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Críticas

Cineplayers

Um filme restrito que aproveita mal as oportunidades. Se houvesse uma criatividade maior...

3,5

Walt Disney é o nome que lidera as animações ocidentais. Os desenhos da gigante americana encantam crianças do mundo inteiro, e os clássicos sempre serão tidos como referência e maestria em animação. Porém, sabe-se que todo império tem um começo, um auge e um declínio. E a Disney, como o império dos desenhos ocidentais, já iniciou seu processo de morte.

Depois do apenas divertido Lilo & Stitch, a "rainha da animação" ocupou-se com lançamentos horríveis, que vão desde o péssimo Atlantis até Planeta do Tesouro. Irmão Urso, seu título mais recente, não conseguiu escapar dos velhos clichês e de fórmulas básicas, transformando-se em uma película sem conteúdo e de enredo extremamente previsível, capaz de agradar apenas às crianças mais novas (e olhe lá).

Irmão Urso trata, basicamente, do respeito ao próximo e à natureza, de modo geral. Kenai é um adolescente a ponto de receber uma medalha, que contém sua melhor característica e o guiará pelas decisões da vida. Esperando receber algo realmente grandioso, o garoto se decepciona ao ver seu prêmio: o urso do amor. Então, coincidentemente, um urso ataca sua "vila", e ele e mais dois irmãos vão atrás da criatura, matando-a com sucesso. Em meio à balbúrdia, Sitka perece. É aí que Kenai, por obra dos espíritos, transforma-se em um urso, e terá o privilégio de conhecer o outro lado da moeda, enquanto procura a montanha mágica, onde os espíritos devolverão seu corpo original.

O enredo, mesmo sendo absurdamente previsível, apresenta situações interessantes. Koda, o urso menor que Kenai vem a conhecer, ensina-lhe o valor da irmandade, e, no ponto mais interessante da trama, revela sua história - que vem a se cruzar de maneira surpreendente com a de Kenai. É neste momento que o garoto-urso percebe como fora cruel e se arrepende de tudo. É claro, uma música melosa começa a tocar. A trama apresenta poucas personagens, entre elas os dois alces Rutt e Tuke, o núcleo humorístico do filme (teoricamente). Uma menor quantidade de personagens permitiu à Disney trabalhar melhor com os que já havia, para que apresentassem uma história mais sólida. Porém, a única personagem que realmente parece ter sido melhor elaborada foi Koda, o ursinho carente. Os alces Rutt e Tuke, por outro lado, são completamente ocos.

A fórmula que a Disney usa para fazer Irmão Urso é a mesma de sempre, porém mais risível, muito mais ridícula do que as personagens supracitadas. Logo depois do começo do filme, a platéia é presenteada com uma daquelas músicas "adoráveis". Um diálogo porventura acontece, e mais músicas tocam. Então, tudo se repete. Deste modo, seria muito mais fácil ouvir a trilha sonora e ler a sinopse do filme - a experiência seria a mesma que a de ver a película nos cinemas.

Contudo, há de se admitir que a produção visual continua impecável (conquanto apresente uma aparência levemente plástica e reciclável). A computação gráfica parece cada vez mais presente, nos momentos mais sutis (o volitar de pétalas amarelas) e nos mais evidentes (o fluxo de energia espiritual no topo de uma montanha). A movimentação é sutil e fluida, e os efeitos de luz e água tornam-se muito sublimes. O rumor de que a Disney porá um fim à animação 2D pode ser visto com tristeza, uma vez que a era do bom desenho à mão pode vir a sucumbir totalmente.

Irmão Urso, vale lembrar, é um filme com uma proposta diferente - enquanto os últimos desenhos da Disney enfocavam o senso de aventura, este trata basicamente do amor aos irmãos e do respeito aos animais. Por isso mesmo, é uma película mais calma, sem reviravoltas. O problema está no público-alvo do desenho, extremamente restrito: só irão gostar do filme as crianças mais novas, e a Disney perde muito com isso. Procurando Nemo, o mais recente filme da Pixar, por exemplo, é capaz de agradar a qualquer um, usando um humor universal e que atinge a todas as faixas etárias.

Enfim, se a Disney fosse mais esperta, Irmão Urso seria um filme muito menos restrito e mais aproveitável. Se a Disney fosse mais criativa, Irmão Urso seria menos decepcionante. Se Irmão Urso fosse bom, a Disney não seria um caso perdido.

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