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Imperdoáveis, Os

(Unforgiven, 1992)
8,7
Média
843 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Um faroeste diferente do tradicional, que contraria os clichês básicos. Uma obra-prima.

9,0

É engraçado que, anos após de cinema sem o devido reconhecimento da Academia, Clint Eastwood tenha se consagrado com um dos gêneros que lhe lançou no cinema: o western, mais conhecido como o clássico faroeste, que gosto tanto. E logo quando o gênero estava bem fraco, com uma leve retomada com o bacaninha Dança com Lobos, do também ator e diretor Kevin Costner. Só que Eastwood não fez apenas um faroeste qualquer, ele redefiniu algumas características com o seu já considerado clássico Os Imperdoáveis.

Para começo de conversa, o protagonista é um ex-sanguinário assassino chamado William Munny (o próprio Eastwood, em uma de suas melhores interpretações), que vive com o fantasma de seu passado violento, depois de ter sido regenerado pela sua mulher Cláudia. Agora é pai viúvo de dois filhos que tenta, com muito sacrifício, levar uma vida honesta de fazendeiro criador de porcos. Um personagem sofrido, amargurado, com um tratamento psicológico bem diferente de um western tradicional. Quando uma prostituta tem seu rosto retalhado por um homem, as moças juntam suas economias para contratar um assassino e fazer a justiça com suas próprias mãos, já que consideraram o veredicto do xerife (Gene Hackman) injusto. Levado pelo dinheiro, Munny parte em busca dos homens e, em um plano mais trabalhado, de confrontação com o seu passado macabro. Munny decide chamar então seu fiel amigo Ned (Morgan Freeman) para acompanhar-lhe nessa busca. Além dos três grandes nomes já citados (que deram um peso enorme ao filme, sem dúvida, e olha que Hackman recusou o papel, só o aceitou devido a insistência de Eastwood!), temos uma participação de Richard Harris (o mago Dumbledore da série Harry Potter, falecido em 25 de Outubro de 2002), perfeito, como sempre.

Derrubando com o primeiro clichê do western (o bom moço), temos a imagem da mulher trabalhada. Aqui não é uma boa moça dona de casa a protagonista, e sim uma prostituta que vende sem vergonha o seu corpo, toma suas próprias decisões e tudo mais. Usei o singular aqui, mas me refiro a um grupo específico de prostitutas que trabalham em um centro de bilhar. Só que, no mesmo tempo que ele rompe com um classicismo do gênero, desliza em um detalhe: a própria moça retalhada tem o seu psicológico muito pouco trabalhado. Talvez seu maior momento seja quando ela se oferece para Eastwood (onde não direi o que acontece, por motivos óbvios), algo realmente marcante, mas pouco trabalhada durante o filme em si.

O xerife deixa de ser visto como o bom moço para a cidade e é tratado como uma pessoa extremamente vaidosa e egocêntrica, apesar dos princípios básicos e das mesmas atitudes que geralmente toma em outros filmes de faroeste. Aqui é um outro ponto de vista, mudando completamente o seu significado dentro da obra. Gene Hackman faturou um Oscar de ator coadjuvante por sua interpretação neste filme. Outra fuga de clichê foi a sacada da luta entre homens brancos contra homens brancos, deixando o clássico brancos x índios do passado de lado. Não parece lá muito original, porém é um lado extremamente pouco explorado do modo como é apresentado.

Além de ator coadjuvante, Os Imperdoáveis faturou os Oscar de melhor montagem (de Joel Cox), melhor direção (Clint Eastwood) e o tão cobiçado título de melhor filme. Ainda foi indicado para melhor ator (perdendo para Al Pacino em Perfume de Mulher), direção de arte (quem faturou foi Retorno a Howard´s End), fotografia (ficou com Nada é Para Sempre) e roteiro original (Traídos Pelo Desejo foi o vencedor). Sobre esses quesitos, vale citar que a fotografia é simplesmente maravilhosa, pois além de trazer belos cenários (como já era de se esperar em um faroeste), ela traz também algumas novidades, como a melancolia que a chuva transmite (algo raro no gênero). Sobre o roteiro, ele é fantástico, pois além de criar situações extremamente interessantes, a simplicidade nas falas dos personagens representou bem toda a brutalidade escondida por trás daqueles chapéus e barbas mal feitas. O engraçado é que ficou 20 anos rodando de um lado para o outro em Hollywood, sem haver ninguém interessado em filmá-lo.

Quando terminei de assistir a Os Imperdoáveis, tive a certeza de ter visto um clássico. Não é ingênuo, muito pelo contrário, é um tratamento completamente diferente aos personagens em um gênero tão tradicional. É muito diferente de títulos como Rastros de Ódio (outro filme que amo), que vale a pena ser conferido e até mesmo comparado à outros clássicos do western americano. A noite do Oscar de 1993 foi inesquecível para Eastwood, que, finalmente, saiu consagrado da premiação, merecidamente.

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