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Críticas

Cineplayers

A festa de 118 anos da filha do príncipe das trevas.

6,0

O príncipe das trevas está de volta às telonas e traz consigo uma leva de monstros famosos que apavoraram na literatura, no cinema e em crenças populares. O conde Drácula surge diferente, caricato como naturalmente teria de ser para uma animação direcionada ao público infantil, e pouquíssimo amedrontador, exceto por algumas cenas em que sua face se esbraseia na tela quando algo o aborrece. Aí sim, um lapso de sua representação enquanto ameaça para o mundo, mas apenas por alguns segundos. Essa versão do mais famoso vampiro está bem distante do original escrito por Bram Stoker, mas ao menos não ofende seu mito como outras produções recentes andam fazendo. 

Propenso a abarcar crianças e adultos, as animações vem investindo alto para faturar alguns milhões. Enquanto a criatividade vem caindo, a técnica segue o caminho oposto, com os estúdios cada vez mais buscando inovações e perfeições visuais. É o mínimo esperado. As histórias já não possuem tanto brilho, raramente alguma empolga e traz alguma reflexão original. A carência vem deturpando até grandes estúdios como a PIXAR, que desde o esplêndido Toy Story 3 (idem, 2010) vem escorregando, o que nos leva a questionar quais as reais intenções dos projetos e quais caminhos esses estão trilhando. Hotel Transilvânia (Hotel Transylvania, 2012) é produzido pela Sony Pictures Animation e tem produção executiva de Adam Sandler, o que, talvez, tenha impedido seu diretor de explorar outros rumos, tais como fez com seus trabalhos para a Cartoon Network.

Genndy Tartakovsky de "O Laboratório de Dexter”, “Meninas Super-Poderosas” e dos curtas “Star Wars - Clone Wars” é quem assumiu a direção dessa empreitada com um terreno fértil para o diretor explorar um pouco de seu estilo na telona. Visivelmente podado, o cara até busca alguns traços marcantes de seus projetos em 2D e se arrisca na tridimensionalidade de maneira amadora, e ainda estiliza seus personagens sem grande vivacidade, embora sejam suficientemente expressivos. Ao seu favor estão adaptações de monstros já conhecidos, o que permite brincadeiras e piadas óbvias sobre esses, especialmente Frankenstein despedaçado, ou o lobisomem com sua indomável matilha. Há ainda reciclagens de ideias, como um momento em que um animal fica com os olhos marejados, igualmente à icônica cena do Gato de Botas em Shrek (idem, 2001).

Várias criaturas se reúnem anualmente no castelo do conde Drácula, que funciona como um resort gótico, um lugar construído para abrigar os monstros que são desprezados pela humanidade. Nesse contexto, há uma inversão do conceito do bem e do mal. Os humanos, afinal, são quem segregam. Os monstros como minoria aparecem enquanto vítimas constantes em esquiva através dos séculos. Temendo pela filha Mavis, o anfitrião decide mantê-la presa dentro do castelo, impossibilitando-a de vivenciar os prazeres do mundo e conhecer os humanos, temeroso quanto à repetição de fatos sucedidos em sua vida há décadas. No aniversário de 118 anos da vampira, idade que ela atinge sua maioridade, ela consegue a aprovação do pai para atravessar os portões e ir até uma vila próxima interagir com os habitantes. Algo, no entanto, está tramado.

Animações sombrias estão em alta nesse segundo semestre, tendo como representantes o divertido ParaNorman (idem, 2012) e a nova empreitada de Tim Burton, Frankenweenie (idem, 2012). O estilo é relevante e bastante amplo, com temáticas fecundas aliadas ao charme estético. São sempre bem recebidas. O roteiro, infelizmente, tem sido o problema, repetindo-se aqui. Bastante preso à idéia do patriarca com dificuldades em aceitar que a filha saia de casa, a narrativa se desenvolve sobre as peripécias de um pai se virando de todas as formas para impedir que ela sofra com as ameaças do mundo exterior. Se não vai até o problema, o problema, uma hora, chega. E esse vem personificado como um mochileiro aventureiro, o atrapalhado Jonathan, que encontra o castelo e adentra à festa, desesperando Drácula.

Dentre cenas bem divertidas – como a redescoberta do vampiro a respeito de algumas coisas que ele deixou de fazer por medo e os zumbis encenando uma peça – e piadas envolvendo condições físicas de seus personagens, sobretudo com o Homem Invisível e Frankenstein, "Hotel Transilvânia" tem a intenção de brincar com a ideia da super proteção e com o terror proposto pelos monstrengos. Realiza isso bem em alguns pontos, falhando em tantos outros, impondo morais gastas e viabilizando cenas com personagens cantando, semelhante a um episódio de “Glee”. Outro problema é nossa dublagem. Algumas coisas simplesmente perdem a graça com expressões que não fazem qualquer sentido no universo retratado, estando deslocadas culturalmente. Se for possível ignorar isso – não é –, o filme consegue ser melhor aproveitado. Outra festa nesse hotel numa produção futura deverá custar a acontecer.

Comentários (2)

Bernardo D.I. Brum | quinta-feira, 11 de Outubro de 2012 - 04:05

lembrei da animação A Festa do Monstro Maluco (Mad Monster Party, 1967).

Adriano Augusto dos Santos | quinta-feira, 11 de Outubro de 2012 - 08:21

Desde que saiu fiquei interessado.
Não gosto muito desse estilo de desenho,mas ver as criaturas das trevas em animação será divertido.

Mas também só verei quando puder ver no original.

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