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Críticas

Cineplayers

Uma boa comédia, cujo principal defeito é se esforçar demais para ser engraçada.

7,0

Para explicar a impressão que ficou durante a projeção de Juno, surgiu uma metáfora: sabe aquela pessoa que se esforça demais para agradar, para ser legal e descolada? E se esforça tanto que acaba por soar forçada, artificial? Essa mesma pessoa, quando age com naturalidade, acaba se revelando muito agradável. É isso que acontece com o filme. Seu pior defeito é o esforço que faz para parecer engraçado quando não é preciso. Isso se dá, sobretudo, na primeira metade, quando a quantidade de piadas fracas e bobas chama a atenção. Depois, com esse desejo de agradar domado, o nível cresce e os momentos cômicos são menos freqüentes e bem mais inteligentes. 

Outro aspecto que contribui para essa sensação de artificialidade é a quantidade de citações (muitas delas perdidas pela tradução ou por falta, para o público brasileiro, do referencial). É o filme querendo se exibir, se mostrar descolado, e padecendo da falta de naturalidade. O que faltou, na verdade, foi saber dosar e conseguir diferenciar o que era necessário à história e o que era exibicionismo intelectual. 

Passando por isso, há muito a elogiar em Juno. Em primeiro lugar, o elenco todo tem ótimo desempenho, com destaque para a protagonista, que passa a quantidade certa de fragilidade e confiança, mostrando-se eficiente nesse meio-termo entre menina e mulher – alguém em busca de saber o que é. A ótima construção dessa personagem se deve, além do texto, ao brilho de Ellen Page. O resto do elenco também merece destaque, e não há macula que se possa encontrar em nenhuma atuação – mesmo a afetada Jennifer Garner funciona no papel que representa.

Essa qualidade dos personagens está diretamente ligada ao roteiro. O texto, que na maior parte do tempo é muito bom, consegue dar vida a tipos simples e humanos. Sem buscar uma análise pretensiosa e definitiva sobre o tema da gravidez na adolescência, o roteiro tem o mérito de mostrar em vez de julgar. Assim, escapa de discussões piegas e lições de moral – armadilhas que estariam prontas caso a história fosse contada por mãos inábeis.

É interessante perceber que os melhores momentos acontecem na segunda metade da projeção, quando o clima de comédia ligeira dá lugar a situações mais dramáticas. São essas que merecem o maior destaque, pois conseguem intensificar as relações entre as pessoas e adensar o conteúdo apresentado.

Há uma passagem em que alguém diz: “Todos os bebês merecem nascer”. Pode-se dizer que nem todos os filmes merecem. Mas, com boas doses de inteligência em algumas cenas e contando uma bela história, Juno faz valer sua geração e, ao contrário de muitas produções que deveriam ter sido abortadas, é digno de ter nascido – apesar do excesso de esforço.

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