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Críticas

Cineplayers

Apesar da pretensão e do bom elenco, o filme tem muitos momentos que poderiam ter ficado de fora do corte final.

5,0

O Maior Espetáculo da Terra amarga hoje um título informal negativo: o filme dirigido por Cecil B. DeMille é conhecido por muitos como o “pior vencedor do prêmio de melhor filme na história do Oscar”. Em minha opinião, não é para tanto – este seria Gigi – ainda que não esteja tão longe da verdade. Filmado em cores vivas, o filme tem potencial, tem ousadia e pretensão, mas no final das contas demonstra ser apenas um grande e um tanto quanto desorganizado carnaval na tela. Vamos por partes...

O mundo do circo! Apesar de não ter mais o mesmo charme de antigamente, hoje em dia ele ainda encanta as crianças, sobretudo as que recebem uma educação menos apressada, ou seja, as crianças que não perdem sua inocência muito rapidamente. Há mais de cinqüenta anos, estas eram em maioria, acredito eu. Mas o filme, obviamente, não foi feito somente para elas: temas adultos como romance e inveja fazem parte do pretensioso roteiro. Mas há um bom espaço para os malabaristas, acrobatas e palhaços.

A principal crítica sobre o filme é seu excessivo tempo de duração. Estendendo-se demasiadamente em apresentação circenses excessivas (ainda que coloridas, belas e de bom gosto), não é difícil perceber que O Maior Espetáculo poderia ter no mínimo 30 minutos a menos. Pudera! O circo em questão é enorme (nunca vi um que chegasse nem a um terço de seu tamanho): são três picadeiros com diversas apresentações simultâneas (uma sempre em destaque), e o diretor faz questão de mostrar tudo e todos.

Em meio a tanta bagunça na tela, De Mille sem sempre consegue impor suas rédeas, e o filme possui um ritmo irregular em muitos momentos. Porém, em suas cenas clímax - principalmente as que se passam em cima do picadeiro - a tensão sempre prevalece, e é aí que está uma das forças do filme. Ressalva feita à cena final, que não se passa dentro do circo, e ficou muito mal amarrada (considerando os motivos pelos quais ela se desenvolveu) e exageradamente sentimental.

O maior destaque de O Maior Espetáculo é sua logística: apesar de certamente não ter encontrado desafios tão corridos quanto um verdadeiro circo desse tamanho encontraria na vida real, o trabalho para manter tudo e todos sincronizados, incluindo a grande platéia dos espetáculos, não deve nada a um épico à moda antiga, quando não eram utilizados computadores para facilitar o serviço dos diretores. Não é difícil encontrar figurantes distraídos ou não prestando atenção ao show, o que é mais engraçado do que irritante.

Individualmente, o destaque vai para Charlton Heston, seu personagem – o gerente do circo – é interessante, não é tão caricato (não chega a ser nem mocinho nem bandido) e tem sempre forte presença em tela. Em relação aos outros atores, apesar de James Stewart estar no filme, seu personagem poderia ter sido cortado do script sem maiores dificuldades - seriam outros 30 minutos a menos - já que ele vive uma história paralela envolvendo seu passado misterioso que é, definitivamente, dispensável. Sobraria, assim, somente um triângulo amoroso formado por Holly (apesar de ela ser “a bela” do filme, não considero ela tão bonita), Sebastian (um cínico Cornel Wilde) e Brad (Heston).

Por ser esse triângulo tão clichê, isso ainda não salvaria o filme do fato dele ser enfadonho. Ele tenta trazer carga dramática, porém nunca se mostra realmente interessante. Bem pelo contrário, o fato de Holly ir de um braço para outro sem constrangimento a configura como uma verdadeira e irritante interesseira, definitivamente uma personagem pela qual não vale a pena torcer. Outras mulheres do circo também são desse jeito, todas desinteressantes, apesar do roteiro fazer um esforço tremendo para torná-las atraentes e divertidas.

Por ser um filme sobre circo, O Maior Espetáculo da Terra poderia ser mais divertido. Na realidade, tudo o que garante a diversão de um circo está lá, apenas de forma demasiada estendida, transformando, com o tempo, prazer em aborrecimento. As canções de George M. Cohan, que ajudam a formar a trilha sonora, são bem interessantes, mas no geral o restante da trilha também se torna repetitiva. Uma curiosidade inútil: este foi o primeiro filme que Steven Spielberg viu no cinema, aos quatro anos, junto de seu pai, após este prometer-lhe uma ida ao circo. Atrações, pelo menos, não faltaram.

Comentários (3)

Adriano Augusto dos Santos | quinta-feira, 28 de Junho de 2012 - 09:07

Já eu fico muito mais contente ao ver personagens assim.
O de Heston é excelente,o de Wilde bem interessantes e papéis femininos em firmes mesmo na dúvida são muito bons.

Alexandre Marcello de Figueiredo | sábado, 26 de Janeiro de 2013 - 19:41

Não assisti todos os filmes que venceram o Oscar, mas duvido que esse seja o pior de todos. Não é um grande filme, porém não é totalmente ruim, até que é animado em certos momentos. Só não entendi por que James Stewart está num papel tão secundário.

Robson Nakazato | domingo, 24 de Fevereiro de 2013 - 14:57

Gigi;também:Sinfonia em Paris,As Aventuras de Tom Jones,My Fair Lady,O Homem que Não Vendeu Sua Alma,Oliver,Kramer v.s Kramer,Gente Como a Gente,Carruagens de Fogo,Shakespeare Apaixonado,Chicago,Crash-No Limite,Os Infiltrados,Guerra ao Terror e O Artista estão todos abaixo de O Maior Espetáculo da Terra.

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