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Críticas

Cineplayers

Uma das mais esperadas continuações de todos os tempos traz mais ação e filosofia para a série.

6,0

Antes de iniciar a minha análise sobre Matrix Reloaded, um dos filmes que mais esperei esses últimos anos, é bom avisar que será praticamente impossível restringir certas informações que foram reveladas no filme. Digo isso porque a quantidade (e importância!) das reviravoltas que foram reveladas nesse filme são extremamente numerosas, então aconselho a você não ler essa crítica se ainda não tiver ido ao cinema. É praticamente impossível escrever sobre o filme e explicar o porque que saí com um ar de decepção do cinema na primeira vez que eu o assisti sem revelar nada, e pensando muito no filme nesses dias acho que finalmente consegui chegar a um denominador que expresse perfeitamente o porque dessa sensação. Sinto-me extremamente à vontade para escrever tudo o que você irá ler pela frente por diversos motivos.

Antes de tudo, quando digo que me decepcionei com o filme, não quero dizer que ele seja ruim. Analisando, curtindo as cenas de ação, enfim, embarcando no filme, ele é ótimo. Seu maior problema é mesmo quando colocado como parte de uma trilogia, sendo o complemento do clássico Matrix. Praticamente tudo o que foi exposto no primeiro filme foi diminuído com este segundo. Tudo mesmo. A importância da libertação é, sem dúvida, um dos defeitos mais graves. Se o mundo real é aquele apresentado nesse segundo filme, qual seria a vantagem da libertação da mente? Viver em um mundo pior, sujo, sem vida e cheio de sofrimento? Sinceramente, preferiria continuar sendo iludido pela Matrix.

Foi estranho ver que as reviravoltas que foram preparadas nesse filme justamente estavam lá para contrapor o que fora apresentado no filme anterior. Se os dois fossem um filme único, de 4 horas, talvez funcionasse melhor. Mas não é esse o caso. Matrix foi lançado, houve uma revolução nos filmes de ação, ele se tornou referência para diversos filmes desde então, para quatro anos depois chegar o seu sucessor e dizer que tudo aquilo que vimos pode não existir? É embolado, mas é isso mesmo. Já sabíamos que o mundo não existia, mas sermos colocados em uma questão onde tudo o que aconteceu antes talvez não exista, ou tenha um outro significado (inferior), foi decepcionante. Não foram as cenas de ação, e nem mesmo a história em si, pois ela não tem furos e é extremamente complexa (fator raro). Foram mesmo os destinos tomados que não me agradaram, nem um pouco. É como se o 1 não fosse necessário para a compreensão da trilogia.

Se você sair do cinema e não sentir o que eu senti, com certeza estará embarcando em uma encruzilhada histórica para o mundo cinematográfico. Realmente, quando todos os fatores são colocados lado-a-lado, você se depara com uma interessantíssima reflexão sobre o que é real ou não, sobre escolhas, sobre destino, etc. Mas se você sair com esse ar de decepção e não souber o porque, acho melhor você pensar por esse lado que apresentei para ver se não é exatamente a mesma coisa que aconteceu comigo. Claro, há aqueles que possam ter gostado disso, mas...

Deixando esse fator da diminuição do primeiro filme pela seqüência (o mais agravante, ao meu ver), tenha a certeza que Matrix Reloaded irá lhe entreter um bocado. E isso se deve por uma série de diversos fatores:

