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Críticas

Cineplayers

Kick-Ass e o combate ao politicamente correto.

6,5

Matthew Vaughn literalmente chutou bundas para colocar Kick-Ass – Quebrando Tudo no circuito cinematográfico norte-americano. Com um roteiro ousado e politicamente incorreto em mãos o diretor tentou vender seu projeto aos grandes estúdios, mas a resposta era sempre a mesma: o filme só sai se filtrado pela censura que dita as regras das produções de Hollywood. Convencido de que seu filme só faria sentido com a violência, os palavrões e o espírito sacana que previa imprimir resolveu propor a si mesmo o desafio de produzi-lo sem a ajuda financeira dos big bosses, recebendo auxílio de amigos (entre eles o ator Brad Pitt), que financiaram parte do projeto.
 
A briga de Vaughn faz todo sentido. Kick-Ass jamais passaria pelo crivo dos chefões da indústria, não do jeito que chegou aos cinemas. De garotinhas decepando membros de brutamontes e soltando palavrões obscenos a filhos flagrando pais cheirando cocaína, existe uma bela porção de cenas e referências que passam ao largo da definição de cinema comercial existente hoje em Hollywood. É sim o filme de um rebelde, que não abre mão de seu poderio criativo – ou do poderio criativo dos comic books que inspiraram o filme, não interessa – por alguns malotes de dinheiro. E atingir o sucesso comercial desta forma é realmente uma bela conquista.
  
Mas não se descabelem: não há nada de mais em Kick-Ass. O que Vaughn faz é simplesmente refletir sem muitas concessões aquilo que sabidamente é o que seu público alvo, fã de quadrinhos, videogames e filmes de Quentin Tarantino, quer ver no cinema: boas doses de diversão de colhões firmes, que não se preocupa em abafar aquele tipo de piada sem-vergonha que eu e você soltamos na mesa do bar, e que parece fazer os falso-moralistas perderem os cabelos quando colocada em um filme – algo semelhante ao que fez Se Beber, Não Case em 2009. Aqui elas podem soar curiosas pelo simples fato de ser coisa rara de se ver, mas isto jamais significa que Vaughn seja um porra-louca ou coisa parecida – bem pelo contrário, o filme até que é light nesse sentido.
  
Quando acerta o tom da brincadeira, Kick Ass é mesmo uma beleza. É um filme feito de grandes momentos, principalmente nas seqüências de violência, graficamente empolgantes e com ótimas sacadas. A brincadeira de Vaughn, provavelmente provinda da HQ, é justamente a construção dessa realidade de uma maneira um tanto quanto fora de esquadro. É um rapaz comum, fã de quadrinhos e desajeitado com as mulheres, aquele típico personagem que o cinema norte-americano tem construído para representar a nova geração (o ótimo Zumbilândia tratou isso com um pouco mais de carinho), que resolve fazer algo que nunca ninguém havia ousado fazer e se transformar em um super-herói, mesmo que não tenha qualquer super poder. A referência é interessante: em tempos de RPG, fóruns de internet e Facebook, a juventude esconde-se em seus quartos para incorporar grandes personagens em uma realidade virtual. Lá fora, tímidos e inseguros; mas, quando filtrados pela tela de um computador, podem conquistar o mundo em batalhas apoteóticas e fazer fama em perfis de Twitter que incorporam personagens fictícios. Ora, por que não um super-herói?
 
Kick-Ass vai mesmo pra porrada contra o crime na grande metrópole, mas é claro, sempre apanha – afinal aqui o mundo é real, a violência também. Mas como tudo se trata de uma grande brincadeira, mesmo com sua falta de jeito, o herói resolve – com algumas ajudinhas, claro – os casos e conquista a fama, o status e as belas mulheres que sempre viu serem conquistados pelos heróis que idolatrava. Esse exagero traz ao filme um bom clima caricatural, e isto, aliado à violência estilizada – em algumas sequências Kill Bill Vol. 1 é claramente a inspiração -, faz de Kick-Ass um filme divertidíssimo na maior parte do tempo.
 
E é realmente uma pena que Vaughn pareça receber algumas doses de eletro choque e perder completamente a lucidez, esquecendo do filme que estava fazendo até então ao chegar à parte final, quando repentinamente Kick-Ass assume um tom de seriedade bizarro e deixa de lado tudo o que construiu para se tornar um filme de super-heróis ordinário e sem noção, com um herói sem poderes, vilões apáticos – Red Mist é particularmente um personagem tosco e sem qualquer atrativo – e aquela garotinha mala pra caramba roubando a cena, já que sua desenvoltura estilosa é a única coisa realmente potente o suficiente para um filme sério do gênero. A sensação que fica é a de que o filme é sugado pelo próprio efeito-Kick-Ass e resolve se assumir legitimamente como um filme de super-herói, mesmo sem possuir nenhum. Aí a vez de debochar dessa pretensão destrambelhada é toda minha.

Comentários (3)

Marcus Almeida | domingo, 28 de Agosto de 2011 - 21:56

e aquela garotinha mala pra caramba roubando a cena

Genial!

Cristian Oliveira Bruno | quinta-feira, 28 de Novembro de 2013 - 17:51

A cena de Cage pegando fogo e gritando manobras como para Hitgirl é genial!!

Araquem da Rocha | quarta-feira, 17 de Dezembro de 2014 - 13:39

Humor negro em alto grau! E hit girl fenomenal!!!
....e aquela garotinha mala pra caramba roubando a cena.....kkkk 😏

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