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Críticas

Cineplayers

Um filme que entrelaça a história de 3 mulheres em um drama pesado, comovente e cheio de conteúdo.

7,0

Indo ao cinema sem compromisso algum para assistir mais uma vez (pela quarta!) a obra de Scorsese, Gangues de Nova York (não por ser uma obra-prima, é um bom filme, mas, no caso, iria mais uma vez por falta de opção mesmo), me surpreendo e me deparo com o cartaz de As Horas. A primeira vista, pensei que o filme estivesse em pré-estréia ou algo parecido, entretanto, engano meu, o filme realmente havia estreado em todo país.

As Horas é, junto com Gangues de Nova York, Chicago e O Pianista, um dos fortes favoritos ao Oscar de Melhor Filme de 2002. O filme recebeu diversos elogios e foi bastante premiado ao longo de sua passagem pelo cenário internacional. Entre seus prêmios mais importantes recebidos, As Horas coletou estatuetas importantes como o BAFTA (o Oscar Britânico) de melhor filme, o Urso de Prata para suas 3 atrizes principais e o Globo de Ouro por melhor filme dramático e melhor atriz para Nicole Kidman. Ao Oscar de 2003, As Horas recebeu nove indicações, entre elas, a de melhor filme, diretor, edição, atriz, atriz coadjuvante, ator coadjuvante e maquiagem. Mas será que As Horas realmente merece tantos elogios e prêmios assim? Depende... O filme acerta em alguns pontos, é confuso em outros e, como toda obra, também erra...

As Horas conta a história de uma escritora. Em 1929, Virginia Woolf (Nicole Kidman, de Moulin Rouge! O Amor em Vermelho, Os Outros) está começando a escrever seu livro, "Mrs. Dalloway", sob os cuidados de seus médicos e familiares. Em 1951, Laura Brown (Julianne Moore) está preparando algo para o aniversário de seu marido, entretanto, encontra-se ocupada, pois está lendo o livro escrito por Virginia, o mesmo "Mrs. Dalloway". Em 2001, Clarissa Vaughn (Meryl Streep, de Música do Coração) está preparando uma festa para seu melhor amigo, um famoso autor que está morrendo de AIDS. Sendo tomada em apenas um dia, todas as três histórias estão interligadas com o livro mencionado: uma personagem está escrevendo-o, outra está lendo e outra está vivendo a história, respectivamente.

O elenco de As Horas é excepcional, vemos em cena grandes nomes como Nicole Kidman, Meryl Streep, Julianne Moore, Ed Harris, Toni Collette (todos esses já premiados ou indicados a uma premiação por suas atuações em As Horas), Claire Danes (Mod Squad) e John C. Reilly (Gangues de Nova York). Entretanto, nesse mar de estrelas, três nomes se destacam: Nicole Kidman, Julianne Moore e Ed Harris. Kidman está praticamente irreconhecível no papel da escritora Virginia Woolf; o trabalho técnico do pessoal encarregado da maquiagem de As Horas está fora de série, algo primoroso sem sombra de dúvidas.

Mas a atriz não fica apenas na superficialidade de uma personagem bem modelada não, Kidman a incorpora muito bem, suas ações e diálogos são passagens muito bem transcritas, principalmente seus pensamentos e frases no final do filme. Moore está perfeita no papel de Laura Brown, a personagem que lê o livro de Woolf. Julianne sempre foi uma atriz trabalhadora que fez (e ainda faz) os mais diversos papéis que você possa imaginar nas telas de todo o mundo. Você pode não se lembrar muito dela, mas Moore já atuou em filmes como Fim de Caso, Hannibal, Chegadas e Partidas, Evolução e o ainda inédito no Brasil e elogiadíssimo Longe do Paraíso. As expressões que a personagem de Moore aparenta ter, seu choque ao ler o livro de Woolf e seus sentimentos perante o filho, o marido são tocantes. Também achei que das três, a cena de beijo entre ela e Toni Collette (Kitty) fora a mais real e convincente.

Ed Harris faz o papel de Richard Brown, um grande escritor de sua época, portador do vírus da AIDS, que está sob os cuidados de Laura Brown (Meryl Streep). Ambos protagonizam a parte em que os personagens "vivem" a história de Virgínia Woolf. Infelizmente, aqui encontrei extremos opostos:  enquanto Harris está sólido e conciso em seu papel, Meryl Streep parece estar em uma corda bamba, protagonizando algumas passagens boas e outras extremamente monótonas, principalmente nas cenas em que ela não contracena com Ed Harris. Seus diálogos são um porre (chatos mesmos, até para quem curte um bom drama)!

A direção de Stephen Daldry, que já havia protagonizado Billy Elliot, decide por não ir muito a fundo na história e na vida da escritora. Os méritos aqui realmente, neste filme, vão para as atuações individuais, o roteiro, a maquiagem e a edição. Por falar na edição, ela pode acabar saindo como um formador de opiniões a respeito do filme. Confesso que quando saí da sala com alguns colegas, ainda estávamos cheios de dúvidas, perguntas, enfim... Quando cheguei em casa, fui aos poucos juntando as peças desse quebra cabeça. A edição serve tanto para impressionar o público quanto para manter o clima interligado entre as três histórias durante todo o filme, mas poderia ter sido realizada, também, de forma mais simples, onde proporcionasse um entendimento imediato ao publico, porque muitos saíram com aquela "cara" do cinema que denunciavam que  estavam sabendo menos do que quando entraram...

Apenas finalizando, vale a pena relembrar a qualidade absurda dos efeitos da maquiagem nesse filme. Nicole Kidman chama bem mais atenção do que Russel Crowe e Jennifer Connelly juntos (a nível de comparação) nos minutos finais de Uma Mente Brilhante. Um trabalho realmente fascinante (ou nem tanto) no rosto da atriz, uma vez que destruíram um dos mais belos rostos do cinema internacional.

Se você estiver com a mente relaxada (sim, você irá precisar dela durante a projeção) e bem disposto a encarar esse drama biográfico da escritora Virgínia Woolf dirigido por Stephen Daldry, recomendo este filme a você, caro leitor, que provavelmente sairá da sala satisfeito com a edição do filme. Agora se você está em busca de algo que o divirta (o famoso filme-pipoca) e caso não aprecie um bom drama, prefira assistir novamente um outro filme que você tenha gostado muito.

Comentários (3)

Eduardo Laviano | sexta-feira, 02 de Março de 2012 - 22:29

É o meu filme favorito. Adorei o texto!
😉

Flavia Cristina | sábado, 01 de Março de 2014 - 00:56

é um filme muito difícil de se acompanhar hoje em dia em que tudo são efeitos visuais. Intimista ao extremo, um drama melancólico e o elenco é um dos melhores de todos os tempos. Julianne Moore está per-fei-ta!!!! Até hoje não entendo o porquê dela ter perdido pra Catherine Zeta-Jones. Vale as 2 horas deste ótimo filme reflexivo sobre a alma feminina e a protagonista não poderia ser outra mesma, além de Virginia Wolf. Maravilhoso!

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