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Críticas

Cineplayers

Filme correto, mas formulaico demais.

6,0

O brasileiro Andrucha Waddington (Casa de Areia [idem, 2005]) é o responsável por levar às telas de cinema a história do poeta espanhol Félix Lope de Vega, que viveu entre 1562 e 1635. E a escolha de um estrangeiro para comandar o longa sobre um ícone da cultura espanhola fez com que a imprensa de lá não poupasse críticas ao diretor. Waddington realmente não realiza um trabalho louvável, mas as críticas deveriam ser específicas as suas opções narrativas, e não a sua origem.

Lope (idem, 2010) apresenta a vida do poeta espanhol a partir do momento em que ele abandona a carreira militar para buscar o sonho de viver da arte, no caso, como poeta. É justamente a natureza liberal e a determinação de Lope que acabam por encantar as mulheres que cruzam seu caminho. O enfoque é basicamente esse: o surgimento de um grande poeta e os problemas que coleciona com terceiros por causa de seus relacionamentos.

O recorte é, sem dúvida, limitado. Lope nunca parece uma figura suficientemente interessante. O filme é correto, mas clássico demais, com narrativa “presa” a um estilo convencional para histórias deste tipo. Soma-se a isso o desenho relativamente desinteressante do poeta, que se assemelha a heróis capazes apenas de boas ações e com a missão de serem os justiceiros de seus povos. O problema é que em nenhum momento é estabelecida essa relação próxima entre o poeta e a população madrilenha, o que simplesmente torna inviável ao público sentir-se solidário com as ações denunciadoras de Lope. 

O poeta compra briga com a elite da época ao desmascarar a hipocrisia que os cerca, e é esse seu perfil que o leva a conquistar a filha de um importante teatrólogo e também Isabel, mulher que o marquês vivido por Selton Mello tenta a todo custo impressionar, inclusive contratando o próprio Lope para escrever, de forma oculta, poesias para ela.

Alberto Ammann dá vida ao “herói” de forma sincera. Mas é justamente esse ar heroico que o roteiro emprega ao personagem que o leva a parecer distante da realidade. Se o filme opta por mostrar também o lado rebelde de Lope contra o poder da época como forma de romantizar os fatos, faltou fazer uma contextualização mais eficiente da história.

Apesar de respeitar o recorte temporal do roteiro, que opta por mostrar o surgimento de Lope como poeta até o momento em que é condenado ao exílio, o filme esconde justamente partes interessantíssimas da vida dele, como o lançamento de sua primeira obra de sucesso, a volta a Madri, a morte de seus familiares, o ingresso na Igreja e o fato de ter sido oficial da Inquisição. Fica a impressão de que o melhor, e que daria profundidade à história, foi cortado pelo longa.

O que incomoda é isso: o roteiro parece por vezes preguiçoso na tentativa de romantizar, como manda o padrão, um capítulo distante da história. A forma romântica, de admiração, com que sua vida é retratada não foge do lugar comum. Assim, Waddington realiza um trabalho aquém do esperado, por simplesmente seguir padrões e fórmulas que impedem Lope de parecer um personagem mais interessante.

Ao mesmo tempo, o filme cumpre seu papel de retratar o espírito sonhador de Lope. Se o longa, às vezes, parece encantado demais com a figura do poeta, resta a desculpa de que a narrativa, para homenageá-lo, apropria-se de seu próprio espírito. Mas o problema, vale ressaltar, também é esse, apresentar Lope como se fosse apenas uma grande figura, sem nunca ser capaz de mostrá-lo de forma mais profunda e, consquentemente, verdadeira.

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