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Críticas

Cineplayers

Uma visita ao Japão e um confronto com o passado.

6,0

Com o sucesso estrondoso e inesperado de Karatê Kid - A Hora da Verdade (The Karate Kid, 1984), Hollywood já sabia bem o que fazer: uma seqüência. Continuando de onde o anterior parou, acompanhamos por exatos cinco minutos uma pequena recapitulação do primeiro episódio, culminando no estacionamento de onde houve o torneio, com Miyagi (Pat Morita) e Daniel (Ralph Macchio) sendo obrigados a confrontar o sensei do ‘Cobra Kai Dojo’, que maltrata os seus alunos, furioso com a derrota. Porém, esqueçam essa bobajada toda que acontece, pois o filme não tem nada a ver com isso.

Na verdade, a história é sobre uma viagem que Daniel faz ao Japão acompanhado de Miyagi, que precisa enfrentar uns fantasmas do passado agora que seu pai está doente e a beira da morte. É óbvio que nosso protagonista não terá mais namorada, deixando o caminho livre para novos romances, e que uma nova técnica de karatê será ensinada para que ele supere um desafio maior do que o anterior.

Estruturalmente, o filme é quase o mesmo: aproximação ainda maior entre nossos mocinhos, interesses românticos reapresentados, problemas na nova cidade com os marrentos locais... Só que aqui tudo está mais sombrio, real e perigoso. Há um desenvolvimento maior do personagem de Miyagi, pois sabemos de onde veio, quem o rodeava, suas motivações e suas dores, tudo contado de forma oriental e sentimental. E Daniel não está mais em um torneiozinho qualquer. Seus desafios são reais e podem machucar, até mesmo matar (sua mãe nem chega a aparecer).

A diferença básica está no tempo investido ao karatê. Enquanto no primeiro há realmente uma boa parte de sua duração dedicada ao treinamento, neste a nova (e vital) técnica é apresentada de forma relaxada e corrida demais, o que deixa dúvidas quanto ao sucesso de Daniel – algo bem perigoso para o filme como realização. Este tempo é utilizado mais para apresentar as belezas nipônicas, quase que de um modo Kurosawa pop sem samurais. Sobrou Japão e faltou karatê, pois o filme é basicamente isso, uma apresentação da cultura nipônica quase enciclopédica para os Estados Unidos (até porque todos os japoneses falam inglês, inclusive entre si).

Cometendo o mesmo erro do anterior ao estereotipar vilão e mocinho, a fita só é aceitável mesmo por causa do carisma de sua dupla de protagonistas, que carregam o filme nas costas e nos fazem quase esquecer todos os erros que os rodeiam na construção como cinema. Há muito mais conversa e frases de impacto na sabedoria de Miyagi do que combates em si, que, quando finalmente acontecem, decepcionam pela má coreografia e velocidade com que se concluem. Daniel praticamente só apanha o tempo todo para que, sem treino nenhum, consiga vencer novamente “o melhor lutador do local”.

No fim, Karatê Kid 2 - A Hora da Verdade Continua (The Karate Kid - Part II, 1986) acrescentou muito mais a um personagem em específico (Senhor Miyagi) do que à mitologia da série, que tratada de forma um pouco mais realista, acabou perdendo parte do charme, ainda que tecnicamente continue impecável.

Leia o especial completo sobre a série Karatê Kid!

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