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Críticas

Cineplayers

Dois mundos em desarmonia.

6,0

David Gordon Green, após obras cômicas como Segurando as Pontas (Pinneapple Express, 2008) e Sua Alteza? (Your Highness, 2011), lança em 2013 Joe, cujo personagem-título é interpretado por Nicolas Cage. Um ex-presidiário e chefe de uma equipe de lenhadores que passa seus dias entre bordéis, bares e bosques, Joe tem sua rotina alterada quando conhece Gary, um garoto que acabou de se mudar para a cidade interiorana onde vive e tem uma família problemática graças ao abusivo pai alcoólatra. Um forte sentimento de identificação une o endurecido homem e o obstinado garoto, desenvolvendo uma relação de pai e filho a ser atrapalhada tanto pelo genitor de Gary quanto por Willie, um rival de Joe que vive provocando e trocando agressões com o mesmo.

 

Como já havia demonstrado em Segurando as Pontas, Gordon Green sabe criar uma atmosfera violenta como ninguém. Toda a primeira hora de filme é dedicada a criar um universo em particular, com seus personagens brutais, porém solitários. Em uma estrutura visível e esquemática, não muito diferente dos típicos “buddy movies” onde de miséria surge esperança, Green fez de Joe um personagem carismático, para dizer o mínimo, sendo tão querido quanto temido pela comunidade local devido a um temperamento tão companheiro quanto explosivo.

 

O intérprete de Gary, o ator-mirim em ascensão Tye Sheridan, serve como contraponto; o forasteiro e o estranho, mas também a representação de vida, de energia, que insiste em crescer mesmo que o cenário degradante o impeça. É isso que resume boa parte da construção fílmica de Joe, levado por seus fortes personagens por boa parte do tempo, até o momento que o filme resolve adentrar outro gênero.

 

A tal jornada interna contrasta com os personagens coadjuvantes, que assim como acontecia em Segurando as Pontas – transformando um filme de maconheiro em filme de ação – aqui acontecem de desafiar a relação construída em confronto físico, numa dicotomia algo maniqueísta, algo caricatural; os personagens em contradição, que se esforçam para serem bons e combatem vícios e falhas de caráter com alguma integridade inerente estão de um lado; os perversos e irrecuperáveis estão de outro. Tudo isso acaba parecendo criar dois filmes dentro de um – o drama de superação e o conflito de forças a lá western, onde ambos ocupam um espaço incerto, onde a transição do íntimo para o exterior nem sempre é fluída ou justificada.

 

Isso reforça toda a primeira metade do filme; os conflitos pontuais de Joe com o mundo são filmados em planos demorados, que privilegiam a economia formal, confiando em enquadramentos e movimentos de câmera o efeito de se criar um certo ambiente rústico, esquecido e aprisionado no tempo, ignorado pelo progresso. À medida que relações se intensificam, o filme vai ganhando em cores, luzes e na frequência perceptível de tomadas diurnas; quando os protagonistas encontram-se em problemas, adentram espaços escuros, bagunçados e com câmeras trepidantes. O clímax desenrola-se à noite, longe de tudo, em um palco de condenação ou redenção para seus problemáticos personagens que, à exceção de seu protagonista, tem uma curva pouco clara, já que antes eram basicamente arquetípicos.

 

Tal indecisão sobre qual terreno caminhar torna Joe um tanto distante da precisão de gênero que lançou Green – Segurando as Pontas fazia uma transição sem jamais perder o espírito de piada, e fazia piada sem nunca perder o espírito de estilo necessário – ou de uma clássica medição de forças trabalhada por nomes como John Ford e Howard Hawks, basicamente escultores de algumas das grandes cenas de ação e tensão no cinema, onde a construção de tais elementos é um tanto capenga. O foco espalhado que não necessariamente cria uma subtrama, mas antes uma trama tardia, já que a mesma caminha a passos de tartaruga junto à trama principal. Tivesse se mantido antes à trama de amizade, ainda que padronizada, funcionada do que trazer de volta conflitos pouco explicados para forçosamente terminá-las, o que tornou o filme simplesmente desencontrado.

Comentários (2)

Felipe Ishac | quinta-feira, 10 de Outubro de 2013 - 17:28

Olha, o molequinho do Amor Bandidio

Reno Beserra | quinta-feira, 10 de Outubro de 2013 - 19:08

pensei que era crítica pra mud hehe

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