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Críticas

Cineplayers

Thriller europeu com cara de suspense comercial hollywoodiano. Daqueles bem medíocres.

4,5

A versão europeia deste Os Homens Que Não Amavam as Mulheres chega ao Brasil com refilmagem já agendada nos Estados Unidos. Até aí, nada de novo. Estranho mesmo é imaginar como tornar mais hollywoodiano um filme que, de qualquer ponto que se observe, é absolutamente norte-americanizado, ocidentalizado, obedecendo rigorosamente a um pacote de linguagem visual e narrativa cada vez mais maçante e sem imaginação.

O diretor escolhido para o desafio de readaptar o material é David Fincher, que há alguns anos realizou um dos mais competentes thrillers modernos, e que calha a ser seu melhor filme. Existem fortes traços de Zodíaco nesta adaptação do best seller de Stieg Larsson, livro que conquistou crítica e público na Europa e, agora, na América: presença intensa da montagem paralela, rigidez temporal, sobriedade na cadência e na abordagem da ação, de tom uniforme mesmo nos momentos de maior intensidade. Mas aqui isso tudo é simplesmente um porre.

Não há sequer um momento verdadeiramente interessante em Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, em matéria de cinema. Nem uma cena de destaque, um plano bonito, uma associação elaborada que justifique o excesso de ações paralelas. Nada. Tudo parece co-existir para preservar o material original, torná-lo o mais coerente e facilmente absorvível e – provavelmente - fiel possível. Falta emoção, audácia, falta o sangue correndo nas veias. É como se beijássemos uma bela boneca de cera.

A trama em si é decente, mas isto não é mérito do filme, já que provém do livro. E é aquela velha história: acontece aqui o choque entre mídias, que vertem caminhos distintos de expressão, e que em muitos casos podem – e mais do que isto, compreendendo suas essências, devem - não se cruzar.

Então, se durante uma sequência de acidente automobilístico (uma das principais cenas do filme que, aliás, merece o prêmio Uwe Boll de cena de ação mais insossa do ano), uma das personagens tem suas memórias acessadas para justificar uma reação, acaba que isso pode ficar maravilhoso no livro, que sobrevive muito bem a quebras de progressão, resgates de fatos e transcrições de pensamentos aleatórios durante a ação; mas soa como uma grande bobagem se posta em imagens em um filme.

Bobagens, aliás, é o que parecem também algumas inserções grotescas que canalizam todo grande e real choque do espectador, em especial as passagens envolvendo a garota hacker e seu psiquiatra. Tudo bem, é um filme que resgata a essência do período fascista europeu do início do século passado, o que significa que também trata da crueldade e do sadismo no ser humano e, especialmente, sobre como eles podem surgir em doses cavalares em certas pessoas ou momentos. Mas quando as cenas de maior impacto são ocorrências que sequer possuem ligação com a história que efetivamente coduz no filme, ah, alguma coisa de errado tem – ainda mais por se tratar de um filme estritamente narrativo.

A impressão que dá é de que a polêmica em torno dos temas discutidos parece ser tratada como sendo o suficiente para o sucesso do filme e que, portanto, basta ligar a câmera e correr pra lanchonete bater uma boquinha enquanto o assistente diz pros atores seus limites dentro do quadro – que geralmente é aberto e estático, ou seja, nem como sair dele os coitados teriam como, a não ser com cambalhotas triplas em alta velocidade. Pode impressionar ao público por um ou outro motivo, mesmo que o diretor não faça questão nem mesmo de tonificar as sequências-chave do filme, e no final das contas é um filme de certo apelo comercial e um historinha bem costurada com diversas surpresas e relevações bombásticas, o que deve ser suficiente pra ter algum retorno.

Enfim, se esta versão do livro de Larsson obedece tão fielmente a regra das produções norte-americanas do gênero, ao final de tudo o que fica mesmo é a dúvida de qual será a abordagem dada por Fincher à refilmagem já encomendada por Hollywood. Só o que falta é ele aparecer com uma daquelas emulações toscas de cinema europeu. 

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