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Críticas

Cineplayers

Atestado de inutilidade.

4,0

Certos eventos presentes na refilmagem de A Hora do Espanto (Fright Night, 1985) denunciam a dificuldade de se adaptar uma estória com elementos puramente oitentistas para a década atual. A nítida metamorfose a qual os personagens são submetidos (no que cabe às suas personalidades) revela que um mínimo detalhe pode significar a ruína de toda uma projeção. Não que o filme discutido devesse recorrer a todo instante à fita original, mas algumas das alterações feitas comprometeram claramente o outrora divertido conflito do jovem Charley contra seu vizinho vampiro.

Se algumas produções recentes de Hollywood se valem da nostalgia para atrair o público mais saudosista, o mesmo não pode ser dito deste remake, que parece preocupado apenas na nova roupagem dada à trama principal. O estilo cool que sobrevoa toda a atmosfera mostra até mesmo um certo desapego ao trabalho original. Se o que fazia de Jerry Dandrige, por exemplo, um interessante personagem na obra de 1985 era a notoriedade de sua elegância e cavalheirismo, esses elementos são abandonados pela nova personalidade do vampiro antagonista, vivido por Colin Farrell, que exagera no estereótipo do galã rude e misterioso. O mesmo se aplica ao arruinado Peter Vincent, a mais divertida criação da trama, que ganha aqui uma versão jovem, caricatural e muito menos irônica nas mãos de David Tennant.

Comparar as refilmagens com os projetos originais é algo complicado, e até mesmo injusto, uma vez que há o costume de avaliá-las sobre as fórmulas impostas por suas “matérias-primas”. Contudo, é necessário se fazer um paralelo entre os dois filmes, para que possamos compreender o quão danificada foi a estória principal com essa transição de décadas. Enquanto nos convencíamos dos empecilhos que barravam o casal de namorados Charley e Amy de terem sua primeira relação, aqui o conflito se mostra completamente artificial, por não haver qualquer harmonia entre a dupla de atores. O fator da ‘ingenuidade’ também pesa consideravelmente para o fracasso da interação dos novos intérpretes; de uma simples garota que só pretendia se entregar para realizar - e não decepcionar - os desejos de seu namorado, Amy se transforma no clichê da moça ambicionada por todos, que acabou por amar justamente o garoto diferente dos demais.

Embora a narrativa possua um ritmo dinâmico, as situações parecem acontecer com uma rapidez desnecessária, desde o primeiro sinal que revela a índole do novo vizinho até a morte de um determinado personagem. Essas tentativas de se afastar o máximo possível das fórmulas estabelecidas pelo outro trabalho acabam por atropelar toda a trama, dos eventos à apresentação dos personagens. O núcleo da amizade apresentado aqui jamais ganha uma representação memorável com o ex-trio de companheiros que foram desunidos por conta da total mudança de personalidade de um deles; tal camaradagem somente é refletida através de uma mera e rápida cena. É fato que no clássico não havia um companheirismo forte entre o protagonista e seu colega Ed, e eis que surge a oportunidade de se construir um elo mais poderoso entre os personagens nessa refilmagem, embora tal ensejo não seja aproveitado, principalmente pelo roteiro que não se dá conta do quão promissor é seu argumento.

A frustração não reside somente na desnecessidade de sua existência (razão essa que faz muitos espectadores torcerem o nariz, até mesmo antes de uma visita à obra), mas em sua incapacidade de realizar um trabalho digno com o material que possuia em mãos. Toda a projeção é delimitada a uma sessão meramente passageira e descompromissada, de interesses plenamente burocráticos e pouco conectada à análise do universo adolescente. Essas definições servem para compreender que muito antes de falhar em sua condição de refilmagem, A Hora do Espanto (Fright Night, 2011) erra primeiramente como obra individual.

Comentários (18)

Lucas Correia de Souza Portela | sexta-feira, 14 de Outubro de 2011 - 22:12

Crítica cheia de saudosismos preconceituosos. O filme cumpre bem o papel do gênero terrir, entretendo da maneira que se propôs desde a concepção. Acho que você levou a sério demais, um filme que deve ser visto como uma brincadeira.
Tem algumas falhas, claro, mas é muito bom!

Alexandre Cavalcante | domingo, 16 de Outubro de 2011 - 11:23

Acredito que a maior falha do remake não é tanto a falta de fidelidade ao original, mas em não cumprir bem a proposta inicial. Convenhamos, não é um trabalhão adaptar um roteiro tão cômico e trash quanto à Hora do Espanto (1985). O problema ficou apenas nas limitações, o filme era da Disney.
Considero horrível um longa descompromissado como A Hora do Espanto ir parar nas mãos de uma produtora tão limitada, afinal não pode haver muitas referências ao sexo e nem muito sangue (aquilo tudo do remake era CGI).
A proposta do original era apenas ser DIVERTIDO (qual é? o cara colocou os binóculos para ver a mulher que o vizinho pegava e não porque estava preocupado). Tá legal que há pessoas que odeiam entretenimento besta, mas o filme de 1985 era assim, só que fez uma espécie de "gato" para atrair os cinéfilos usando crítica ao cinema atual. Essa metalinguagem deu muito certo recentemente em Pânico 4 (mais um motivo para colocarem neste remake).
Não estou dizendo que o remake ficou uma merda. Ao contrário, está divertido. Só que decepciona porque tinha TUDO para acabar com os filmes recentes, bastava um investimento mais confiável por parte das produtoras e um diretor que não estava nem aí para o original.
A impressão que temos o tempo todo é que o diretor do remake estava com um medo imenso de arriscar qualquer coisa. Pensem bem: a violência nunca chega ao ponto de ser cruel, as cenas de sexo nunca chegam a ir além de comentários ou piadinhas das personagens e as mudanças nas personalidades deles parece sofrer muito para não fazer algo semenhante demais ao original.

Enfim: divertido, mas bem esquecível.

J. Carlos F. Dos Santos | terça-feira, 18 de Outubro de 2011 - 13:22

Só de ver Vampiros sanguinários... Temendo o sol, já vale a pena! Um triller de ação, com uma ou duas cenas de horror.

Cristian Oliveira Bruno | quinta-feira, 28 de Novembro de 2013 - 13:54

Quem não viu o original, pode até se divertir, mas quem conhece o de 85 vai achar ruim. Eu pelo menos não gostei.

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