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Críticas

Cineplayers

Uma infeliz curva descendente.

7,0

Como meu amigo Rodrigo Cunha já escrevera sobre o fechamento da trilogia O Hobbit, havia decidido que a apreciação dele para com o filme - que o coloca acima do segundo capítulo, A Desolação de Smaug - era suficiente para que os leitores do Cineplayers tivessem sua dose final crítica da Terra Média. Afinal, O Senhor dos Anéis e principalmente O Hobbit nunca foram medalhões do grande público no Brasil. Mas tenho um carinho especial por esse mundo, tendo lido praticamente toda a obra de Tolkien, além de algumas obras paralelas, e tendo elogiado MUITO os outros filmes, principalmente os da trilogia original. Este "texto de despedida" não poderia ficar de fora, embora sua intenções sejam humildes e informais.

Devaneios deixados para trás, a impressão ao final de "A Batalha dos Cinco Exércitos" resultou, confesso, em uma pontada de decepção. Acredito que foi a primeira nesta nova trilogia. Era, de certa forma, um risco calculado da produção, da New Line e do próprio diretor Peter Jackson. Ao dividir um livro de relativamente poucas páginas em três filmes, muito teria que ser emendado, enfeitado, inventado. Esse assunto já foi levantado anterioremente, e não há surpresa aqui, não há mistério para desvendar. Temos no terceiro filme um "pacote de ação", que era esperado desde que a trilogia se desenhou e que se consolidou quando os produtores mudaram o nome do filme de "Lá e De Volta Outra Vez" para "A Batalha dos Cinco Exércitos", muito mais simples, direto ao ponto e, principalmente, vendível.

O filme é de uma desorganização imensa, de promessas ou tendências não cumpridas. Acredito veemente (e na realidade torço para isso) que será o filme, de todos os seis dirigidos por Peter Jackson, que mais se beneficiará com a versão estendida (até o momento esse título vai para As Duas Torres), que tão poucas pessoas têm acesso. Beorn, apresentado em A Desolação de Smaug, aparece poucos segundos - POUCOS. SEGUNDOS. A batalha - e a preparação para ela - soa desconexa, inacabada, mal ensaiada. Com uma carga muito menor (embora com maiores desafios geográficos, desta vez) do que a batalha final de O Retorno do Rei, e com lutas paralelas, A Batalha dos Cinco Exércitos raramente atinge níveis de tensão esperados para uma produção desse peso, embora "tensão" e "esperados" sejam conceitos subjetivos.

Aos personagens, falta carisma, emoção, vínculo real com seu público, ainda que, novamente aqui, "carisma", "emoção", e "vínculo real" também sejam conceitos subjetivos. Mas isso é o de menos, a trilogia original entrou para a história e fez aquele imenso sucesso (e conquistou prêmios para cimentá-lo) quase que exclusivamente através de conceitos subjetivos. Por algum motivo irracional, o público aprendera a amar Gandalf, a jornada de Frodo e Sam, aqueles dois mínimos seres enfrentando algo tão gigantesco e que talvez só por conta disso conquistaram seu objetivo. Aliás, provavelmente é a falta de uma jornada paralela menor, que vai além dos exércitos, da bravura exarcebada e discursos ferozes, que O Hobbit diferencia-se da trilogia original. Particularmente, acho a jornada de Frodo e Sam, "pelas beiradas", muito mais romântica (e não no sentido malicioso que o público imaturo lhe deu) e vibrante que os milhares de soldados em campo de batalha.

Agora, engana-se quem coloca esta nova trilogia ou este novo capítulo no mesmo patamar de blockbusters genéricos recentes. E quem o desmerece por ser cinema comercial. No meio da montagem inconsistente, do excesso de computação gráfica e de cenas de ação esperadas, encontram-se alguns dos quadros mais lindos que o amor ao tema ou ao cinema pode proporcionar. Sim, pois ainda há grande paixão na obra de Peter Jackson, apesar do ritmo de piloto automático em vários momentos, que nem mesmo filmes cultuados de grandes artistas conseguem igualar. A direção de arte ainda é um aspecto fenomenal dos filmes baseados em Tolkien e, se houvesse certa justiça nas premiações de início de ano, este terceiro filme da trilogia receberia alguma apreciação.

A Batalha dos Cinco Exércitos apresenta uma continuidade coerente com os dois capítulos anteriores, apenas havia a impressão (ou o desejo) de que a curva emocional seria ascendente, de que personagens pouco explorados até então viveriam seu momento especial. A obra tomou o caminho reverso, a curva foi descendente. Quem faz o filme é o estúdio (neste caso, claro) e seu diretor, e a visão completa dele deverá ser, infelizmente, somente visualizada na versão estendida. Muito pouco e muito tarde, dirão as pessoas, com certa razão. A trilogia "Hobbit" deve crescer com o passar dos anos, ela tem potencial para ser revisitada em home-vídeo em feriados especiais da televisão. É o que resta. É o que resta.

Comentários (13)

Lucas Souza | quarta-feira, 31 de Dezembro de 2014 - 15:11

"Koball se decepcionou com O hobbit? Quem sabe ele agora ele se interesse por cinema de verdade!"


Hehe, achei ofensivo... Posta mais?!!!!!

Mateus da Silva Frota | quarta-feira, 07 de Janeiro de 2015 - 01:06

Quando um filme só vai se tornar o que ele é ou deveria ser em uma versão estendida (o que eu concordo que irá melhora-lo), é uma traição ao público que o assiste no cinemas, e isso não deve ser levado como desculpa pela desorganização e falta de sensibilidade do capítulo final de O Hobbit.

Ted Rafael Araujo Nogueira | quinta-feira, 08 de Janeiro de 2015 - 22:47

Uma batalha intensa, absurda e idiota. Thorin é um imbecil mal construído. Ele morre e todos choram. Fim. Assim termina este grande arremedo de cinema. Barulho sem um conceito mínimo que suportasse metade do que se vê. Besteirada

Além de ter escrito um comentário por aqui, que talvez demore a sair, aqui vai a crítica na íntegra:

http://cinemaapocalypze.blogspot.com.br/2015/01/o-hobbit-batalha-dos-cinco-exercitos.html


Marlon Tolksdorf | segunda-feira, 17 de Outubro de 2016 - 11:58

Só li fatos, Ted. Que personagem babaca. O cara vira um bossal completo, e do nada se redime por causa de flashbacks. Por favor...

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