  • O humor. Algo praticamente inexplorado no primeiro filme vem com força total nessa seqüência, principalmente pelas atitudes do novo operador da nave, o negro de cavanhaque e expressões cômicas Link (interpretado por Harold Perrineau Jr., de Romeu + Julieta) e, ironicamente, o próprio agente Smith, que ganhou um papel de destaque bem maior que no filme anterior. O francês também, brincando com o sotaque da língua, ficou fantástico.
  • As impressionantes cenas de ação. Apesar de muitas delas estarem ali sem necessidade, elas são extremamente divertidas e irão, com a maior certeza absoluta e sem medo de errar, empolgar o público (o que pode fazer com que alguns espectadores mais casuais leiam a minha análise e fiquem com raiva de mim, pela qualidade dessas cenas de ação e não serem tão presos à história como eu sou). Quando digo que elas estão meio gratuitas, é só dar alguns exemplos para ser mais claro: a luta com o protetor do oráculo, por exemplo, foi extremamente gratuita, visto que o oráculo já conhecia Neo e o motivo para tal era, na verdade, apenas apresentar o personagem. Aliás, quem iria interpretar o guardião seria Jet Li, mas o mesmo recusou o papel por terem oferecido ‘apenas’ 3 milhões de dólares, quando ele pedia 13. Só que outras cenas, como a da perseguição na rodovia e a luta contra os Smiths valem o ingresso, sem sombra de dúvidas, apesar de eu ter alguns ‘porém’ a falar sobre elas (nada que interfira na diversão).
  • Os efeitos especiais. Claro, aqui é impossível de se ignorar esse fator, principalmente depois do que foi apresentado no primeiro filme e todo o hyper que os produtores fizeram sobre isso. Eles realmente impressionam, mas não revolucionam (principalmente se comparados aos efeitos do primeiro filme e a época em que foi lançado). O Bullet Time é usado em demasia aqui (isso não é ruim, toda vez que ele aparece dá um show, principalmente na cena do impacto entre os caminhões, uma das melhores que eu já vi em todos os tempos), deixando a revolução mesmo para a luta de Neo contra os 100 Smiths (impressionante, apesar de que em diversas partes é perceptível o uso dos computadores, principalmente por causa da iluminação, já que as luzes de estúdio nunca vão conseguir reproduzir fielmente uma luz solar).
  • As músicas. Acho que é uma das melhores trilhas da atualidade, onde as lutas, tudo, mas tudo mesmo combina perfeitamente com o que está passando na tela. Os mais despercebidos podem nem notar o significado delas dentro do contexto, mas quem curte um som com certeza perceberá a importância para o envolvimento em cada momento do filme.
  • As armas brancas. Todo o potencial bélico do primeiro filme foi deixado de lado nessa continuação, visto os poderes apresentados pelos personagens. E isso foi uma ótima sacada, fascinante, visto que nenhum tiro acerta nem Neo e muito menos os agentes. As lutas ficaram empolgantes, bem coreografadas e, principalmente, brutas! O que é excelente, visto que gosto dessa ‘qualidade’ em lutas. A luta no saguão do francês é fantástica, cômica, apesar de, como dito antes, um pouco gratuita. Só a luta com os gêmeos eu creio que tenha sido necessária naquela seqüência.
  • Os novos monstros, as anomalias do sistema. Fantástica essa sacada! Os gêmeos, ao meu ver, provém dessa nova definição, que também inclui fantasma, aparições, anjos, etc (mexendo, suavemente, com religião nesse ponto). Pena que os gêmeos (apesar de ter adorado), decepcionaram apenas por um motivo: o tempo em que ficaram em ação! Eu achei que eles fossem ser uma nova dor de cabeça para os personagens, mas só participaram de duas seqüências. Uma pena, espero que no terceiro filme eles apareçam bem mais.
  • Agente Smith. Não adianta, mesmo com todas as adições, com todos os outros agentes, ele comanda tudo quando o assunto é vilão. Sua presença na tela é algo marcante para o cinema, e não digo isso pela cena da luta já citada. Toda vez que ele aparece consegue arrancar uma reação da platéia. Fora que sua importância dentro da trama cresceu de uma maneira estrondosa, ele ganhou toda uma importância que ainda não foi revelada, mas que pode ser sentida pelas suas ações durante o decorrer do filme.
  • A ação paralela. Retirado de filmes como O Poderoso Chefão, do Coppola, esse recurso é muito bacana e foi muito bem empregado na invasão do prédio. Ela consta em apresentar, através do som, o plano que será executado e, nas imagens, já o futuro, o momento em que eles estão fazendo tudo o que estava sendo planejado pelo som. Acho isso muito interessante, pena que não original (aliás, eles puxaram bastante fatores de outros filmes, o inverso do primeiro Matrix, que foi e é copiado até hoje).
  • A homenagem ao clássico As Noivas do Vampiro. Quando Mônica Belucci faz sua aparição (e que aparição, nossa, como ela está magnífica), é possível ver o filme de vampiros ao fundo, quando estão passando pelos guardas para chegar até o chaveiro. Além de formador de clichê, ele consegue dar medo e ser um dos melhores sobre o tema.
  • Neo. Claro, deixei para falar do protagonista por último. Apesar de não gostar das interpretações de Reeves, creio que Neo seja o personagem perfeito para o ator, já que ele fala pouco, age mais, enfim, era o que Reeves realmente precisava para brilhar (já que ele fala embolado, voz grossa, parece um mongol diversas vezes). Só que Neo não tem essa impressão, apenas foi ajudado pela personalidade e baixo poder de interpretação do ator (por mais contraditório que isso possa parecer). Ele ter parado as máquinas no mundo real então foi fantástico, me deixou extremamente curioso pelo terceiro filme da série. A Trinity também está interessante, e o Morpheus teve o seu valor um pouco reduzido pelos argumentos apresentados.

