranquilidade – como reavaliador da saga, o filme aqui caça o acerto da segurança. Com direito até a um mestre (um velho arquétipo funcional em aventuras), Nakano (Mako) no esquema Ramirez dos anteriores de Sean Connery. Nosso protagonista quer novos aprendizados para esperar suas contendas, e por isso a trama transcorre sem surpresas, já que tudo é telegrafado desde o início tanto em seu apelo ao filme primogênito quanto às convenções clássicas inatas. Afinal, a pretensão era recuperar um pouco a franquia e fazer alguma grana com isso. Nessa toada, corre poucos riscos e funciona quase como um soft reboot.

O encontro no passado do Highlander com seu novo mestre é regado por uma leve aura de cultura nipônica por sob a perspectiva terceirizada do ocidente. Com Connor MacLeod aprendendo novos truques que servirão à frente, além de um trato com um novo tipo de espada: a katana japonesa. Aproveita-se da entrada feroz da cultura japonesa entre filmes, mangás, animes e outras fontes, sob reiterados moldes ocidentais, algo que usual já estava desde os anos 80. Nada mais que um verniz esperto para tentar diferenciar o material e aproveitar uma onda ainda em pauta. Mas é só isso mesmo. Verniz.  

Highlander 3 - O Feiticeiro (Highlander III: The Sorcerer, 1994). Fonte: Distribuição Entertainment Film Distributors
Highlander 3 - O Feiticeiro. Fonte: Distribuição Entertainment Film Distributors
Mako, representando a cabeça do mestre feiticeiro oriental Nakano.

A fita propriamente dita, tem um treinamento e combate inicial onde o vilão da vez Kane – Mario Van Peebles sinistramente canastrão e divertido em iguais proporções, mas a média é para cima –, fica preso numa caverna após uma luta amaldiçoada com Nakano e dorme por séculos, acordando porque uma empresa ao criar uma usina experimental (sabe-se lá do que) faz escavações arqueológicas sobre a tal caverna 400 anos depois dos acontecimentos com Kane, Highlander (que escapara) e Nakano, e, assim, acaba por despertar Kane e seus asseclas imortais. A criatura mefítica, como matara o mestre japonês e absorvera seus poderes mágicos, agora é um feiticeiro anti-morte própria, e já acorda putaço e querendo propor na marra o lema clássico do “só pode haver um”. Kane já mata um brother seu por conta do lema citado, que não faz sentido já que ele poderia ter matado esse maluco faz tempo. Mas foda-se. Esses filmes não querem nem saber de plausibilidade, e muito por isso possuem esse charme de discernimento avulso.

E é bom salientar que tem um excerto que perpassa pela revolução francesa. Só pra condensar MacLeod tendo com um novo interesse romântico, numa mulher que se parecerá com uma arqueóloga (Deborah Kara Unger) a investigar seu caso no presente de 1994. E loira de novo (além dessa repetição, há também o repeteco da mulher como acessório e interesse amoroso do herói apenas, mas era comum nesse tipo de material). É uma subtrama imbecil envolvendo este romance que justifica uma coincidência das personagens femininas serem fisicamente parecidas. E o que mais? Nada. É só pra compor. E meter umas cenas de sexo de MacLeod com estas mulheres. Bem à afeição daquele tipo de cinema. E ainda é incluso um filho do Highlander na jogada, para que sirva de ardil num sequestro de Kane. São personagens que servem somente como satélites sem muita graça que circundam MacLeod e Kane. Este último parece ser a melhor criação da obra. Onde a galhofa daquilo tudo é bem ajambrada nessa figura exagerada de Kane, que lembra o vilão original de 1986, o cavaleiro/punk milenar Kurgan (Clancy Brown), mas o feiticeiro tem uma personalidade mais calcada num humor desconjuntado para a urgência aqui tentada. Este tipo de desconexão me agrada bastante. É um tipo de referencial que era opção em vários projetos tanto daquela década quanto da anterior, e é de assaz tesão observar este tipo de abuso de 30 anos atrás, em meio ao cinema mainstream ocidental que nos acomete em 2024 e afins, que tem diversas pegadas, mas teima demais em tentativas dum descomedimento de verossimilhança (essa sim é um exorbitância que enche o saco) comparativa com o real, que soam como farsas sem lá muita graça. A mensagem do excesso diverte, quebra expectativas, rompe com o comum. A olhares não tão treinados com fitas desta estirpe (até naquelas não tão sagazes, como esta própria), a coisa pode se propor ainda mais interessante. Desde que o leque de abertura para novas experiências esteja bem aberto. Mas isso é só uma citação torta de um suposto microcosmo dentro de um gênero e numa saga de quase quarenta anos. Existem experimentos outros, mas fica aqui a tergiversação minha.

Highlander 3 - O Feiticeiro (Highlander III: The Sorcerer, 1994). Fonte: Distribuição Entertainment Film Distributors
Highlander 3 - O Feiticeiro. Fonte: Distribuição Entertainment Film Distributors
O eterno Highlander Christopher Lambert

Já que era pra usar dalguns pormenores e similaridades do primevo material, a escolha pelo diretor segue caminho apropriado, já que como o sujeito responsável pelas obras anteriores Russell Mulcahy, a batuta do comando ficara para outro cara dos videoclipes, Andrew Morahan. Este escolhe um ritmo quebrado, ora contemplativo, ora entrecortado na ação. Combina. Já que desarranjo e irregularidade é o que encaixa com estes filmes. Não admira tanto com a fotografia bem trabalhada a seu modo quanto o primeiro (e o segundo malucão até) fazia. Esquema de luzes que examina aqui e ali a relembrar momentos dos anteriores. Inclusive com uma cena de luta entre adversários que rememora a luta final do primeiro pelo azulado da paleta cores. Com a montagem interagindo entre os tempos narrados e passagens de cena a cena montando os cortes e atravessando eras imitando o que o original já faziam bem. Aqui em mais uma idiossincrasia que visa manter-se como coisa própria também dessa franquia. A imagem aprecia MacLeod enquanto paladino solitário através do tempo (não sozinho claro), e mete aquele tom soturno de brega-melancólico que os anos 90 faziam com força. As lutas então, continuam funcionando mesmo com as coreografias limitadas, neste aqui ouso afirmar que tem algumas das melhores cenas de combate, por mais dessincrônico e herege que possa parecer da minha parte. Seja pelos planos ou pelos usos dos dublês e pela presença de Mario Van Peebles nas lutas.

Essa amálgama fílmica – por vezes imitação, mesmice, barulhenta, brega e avulsa – acaba por ser uma diversão subalternizada pelo tempo, que tenta existir como meio de continuidade de uma saga esquisita que onde antes teve o frescor de uma originalidade mitológica [1 - Highlander – O Guerreiro Imortal (Highlander, 1986)] , e em seguida uma esquizofrenia descontrolada [2 - Highlander II – A Ressurreição (Highlander II: The Quickening, 1991), e na terceira investida tentava sobreviver de recauchutes e abusos em limites aceitáveis dentro de uma verossimilitude (com ressalvas) interna. Funciona como elemento de curiosidade mediante um cinema que era um pouco mais desavergonhado com suas fórmulas. Um produto que aquela década não só permitia, mas ensejava e que deixa saudades para os mais desajustados.

Highlander 3 - O Feiticeiro (Highlander III: The Sorcerer, 1994). Fonte: Distribuição Entertainment Film Distributors
Highlander 3 - O Feiticeiro. Fonte: Distribuição Entertainment Film Distributors.
O imortal Kane e seus capangas #2 (Jean-Pierre Perusse) e #1 (Raoul Max Trujillo).

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