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Críticas

Cineplayers

Quatro palavras resumem Maria: tedioso, pretensioso e mal realizado.

2,0

O cineasta Abel Ferrara resolveu fazer uma crítica à direita cristã e seu neoconservadorismo religioso em seu novo filme, Maria. Um dos alvos principais é o também diretor Mel Gibson e seu filme A Paixão de Cristo, em especial a violência que, embalada a um reacionarismo revisionista das escrituras, procura incutir o medo da danação metafísica aos pecadores, entre eles os judeus. Só que dessa vez Abel Ferrara fez um filme tão indigesto (a maioria de sua obra é) que a crítica não precede: perde-se antes de conseguir o intento.

Uma atriz (Juliete Binoche), que interpreta Maria Madalena num filme, continua impregnada da personagem após as filmagens, o que a leva até Jerusalém. Enquanto isso, o diretor do filme (Matthew Modine), que interpretou Jesus Cristo, aproveita-se da polêmica para divulgar a obra e ganhar dinheiro, dando vazão a seus impulsos narcisísticos. Um jornalista ateu (Forrest Whitaker), terrivelmente ambicioso e em grave crise pessoal, aproveita-se de todos em seu programa sobre fé atrás de audiência.

O resultado: Maria é tedioso como um filme iraniano, pretensioso como um independente americano e tosco como um filme religioso para a TV (não foi intencional). Enfim, Maria é um suplício de se ver. A segunda parte do filme se dá com a mulher do jornalista (Heather Graham) a beira da morte por causa de um parto difícil, que pôs em risco mãe e filho. É quando o personagem, nada mais que um clichê do jornalista inescrupuloso, vai para a capela da maternidade acertar as contas com Deus por meio de frases improvisadas, bem ao estilo do diretor. Nunca vai além do senso comum – e isso nos melhores momentos.

Sem dinheiro, com apenas 22 para as filmagens (usou o próprio apartamento que tem em Roma como cenário e sala de edição), Ferrara fez um filme canhestro, desigual, feio e inócuo, apesar do elenco famoso (Ferrara disse em entrevista que no início ficou assustado com a idéia de trabalhar com Binoche). Nada que lembre o cineasta de O Funeral, Olhos de Serpente, Os Viciosos e O Rei de Nova York.

Talvez a culpa nem seja de Abel Ferrara, mas do tema. Existe algum filme de temática religiosa que seja verdadeiramente bom? Na minha opinião, nem A Última Tentação de Cristo (Martin Scorsese, 1988) seria uma exceção à regra de mediocridade que grassa esse nicho do cinema. Nem Rei dos Reis, do Nicholas Ray (1961), nem mesmo A Paixão Segundo São Mateus (Pier Paolo Pasolini, 1964). Não são filmes de todo ruins, mas tampouco seriam louváveis ou destaques na cinematografia desses diretores, que fizeram coisa bem melhor (Ray, pouca coisa melhor).

Maria é um ponto baixo na carreira de Abel Ferrara, carreira essa cada vez mais errática e inconstante, não só na produção como na qualidade. Como ele também é nova-iorquino, católico, fez filmes violentos sobre a máfia e tem ligações com a Itália, tudo isso faz com ele seja uma espécie de sub-Martin Scorsese. Para piorar as comparações, agora ele fez um filme de cunho religioso, como Scorsese já fizera em A Última Tentação de Cristo.

Ser comparado a Scorsese é elogio para muitos diretores. Em relação a Abel Ferrara, com certeza não o é.

Comentários (1)

DRIVER | segunda-feira, 12 de Setembro de 2011 - 09:48

Cada um com seus gostos.
Mas lamentável suas declarações. Pelo menos respeite o Ferrara.

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