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Maldição da Chorona, A

(The Curse of La Llorona, 2019)
4,5
Média
32 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Sem tempo pra chorar

4,5

A 'Chorona' é uma lenda urbana mexicana cuja origem desconhecida tem uma tentativa de explicação na estreia em longas do cineasta Michael Chaves (que assinou contrato para a parte 3 da franquia 'Invocação do Mal'), que demonstra senso plástico eficiente e um bem-vindo bom humor sutil e pontual nesse seu cartão de visitas cinematográfico. A produção de James Wan não chega a ser necessariamente sinônimo de garantia, mas um elo que uniria material de qualidade às investidas no horror, que começaram em 'Jogos Mortais' até chegar nas "aventuras" do casal Warren, e seus derivados. O atestado de qualidade vem caindo a cada novo produto, mas até agora nada teve o desleixo de 'A Freira', que apesar de desastroso, fez o sucesso esperado. Esse novo produto eleva um pouco o quadro geral.

Trata-se de uma lenda que bebe em inspiração grega, uma espécie de Medeia do México: abandonada e traída por seu grande amor, a mais bela mulher de uma vila mexicana no século 17 mata afogados os próprios filhos que teve com o marido, para fazê-lo sofrer. Ao perceber sua própria loucura, ela se joga no mesmo rio onde cometeu os crimes, não sem antes verter as lágrimas que a eternizaram. Não se sabe muito bem o porque, mas tal mulher se transformou em entidade e agora se encarrega de levar para si filhos alheios. Ainda que essa trama não faça muito sentido ou se justifique no roteiro, o filme é uma produção de gênero que, se não tem adjetivos suficientes para diferencia-lo, tampouco é o desastre que tentarão vender por aí. Os motivos pelo qual o filme fica nesse meio do caminho é a inexperiência de condução de Chaves, ainda que visualmente o filme acerte, além de apresentar personagens carismáticos, um em particular.

A inspiração grega na lenda local poderia fazer toda a diferença no filme, mas não é um elemento trabalhado a contento; rapidamente. o filme passa adiante um jogo de gato e rato entre o espírito ancestral e os filhos da protagonista do filme, travando as possíveis referências criativas que o roteiro sugeriria. Ainda assim, a proposta clara era de entreter mais do que inovar na apresentação, e o filme consegue, ainda que de forma mediana. Essa é na verdade uma característica do filme como um todo, esse conforto na média, mas que faz toda a diferença em um projeto arriscado como esse - uma primeira direção em longas, a adaptação de um folclore local, um projeto de encomenda. Ainda assim, Chaves tenta mostrar serviço ao utilizar os anos 70 de maneira tão referencial e sutil, e de tentar montar uma linguagem visual para a sua produção.

Ele se uniu a um profissional que é ao mesmo tempo estreante como ele e um poço de experiência. Michael Burgess está assinando a fotografia de um filme pela primeira vez, mas já são quase 20 anos como operador de câmera em projetos como 'Logan', 'Os Muppets', 'Extraordinário' e 'O Livro de Eli', que moldou um profissional que precisamos ver mais em ação. Juntos, eles montaram um visual que não tem medo de ser 'dark', introspectivo e cheio de conotações lúgubres, que nunca subestima o espectador com sua movimentação de câmera ágil e criativa, além de bancarem uma grande produção de estúdio com uma luz difusa durante toda a duração, que traduz o aspecto trágico que reside em toda aquela situação, com uma textura particular que não foge da tradição técnica de uma produção de Wan, com personalidade e características marcantes, que emoldura o gênero e respeita o período onde a história se passa.

Infelizmente a inexperiência de Chaves fica evidente quando observamos 'A Maldição da Chorona' fora do aspecto de criação visual. O filme tem um desenvolvimento inicial apressado, abrindo mão da presença de uma personagem marcante (a mãe das primeiras vítimas) para então chegar muito rápido ao climax, onde esse crescimento de tensão poderia ser mais trabalhado; quando nesse ápice, o filme estica a duração por mais tempo que deveria, dando a impressão de um filme muito maior que a 1 h e 25 representam. Nesse desfecho desequilibrado porém o filme conta com uma arma secreta, o xamã vivido por Raymond Cruz, um ator com mais de 30 anos de serviços prestados e que estava ultimamente dedicado a TV. São deles as pitadas de humor que saem rasgadas do seu personagem sisudo e por isso tão desconcertantes. A interação dele com a mocinha vivida por Linda Cardelini e seus filhos é preciosa e garante a diversão na reta final desse projeto repleto de altos e baixos, e que marca esse novo diretor com um ponto de interrogação.

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