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Críticas

Cineplayers

Suspense policial convencional só prova a matriz ordinária que o originou.

5,0

Se a autora Gillian Flynn virar um novo filão cinematográfico e formos obrigados a encontrar de tempos em tempos uma versão de sua obra nas telonas, que saibamos lidar com esse subproduto "policial adulto de viés psicológico pseudo-importante" que nos será virado pela goela abaixo como o supra-sumo da qualidade. Menos bem sucedido que David Fincher e seu Garota Exemplar, o francês Gilles Paquet-Brenner já atirou para todos os lados na sua terra: terror, drama de guerra, ação blockbuster, drama teen, seus seis longas anteriores não prenunciam nada, nem um talento insuspeito. Na sua primeira produção internacional, o rapaz tenta dar uma cara menos genérica ao produto final, mas a comparação com o filme indicado ao Oscar desse ano é inevitável, graças à matéria prima da mesma autora e do caráter semelhante às obras.

Rosamund Pike dá lugar a Charlize Theron em papel de similar complexidade. Aqui a protagonista foi a única sobrevivente de um massacre familiar cujo autor foi seu irmão, preso desde que ela tinha 10 anos. Vivendo sob a sombra do trauma e tirando o sustento da própria tragédia (numa situação riquíssima que nunca é explorada a contento), Libby foi a única testemunha e é por sua causa principalmente que seu irmão foi detido. Agora um grupo de pessoas dispostas a reinvestigar crimes antigos a procura sugerindo mergulhar nesse trauma e tentar observar de longe a complexidade de tudo que aconteceu, onde talvez seu irmão esteja pagando por uma culpa alheia a ele. Com isso, a produção é inundada por flashbacks que farão protagonista e espectador entender toda a trama até então obscura.

Com um bom elenco que inclui ainda Nicholas Hoult, Chloe Grace Moretz, Christina Hendricks, Corey Stoll e principalmente um Ty Sheridan mais uma vez mostrando porque é um top da sua geração, o filme não tem o rigor técnico comum aos longas de Fincher e por causa disso fica mais próximo da vala comum de produções de suspense policial ordinárias, cuja trama prende atenção durante o período da exibição graças a seu elenco e acaba esquecida meia hora após o término, típico das emoções baratas que o filme suscita.

Se tem algo que fica claro com a estréia desse Lugares Escuros é o enorme talento de David Fincher como realizador, que deixa claro como encobriu toda falta de verniz que existia no material que Flynn entregou no seu outro livro. Aqui, como lá, uma trama policial bem comum é destrinchada, com uma reviravolta duvidosa e algum interesse psicológico perpassando ambos os materiais. A diferença é que Fincher fez seu talento realçar metáforas matrimoniais em seu produto, dando uma cara "chique" e enchendo de camadas um produto que poderia ter tido esse fim bem sem vergonha obtido aqui, que nada deve a produções caça níqueis dos anos 90.

Numa temporada onde blockbusters estão repletos de subtextos, com a Pixar entregando um belo trabalho e George Miller de volta num dos grandes filmes do ano (só pra citar dois exemplos), chega a ser desperdício prestar atenção a um produto que abraça o mediano com tanto gosto sem qualquer tipo de recompensa posterior aos sustos cafonas que provoca durante sua 1 h e 40 de duração. Melhor aproveitar o tempo disponível para curtir um exemplar do gênero de qualidade infinitamente superior, o norueguês O Cidadão do Ano.

Comentários (4)

Raphael da Silveira Leite Miguel | domingo, 28 de Junho de 2015 - 11:42

Eu até entendo que a autora Gillian Flynn tem ótimas obras a serem adaptadas, mas não dá pra ser feito por qualquer um. E ví alguns comentários positivos desse Lugares Escuros, mas o problema definitivamente não é a autora, como a crítica diz, afinal, Fincher não escolhe seus projetos ao acaso.

Gabriel Fagundes | segunda-feira, 29 de Junho de 2015 - 09:44

Muito boa crítica essa do Carbone, talvez seja de fato a primeira grande dele que tive o prazer de ler.

O filme em si parece interessante. Vou assistir o quanto antes para traçar um comparativo com 'Gone Girl' e exaltar ainda mais a grandiloquente obra de Fincher.

Araquem da Rocha | terça-feira, 30 de Junho de 2015 - 13:29

Um exemplo,de que, um diretor talentoso(Fincher)pode fazer difrença e um filme acima da média com um material mediano.

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