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Críticas

Cineplayers

A tentativa frustrada de um recomeço.

3,0

Fracasso tanto de público quanto de crítica, Karatê Kid 4 – A Nova Aventura  (The Next Karate Kid, 1994) quase nada tem a ver com a série, excetuando a presença do Sr. Miyagi, que agora deve ensinar a uma garota perdida na vida depois da morte dos pais a paz interior do karatê, além de ajudá-la com os tradicionais problemas recorrentes da série com valentões. Sim, nada de Daniel Larusso, e sabe-se lá porque este chama-se Karatê Kid, uma vez que temos uma garota como aprendiz. Enfim, coisas de Hollywood.

Basicamente um Karatê Kid regado à ‘Malhação’, tudo é mais raso, feio e desastrado que na trilogia anterior. Se John G. Avildsen conseguiu transformar uma história simples em algo interessante graças a certa poesia visual e um bom controle das lutas, o mesmo não pode ser dito de Christopher Cain e sua versão teen para a série. Praticamente não há combate, quase tudo é mais feio do que o padrão e até mesmo Miyagi e seus ensinamentos (e comédia) se rendem um pouco à banalidade.

Durante o treinamento, em que ele tenta ensinar do mesmo jeito que fez com Daniel, vê que não dá certo e recorre a outros meios, percebemos como o roteiro é sem sal, fraco como entretenimento. Não é possível sentir evolução em Julie Pierce (Hillary Swank), muito menos acreditar naquilo que estamos vendo quando sua capacidade é colocada à prova. Falando em Swank, se não fosse ela, este filme poderia ser um daqueles spin offs de séries esquecidas no tempo, mais ou menos como essas numerosas e inúteis versões que American Pie vem recebendo ultimamente.

Porém, como Swank ficou famosa, vencedora de Oscar e popular, esta fita será sempre lembrada como um dos primeiros trabalhos da atriz, ainda mais depois de sua participação maiúscula e premiada em outro filme de luta, Menina de Ouro (Million Dollar Baby, 2004). Assim como Daniel, Julie é um símbolo de sua geração, revoltada com o que a cerca, mas uma menina frágil, insegura e cheia de anseios. Cabe ao karatê ajudá-la a colocar as coisas no eixo, e é justamente aí que Miyagi entra.

Como todo filme da série, tem de haver um vilão. E este é tão unidimensional quanto todos que já cumpriram a função na série: o Coronel Dugan (Michael Ironside) e Ned (Michael Cavaliei) são pessoas detestáveis, que adoram serem os sacanas e, com uma posição privilegiada, abusam do poder para fazer absurdos que é difícil de acreditar que qualquer pessoa faria. E, claro, tem de haver também um interesse romântico, que se encontra em Eric (Chris Conrad), um amigo do colégio que não concorda com as coisas que Dugan e sua trupe fazem.

Há dois pólos que merecem ser citados: a escalação de atores e a canção tema. Enquanto a música se demonstra eficientíssima, bonita, terna, como a paz e a concentração que o karatê transmite, os atores são muito velhos, altos e fortes demais para representarem simples colegiais – dá para ver que eles estão completamente destoando da própria proposta e de Swank, mais jovem e magra, realmente parecendo uma aluna.

E se nem a história da série é respeitada na criação (Miyagi sai entrando no quarto de Julie, pede desculpas e diz que "morava com um menino", o que é verdade; porém, nos filmes anteriores, Miyagi não saía invadindo o quarto de Daniel - sempre batia na porta e esperava que ele autorizasse sua entrada), como esperar que acrescente algo à mitologia da série? A auto-paródia já engatinhava no terceiro, mas aqui remete ao máximo da ridicularidade, sem planos bonitos, sem lutas convincentes e muito tempo perdido em besteiras inúteis à história, como um baile ou então machões de um posto de gasolina à beira da estrada.

Depois deste episódio, tinha-se a certeza de que a série estaria esgotada, com os dias contados, restando apenas o que já havia sido feito e a nostalgia para contar história. Até Will Smith resolver refilmar o original, mas isto é papo para outra hora...

Leia o especial completo sobre a série Karatê Kid!

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