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Críticas

Cineplayers

Focando na ação e com um elenco renovado, filme não é tão profundo quando o anterior, mas tem boas qualidades.

5,0

A pergunta inevitável que ronda a cabeça de todos: é melhor do que o sonífero exercício de linguagem de Ang Lee? A resposta mais simples, rápida e eficaz para essa pergunta é depende. Depende do quanto de arte você enxergou em Hulk e no quanto de ação vai te satisfazer em O Incrível Hulk. Os produtores, pelo visto, não viram com bons olhos os resultados do filme de 2003 e pareceram querer mostrar que dessa vez a coisa é diferente; mais máscula, viril, bruta (e nerd), inserindo a palavra “incrível” no título. Adoro, com todas as minhas forças, o calmante de Ang Lee, mas vi várias qualidades nesse aqui também – principalmente a de diversão.

Tudo é diferente, a começar pelo resumo da coisa: ao invés de acompanharmos detalhadamente o início de tudo para Bruce Banner (Edward Norton) e seu pesadelo verde, apenas somos introduzidos a sua história através de flashes durante os letreiros iniciais, sem perder tempo em nos contar a origem do personagem. O diretor Louis Leterrier, do recente Carga Explosiva 2, começa seu filme já no Rio de Janeiro, mais precisamente na Favela da Rocinha (as filmagens aconteceram em outra favela, a da Tavares), onde Bruce está escondido enquanto busca uma erva que acredita ter o poder de curar sua “doença”, a radiação gama que percorre o seu sangue, e que o faz se transformar no monstro Hulk. Só que o General Ross (William Hurt), pai da amada de Bruce, Betty Ross (Liv Tyler), consegue encontrá-lo e inicia uma longa jornada para capturá-lo, contando com a ajuda do experiente combatente Emil Blonsky (Tim Roth).

A segunda diferença drástica está no foco: ao invés de um drama, temos um filme de ação ao pé da letra. A todo o momento somos bombardeados por seqüências muito bem feitas de ação, desde a perseguição na favela ao combate final, em plena rua de Nova York. Uma das minhas passagens preferidas é todo o combate na universidade, pois consegue captar a brutalidade do personagem, dar uma dimensão à gravidade da situação e ainda expor o sentimento do monstro pela Dra. Betty Ross.

Mesmo sendo focado na ação, o roteiro consegue balancear bem essas cenas com algumas mais sensíveis, desenvolvendo os personagens e suas motivações, como quando Hulk e Dra. Ross ficam numa caverna para se proteger da chuva, logo após Hulk mostrar irracionalidade ao jogar uma pedra em direção as nuvens que o assustaram com trovões. Não é algo tão desenvolvido como no Hulk anterior, mas dá para entender bem todo o mundo que o rodeia e captar o sentimento dos envolvidos entre uma destruição e outra.

A terceira diferença, obviamente, está no elenco: enquanto Edward Norton pode não parecer uma escolha muito boa para o papel à primeira vista, este se mostra extremamente competente ao longo de toda a produção, em forma e convencendo como o corpo que carrega a maldição verde – e seus pitacos no roteiro, várias vezes reescritos por ele, parecem ter funcionado e facilitado na interpretação do papel. Já Liv Tyler está funcionando no piloto automático, algumas vezes até beirando o insuportável, mas sua química com Norton funciona e isso basta para nos importarmos com o destino do casal. Escorregar para os lados de dizer que ela é linda é chover no molhado, isso todos sabemos e suas imagens comprovam.

Já Tim Roth, que não era visto com bons olhos por Edward Norton e o pessoal da Marvel para o papel do combatente que acaba virando o Abominável, acabou sendo uma boa surpresa. Sua construção funciona em etapas, desde a missão como foco principal até a obsessão por ter oportunidade de lutar de igual para igual com Hulk. William Hurt soa meio fraco perto da importância de seu personagem na trama, enquanto Tim Blake Nelson nos apresenta aquele que provavelmente será um dos próximos inimigos de Hulk, Samuel Sterns. Há também Ty Burrell interpretando o Dr. Samson, atual companheiro da Dra. Ross, outro que deve causar dor de cabeça para Bruce Banner em projetos futuros.

Outra diferença gritante entre o filme de Ang Lee e esse é a concepção digital de Hulk. Enquanto o primeiro partia para um lado mais cartunesco e surreal para dar vida ao personagem, aqui as escolhas são mais “pés no chão”, dentro do mundo criado pelo roteiro. Menos fluorescente e com uma textura mais realista, ajudado pelo avanço tecnológico na área de interagir CGs, Hulk é bastante competente e bem adaptado ao mundo em que vive em seu verde mais escuro. Com relação a sua participação, o momento em que grita “Hulk Smashes” ao mesmo tempo em que soca o chão, lembrando uma partida de fliperama de “Marvel VS Capcom”, fará o fã mais hardcore do herói delirar.

O principal defeito do longa é nos deixar perceber que a produção teve alguns problemas criativos transparecer à tela. Obviamente picotado para caber dentro das exigências da Marvel, do intuito criativo de Norton e do diretor Louis Leterrier, acabamos perdendo muito do filme, em que alguns pontos simplesmente ficaram soltos, sendo apenas subentendidos, mas sem algumas certezas.

Não é profundo como o filme de Ang Lee, mas é divertido o bastante para ter suas próprias qualidades, não deixando de ter conteúdo. O final deixa a desejar, mas pelo menos não nos deu o trabalho de esperar todo o crédito final para inserir uma cena de alguns segundos depois: ela, aqui, acontece antes dos nomes começarem a subir. E a ligação entre seus filmes recentes que a Marvel vem fazendo é empolgante, deixando um futuro promissor para os filmes baseados nas histórias de heróis da empresa.

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