Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Um filme com a marca de Terry Gilliam, porém com um roteiro que deixa muito a desejar. Um monstro deformado como cinema.

5,0

Depois de passar por uma pequena Odisséia, a produção de Os Irmãos Grimm achou a luz da sala de projeção somente agora, em 2005. O filme teve várias dificuldades de elenco e problemas de produção. Era para sair originalmente em 2004, mas finalmente aí está: a nova produção de Terry Gilliam. Como passei a gostar de cinema com intensidade depois de 1998, quando Gilliam lançou sua última obra - Medo e Delírio - esta é minha primeira experiência do diretor nos cinemas. E que experiência... estranha!

Nada mais natural vindo de Gilliam. O cara é um psicopata das telas. Seus filmes possuem linguagem e identidade visual própria e, mesmo em um trabalho quase que integralmente comercial como este, apresenta momentos estranhos, bizarros, como poucos diretores podem oferecer. Por isso mesmo seus filmes inferiores são recomendáveis! Este é um deles, infelizmente. Tem problemas sérios para conseguir manter o foco narrativo, que é cansativo - exaustivo seria uma palavra adequada para os últimos 30 minutos - e Gilliam não consegue imprimir também nada de interessante além da sua linguagem visual. A narrativa é ordinária!

O filme brinca com todo o universo das histórias fantásticas que se pode imaginar. São dezenas de referências a contos universalmente conhecidos, que fazem de seu enredo algo explicitamente avacalhado. Os irmãos Grimm são dois charlatões que, utilizando-se de seus conhecimentos sobre essas histórias, e com a ajuda da ignorância do povo, ganham dinheiro fácil simulando bruxas, gigantes e afins, "salvando" os moradores de pequenos vilarejos dessas pragas, criadas por eles mesmos. Isso até o dia em que encontram uma bruxa de verdade: sua covardia transparecerá quando eles são obrigados pelo governo a descobrir o que se passa em outro dos pequenos vilarejos da Alemanha quase medieval.

A direção de Gilliam mostra-se no ponto de seus melhores filmes, como a sua obra-prima maior, Brazil - O Filme. Ângulos distorcidos, cortes confusos - uma grande bagunça que, no final das contas, apresenta-se como uma experiência interessante e diferente, algo que somente diretores como Tim Burton (quando quer) conseguem proporcionar também. A direção de arte exagerada ajuda nessa percepção. Lindíssima, mas obscura e de fotografia nublada, remete ao que as pessoas em geral pensam da Idade Média (a história do filme passa-se, na realidade, no século XIX).

A dupla de protagonistas (durante toda a pré-produção vários atores foram imaginados) formada por Matt Damon e Heath Ledger mostra-se uma escolha no máximo satisfatória. Bons atores eles são (sobretudo Damon), mas seus excessos de maneirismos - com certeza, obrigatoriedade de seus personagens - e tentativas às vezes constrangedoras de serem cômicos trazem resultados dúbios ao centro do elenco. Mas isso já deveria ser previsto em um filme de Gilliam, sempre a maioria de seus personagens são excêntricos. Às vezes, porém, isso acaba sendo mais irritante do que interessante, como foi o caso aqui.

Foram sete anos de intervalo para Gilliam voltar ao cinema. Seu último filme já havia sido irregular (embora muitos o vejam como uma pequena pérola) e novamente agora o diretor não consegue encaixar um filme que dê suporte à sua fama de especial. Por outro lado, sua fama de excêntrico e diferenciado pode continuar na mesma: ele não mudou nem um pouquinho desde lá. Embora seja um filme com ares comerciais de Hollywood, a direção não é nada convencional. Isso é um bom ponto a favor, porém ficou devendo com um roteiro mais interessante, que não se tornasse insuportável e totalmente previsível em seu ato final.

Comentários (0)

Faça login para comentar.