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Críticas

Cineplayers

Cães dão banho nos humanos e roubam as cenas em filme limitadíssimo.

3,0

Filmes com cães ou sobre cães representam um nicho de mercado que quase sempre tem um público garantido: as crianças e/ou os apaixonados por esses animais. Porém, ao contrário do recente sucesso Marley e Eu, voltado aos apaixonados pelos animais, o foco de Um Hotel Bom pra Cachorro é o conjunto de piadas visuais, que miram nas crianças. Dono de idéias limitadíssimas – que caberiam perfeitamente entre os filmes das matinês da televisão aberta – o roteiro, baseado em um livro de Lois Duncan, é uma bagunça enorme e pode mesmo ser considerado uma afronta a qualquer espectador com mais de 12 anos de idade. E o que é pior: isso tudo é complementado com algumas das piores atuações do ano, desde já, tanto do núcleo infantil quanto dos adultos.

A historinha é fundamentada em um sem número de estereótipos e clichês. Fala sobre dois irmãos órfãos, Andi e Bruce, que não conseguem parar em um lar fixo por muito tempo porque estão sempre aprontando. Eles têm um cachorro – Sexta-Feira é seu nome – mas o mantém escondido de seus atuais pais adotivos, dois candidatos a roqueiros ignóbeis que têm tudo a oferecer às crianças, menos amor. Entre diversas confusões, acabam montando um hotel para cachorros em um prédio abandonado nas vizinhanças, com a ajuda de outros jovens limpinhos e de boa aparência, Mark, Heather e Dave. Seu maior desafio é dar conta de dezenas de cachorros enquanto tentam manter o lugar escondido dos seus pais e das autoridades.

Filmes como esse parecem se aproveitar do fato de ter como público-alvo as crianças para tomar diversas licenças artísticas, e aí é que entra o fato da obra ser uma ofensa à inteligência de espectadores crescidos. Como um grupo de alguns jovens consegue manter de forma financeira, durante semanas a fio, um hotel com dezenas de cães de todas as raças e tamanhos? E como o órfão Bruce (Jake T. Austin), um geniozinho capaz de criar tantas geringonças aparentemente tão úteis, toma atitudes tão tolas a ponto de fazer com que sempre estejam encrencados? Isso não entrando no ponto da gratuidade de alguns dos personagens, como o gordinho Mark, cuja única utilidade no roteiro é servir como par romântico substituto para Heather, que não teria chance alguma com Dave, este que acaba traçando um elo óbvio com Andi.

Uma grande bagunça, não? Pois é, para tentar agradar ao público pré-adolescente o roteiro joga para vários lados, inclusive o romance juvenil, sempre com resultados superficiais e aborrecidos para quem gosta de um mínimo de coerência e profundidade. E todos esses personagens são caracterizados por atores pífios, na maior parte do tempo. Se dos coadjuvantes o filme pouco exige, o mesmo não se pode dizer da personagem principal, Andi, interpretada por Emma Roberts. A atriz é caricata ao extremo, com expressões forçadas que caberiam muito bem em peças escolares – mas jamais em um filme de verdade. Veja sua falta de naturalidade na cena da festa, por exemplo. E os atores adultos também desempenham atuações sofríveis, basta ver qualquer cena envolvendo o casal feito por Lisa Kudrow (que aqui demonstra realmente estar no fundo do poço) e Kevin Dillon. Mesmo o sempre querido Don Cheadle não consegue engrandecer o filme – atrapalhado pelos textos irritantes que deve declarar.

Dessa forma, o que se salva mesmo, e acaba funcionando como o grande charme do filme, são os próprios cães. Obviamente naturais em cena, e com bons treinadores por trás (basta imaginar a dificuldade em manter literalmente dezenas de animais juntos na mesma cena), há representantes de todas as raças (embora seria muito mais lógico existir a predominância de vira-latas vagando pelas ruas; mas esta é uma licença artística desculpável), e há cenas muito divertidas envolvendo todos os cachorros. Certamente os fãs dos caninos não terão do que reclamar, e não seria injusto dizer que a maior parte do bom sucesso que o filme já fez deve-se a eles. Entre o roteiro fragilíssimo e as interpretações desastrosas, eles são o único motivo pelo qual Um Hotel Bom pra Cachorro pode ser recomendado. De qualquer forma, o filme pode muito bem ser visto somente no formato caseiro, sem nenhuma perda.

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