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L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância

(L'apollonide - Souvenirs de la maison close, 2011)
7,9
Média
109 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Bertrand Bonello inverte valores sociais dentro de um bordel parisiense no início do século XX.

8,0

Mergulhando sua câmera em um cenário riquíssimo em detalhes de uma reconstituição de época fiel que reproduz um bordel parisiense do inicio do século passado, Bertrand Bonello ignora os sorrisos falsos das belas prostitutas e os sorrisos maliciosos satisfeitos de burgueses abastados para finalmente chegar ao seu objetivo: o sorriso infinito rasgado no rosto de uma prostitua, desfigurado por uma navalha. Madeleine (Alice Barnole) teve sua beleza roubada quando um cliente cruel decidiu desenhar em seu rosto um sorriso mórbido que jamais se desfará. E é através desse sorriso que L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância (L’apollonide –Souvenirs de la maison close, 2011) encontrará uma maneira nada usual de inverter aquilo que estamos acostumados a ver em filmes que tratam de temas fortes como a prostituição.

Quando Federico Fellini dirigiu As Noites de Cabíria (Le Notti di Cabiria, 1957) em pleno movimento neorrealista italiano, o que poucos perceberam na época foi uma curiosa inversão de argumentos, ao apresentar a figura de uma prostituta como uma mensagem de esperança em meio a uma sociedade corrompida. Algo parecido acontece com L’Apollonide, quando aquelas belas prostituas que comandam um bordel decadente passam a representar, curiosamente, a imagem de vítimas de uma sociedade egoísta. Elas não são a escória da sociedade, como muitas vezes aparecem nos filmes, e sim as únicas que se mantiveram (ironicamente) inocentes a um mundo marcado por mudanças injustas.

A trama gira em torno de todas essas mulheres, em plena Belle Époque, lutando para manter um bordel de luxo quando a prostituição de rua começa a crescer e tomar o espaço antes dominado por elas. Aproveitando-se do glamour dessa época da história francesa, Bonello aposta as suas fichas em uma direção de arte impecável, fazendo cada enquadramento ali parecer uma pintura clássica ganhando movimento aos poucos. Seu truque de efeito é começar cada nova cena com poucos movimentos de câmera e certa estática por parte do elenco, para depois ir acelerando sutilmente até tudo entrar em uma sintonia dançante – como um quadro ganhando vida. O grande acerto nessa mise-em-scène é o equilíbrio e o bom gosto. Filmes de época muito preocupados com a estética geralmente extrapolam nesse quesito, mas a cenografia, figurino e mesmo a fotografia de L’Apollonide jamais ultrapassam o limite do bom gosto e em momento algum fazem tudo parecer um desfile de escola de samba. Com isso temos uma perfeita atmosfera envolvente que, desde a cena inicial, absorve o espectador para dentro de seu contexto histórico sem muita dificuldade.

Uma vez imerso nesse universo de luxúria e beleza, fica fácil entender a grande ironia presente no texto de Bonello. A condição de decadência implícita naquele bordel que logo deixará de existir está associada à situação das prostitutas de lá –vítimas de um mundo que começava a mudar. Na lente de Bonello, a lástima representada pelo bordel não significa necessariamente que aquelas mulheres faziam parte da decadência; muito pelo contrário, elas são apenas sobreviventes àquilo. O grande responsável pelo mal, o nosso vilão, é a modificação que a sociedade se submete com o passar do tempo.

Por conta disso, as variadas cenas de sexo não são o suficiente para tirar de nossa cabeça a imagem de inocência impregnada nos rostos das prostitutas. Ao contrário desses pornôs sofisticados e vazios que andam enchendo o mercado hoje, L’Apollodine tem algo por trás de toda sua exuberância visual e traz a marca sempre observadora e sagaz de seu diretor. Assim como em O Pornógrafo (Le Pornographe, 2001), onde a pornografia é associada à decência enquanto o moralismo ocupa o cargo de nocivo, ou em Tiresia (idem, 2003), quando um travesti é mostrado como a vítima de um padre inescrupuloso, Bonello apresenta nesse seu novo trabalho uma interessantíssima equivalência entre o sexo e a pureza.

Se por um lado há todo um cuidado para que a direção de arte tão bem planejada não se exceda em artificialidade, por outro não há muito cuidado com a narrativa. Longo demais e cheio de momentos desnecessários, L’Apollonide com certeza agradaria mais se fosse tão enxuto quanto a mensagem que deseja passar. Se não fossem os rodeios que Bonello leva para finalmente chegar à sua simples conclusão, estaríamos diante de um dos filmes mais bem executados dos últimos anos. Mas nada disso compromete o resultado final da obra, que com certeza traz muito mais atributos do que falhas. Afinal, por trás daquele mórbido sorriso rasgado no rosto de Madeleine, ainda há uma bela mulher que exerce sua profissão com uma desenvoltura impecável; e por trás de alguns errinhos de percurso do novo filme de Bonello, se sobrepõe um cineasta que também exerce sua profissão com invejável desenvoltura.

Comentários (3)

Vinícius Aranha | terça-feira, 17 de Janeiro de 2012 - 16:19

Este filme deve ser OP, mas não tá passando por aqui

Murilo | quinta-feira, 19 de Janeiro de 2012 - 20:37

Seksu

Adriano Augusto dos Santos | sexta-feira, 13 de Abril de 2012 - 10:02

Cortaria a última cena.
Falem o que quiser,ela tem pouca relação com o resto.

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