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Críticas

Cineplayers

A espetacularização do banditismo em um assumido filme de superfície.

7,0

Jean-François Richet inicia Inimigo Público nº 1 - Insinto de Morte pedindo permissão para que o filme seja exatamente o que ele é: um filme. É com o letreiro indicando que alguns fatos da história do criminoso Jacques Mesrine podem ser ficcionais que o diretor, sob o respaldo da ironia, dá a tônica para as próximas quase duas horas.

Como se sabe, o personagem central desta história de crime, Jacques Mesrine, é um homem que realmente existiu, um popular gângster francês com algumas peculiaridades que poderiam facilmente ser encaixadas em qualquer filme de ação hollywoodiano. Portanto, em sua transposição do criminoso para as telas de cinema, Richet resolveu prestar a mais genuína das homenagens e fazer desta primeira parte de sua cinebiografia um filme que provavelmente fica muito próximo do que seria idealizado por Mesrine caso um dia fosse fazer uma representação de sua vida no cinema.

Inimigo Público nº 1 promove, em sua essência, a espetacularização do banditismo, o que não é novidade alguma, mas um sopro de ousadia na cada vez mais empobrecida escola de adaptação de vidas e casos reais – algo como o que víamos em filmes como Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese, e voltamos a ver este ano em Inigimos Públicos, grande filme de Michael Mann que acabou empalidecendo este trabalho de Richet por ser bastante superior. Tanto estética quanto tematicamente, Richet opta por construir um filme policial que respeita as convenções de gênero e aposta suas fichas na superficialidade da ação, na tensão e no divertimento que as histórias envolvendo seu protagonista podem gerar. Ao longo das quase duas horas de duração, veremos seu gângster praticar os mais distintos atos criminosos, que vão se intensificando na mesma progressão com a qual seu personagem se deslumbra com a adrenalina proporcionada pelo crime.

É através desta progressão que Richet desenvolve sua narrativa, que exala um enorme prazer pela ação e faz lembrar, em certos momentos, de filmes como Diabolik, de Mario Bava, onde a criminalidade parece ser nada além de uma grande e cartunesca brincadeira. Desde o primeiro crime de Mesrine registrado por Richet, desdobrado de maneira inteligente e astuciosa pelo criminoso, que ao ser pego em flagrante no apartamento que saqueia convence as vítimas de que é o policial encarregado de investigar o caso, existe por trás da ação uma sensação de divertimento e, especialmente, de respeito a esta figura marginal que transforma o filme em uma elegia ao banditismo de um jeito um tanto quanto inusual.

Apesar disto, e mesmo com este grande senso marginal, é um filme distribuído em grandes cinemas e em larga escala, o que garante também alguns pequenos momentos formatados e temáticas que são incluídas como complemento a este filme assumidamente de superfície. Richet pausa sua ação progressiva para mostrar, dentre outras coisas, a concepção da família neste mundo sujo e inescrupuloso, abordando também sua dissolução e a impossibilidade de manter esta instituição ligada aos bons valores católicos funcionando em meio a tanta podridão humana.

Mas nem por isto Inimigo Público nº 1 se torna menos interessante, afinal, a própria desconstrução da família serve como gancho para a descoberta do amor louco que rege a segunda metade do filme - e se é ela, mesmo que indiretamente, a responsável pela inclusão de uma perseguição alucinada numa auto-estrada no Arizona em um momento absolutamente inesperado do filme, não há mesmo do que reclamar.

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