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Críticas

Cineplayers

A decepção de Diablo Cody e a reafirmação de Charlize Theron.

5,5

Há aproximadamente cinco anos, praticamente da noite para o dia, Hollywood ganhou uma nova estrela. Ao contrário do que usualmente ocorre, não se tratava de uma jovem atriz ou de um cineasta promissor, mas, sim, do caso mais raro de celebridade na terra do cinema: um roteirista. Ou melhor, uma roteirista. Quando Juno (idem, 2007) estreou, Diablo Cody se tornou a bola da vez. A mistura perfeita entre drama e comédia, os personagens adoráveis, os diálogos sempre espirituosos e as constantes referências à cultura pop daquele filme fizeram da escritora a grande estrela do momento, garantindo a ela, inclusive, o Oscar de melhor roteiro logo em seu primeiro trabalho.

Bem, nada como o tempo para colocar tudo nos eixos. Garota Infernal (Jennifer’s Body, 2009), seu segundo filme, foi um verdadeiro desastre cinematográfico, uma produção onde nada funcionava – exceto, talvez, uma cena inesquecível envolvendo Megan Fox e Amanda Seyfried – e que fez de Cody, novamente, apenas mais uma na indústria. Para tentar reconquistar seu lugar ao sol, a roteirista se uniu novamente a Jason Reitman, diretor de Juno, neste Jovens Adultos (Young Adult, 2012), uma nova comédia dramática que, se não chega a ter qualidades suficientes para garantir a Cody a posição de destaque que ela parece ter perdido, ao menos é uma clara evolução em relação ao trabalho anterior.

A escolha, aqui, parece ter sido contar uma história mais pessoal do que as anteriores. Claro que é difícil saber o quanto do que se vê em tela realmente aconteceu com Cody, mas é impossível não associar alguns temas e ideias presentes em Jovens Adultos com o que se conhece da carreira da escritora: além da própria protagonista ser uma autora voltada ao universo mais adolescente, o filme é sobre uma mulher presa ao seu passado, que não consegue se tornar uma adulta completa – uma definição que parece se encaixar a uma roteirista cujos trabalhos anteriores se passam exatamente no ensino médio de uma escola.

No entanto, ao contrário do que ocorria em Juno, aqui parece haver uma certa frieza e uma distância emocional entre os realizadores – Cody e Reitman – e sua protagonista. Não que Mavis Gary não seja bem construída; ela é. Trata-se definitivamente de uma personagem tridimensional, de carne e osso. Na realidade, é admirável a forma e a economia com a qual constroem não apenas a personalidade de Gary, mas também o seu estado emocional: a casa bagunçada (cujo contraste com o organizado quarto de sua adolescência tem muito a dizer), a preferência por fitas cassete e por fast food e o próprio fato de escrever sobre adolescentes já fazem a plateia compreender, sem que quaisquer palavras precisem ser ditas, que se trata de uma mulher que ainda vive a sua adolescência, mesmo perto de completar quarenta anos. É uma composição sutil e eficaz, em uma bela combinação dos trabalhos de direção, roteiro, direção de arte, figurino e, claro, de atuação.

Porém, tanto Cody quanto Reitman parecem não “gostar” da personagem e, de certa forma, têm razão nisso, uma vez que Gary é uma mulher egoísta, insensível e irresponsável. Nada mais difícil para um cineasta e um roteirista do que contar com um protagonista desprezível — especialmente um cujas lamúrias pareçam vazias, por ser uma pessoa bonita e bem-sucedida —, pois este pode despertar o ódio da plateia. Jovens Adultos, indiscutivelmente, sofre com isso. Mavis Gary é, em essência, alguém cujos problemas parecem ser culpa exclusiva de sua mesquinhez e arrogância, o que poderia fazer com que acompanhar a sua jornada fosse um martírio para o espectador. Felizmente, o filme tem uma salvação, e ela atende pelo nome de Charlize Theron.

Desde que deixou de ser apenas mais um rostinho bonito em Hollywood com sua visceral interpretação de uma serial killer em Monster – Desejo Assassino (Monster, 2003), a atriz sul-africana vem tentado mostrar novamente todo o seu talento e encontra em Jovens Adultos o veículo para isso. É de sua atuação que vem toda a vulnerabilidade de Mavis Gary, o sentimento necessário para que a plateia possa se interessar pela personagem. Assim, enquanto Cody constantemente mostra a protagonista agindo como uma verdadeira desgraçada, Theron faz com que todas as ações de Gary transmitam algo de pena, de fragilidade. Quando ela se joga para cima de sua paixão da adolescência, por exemplo, o que se vê não é apenas uma mulher tentando reconquistar seu antigo amado, mas uma pessoa com problemas tentando encontrar a si mesma. Por trás de toda a força e a beleza, é possível enxergar ruínas. Uma interpretação precisa, complexa, repleta de belos momentos e que merecia mais reconhecimento em premiações ano passado.

O mesmo, infelizmente, não pode ser dito do trabalho de Jason Reitman. Após dois bons filmes, o próprio Juno e Amor Sem Escalas (Up in the Air, 2009), o filho do veterano Ivan Reitman parece ter abordado Jovens Adultos com um certo desinteresse, como se conduzisse tudo no piloto automático. Reitman nunca foi virtuoso com a câmera, mas sempre conseguiu transmitir um tom de cinismo em relação à vida ao mesmo tempo em que oferecia um olhar de ternura para os seus personagens – aqui, no entanto, ocorre apenas o primeiro. Sua condução da narrativa é correta, mas distante e sem a construção de momentos que possam ser lembrados após a sessão. Não há, na verdade, qualquer plano com um significado mais profundo do que a literalidade do que se vê na tela, ainda que o cineasta seja capaz de carregar a plateia até o final do filme sem grandes dificuldades.

Vale retornar, aqui, a Diablo Cody, pois não se pode jogar toda a culpa sobre Reitman quando o roteiro que o diretor tem em mãos não colabora. A originalidade que parecia ser o forte da roteirista em seu primeiro trabalho parece ter desaparecido, ou ela simplesmente ficou preguiçosa. Isso porque a estrutura da história em Jovens Adultos, ainda que eficaz, é óbvia, montada de forma comum e sem qualquer espécie de surpresa. Aliás, um exemplo da pouca desenvoltura de Cody neste trabalho é a escassez de citações ao mundo pop, algo que a escritora gosta bastante, mas aqui surgem apenas ocasionalmente – há o nerd fã de Star Wars, uma menção a A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, 1968) e pouco mais. É como se Diablo Cody tivesse usado todas as suas ideias para o primeiro roteiro e feito os trabalhos seguintes por obrigação – ainda que, justiça seja feita, o filme traga algumas boas sacadas, como “mascarar” a narração em off com trechos do livro ou cenas como a que Mavis Gary finge estar digitando uma mensagem no celular para não parecer abandonada em um bar repleto de homens.

Ao contrário do que foi vendido, Jovens Adultos não é uma comédia, mas um drama até bastante depressivo sobre uma mulher realmente perdida em sua própria vida. Surpreendentemente, porém, exceto pela performance de Charlize Theron, é realizado de forma óbvia, sem jamais fugir do esperado. A estrela de Diablo Cody parece ter se apagado cedo demais.

Comentários (5)

Patrick Corrêa | quarta-feira, 11 de Abril de 2012 - 22:43

Adorei o filme, assim como adorei Juno.
Discordo de boa parte da crítica, mas entendo a opinião de Silvio.

Walter Prado | quinta-feira, 12 de Abril de 2012 - 09:02

"A decepçpão de Diablo Cody"

Não sei porque, ela nunca foi nada de mais mesmo...

Paulo Faria Esteves | quinta-feira, 12 de Abril de 2012 - 17:40

Embora goste do primeiro parágrafo (muito curioso ver como se pensava há uns anos!), não concordo...😋

A mistura perfeita entre drama e comédia

Qual mistura perfeita?!🙄

os personagens adoráveis

Quais personagens adoráveis?!🙄

Paula F Morais de Medeiros | sábado, 10 de Janeiro de 2015 - 13:51

Filme maravilhoso. Amo este filme. Charlize Theron está perfeita na pele de Mavis Gary. Acertaram em cheio na escolha da atriz. É sem dúvida um filme dramático, é possível ver isso nas cenas. Prendeu a minha atenção. Entrei naquele filme. Mas ao mesmo tempo existem momentos engraçados na vida da personagem. Não me canso de assistir.😁

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