Além desses fatores (espero não ter esquecido nenhum, é muito ruim lembrar depois), creio que existe um outo bastante positivo quanto a trilogia Matrix que não diz respeito ao filme em si, mas que queria comentar: a possibilidade que o ‘conceito Matrix’ criou para o mundo do entretenimento. Além da série Animatrix, que explica em alguns episódios animados como o mundo chegou ao estado visto no primeiro filme quanto faz uma ponte de safena entre o primeiro e o segundo filme, há os jogos eletrônicos sendo lançados (que completam a história principal, isso é fantástico) e diversos, diversos mesmo outros itens no mundo inteiro. Hoje em dia é impossível uma pessoa, a menos que ela more em outro planeta, nunca ter ouvido falar de Matrix.

Apesar de já ter falado bastante mal do filme (vocês não tem idéia de como aqueles primeiros parágrafos foram realmente importantes pelo que senti do filme), quero comentar alguns outros pontos que não me agradaram. O primeiro de todos, sem sombra de dúvidas, foi aquela rave idiota que aconteceu logo no início. O povo inteiro sabe que dentro de poucas horas poderá ser exterminado, mas mesmo assim faz uma festança para provar as máquinas que eles são vivos. Brincadeira, né? E para piorar, ainda veio em conjunto com aquela cena de sexo entre Neo e Trinity, provavelmente só para gerar um progênito para o protagonista no terceiro filme. Totalmente dispensável.

Outra cena que me incomodou (e que é totalmente dispensável) foi o conselho. Não sei porque, mas eu não suporto mais ver isso em filmes, é extremamente chato. Além disso, não influencia em nada no fator emocional da história, o resultado daquela reunião poderia ter sido revelado diretamente depois que não resultaria em nada diferente do que foi mostrado. Pelo contrário, o conflito psicológico entre a capitã e o responsável pela defesa da cidade poderia ter sido mais explorado com o tempo que foi gasto ali, o que poderia ser mais interessante, visto que a Capitã ganhará uma dimensão bem maior no terceiro filme (e o jogo, “Enter the Matrix”, é protagonizado por ela, inclusive!).

Não gostei também da dimensão que foi dada ao mundo real. Ele perdeu um pouco o encanto do mistério que havia sido deixado com o primeiro filme. Aquele tamanho todo, não consigo imaginar como a cidade possa ter crescido tanto (a ponto de não ter sido mencionada nessa dimensão no primeiro filme, apenas era mencionada como um lugar de esperança, da salvação) em apenas 6 meses (que é o tempo que o filme retrata entre o primeiro e Reloaded). Fora o que eu disse no começo do review, será que vale a pena mesmo ser libertado para viver em um lugar como aquele, com aquelas condições?

O chroma key foi usado em demasia também, ficando completamente perceptível, em diversas partes, o uso do fundo azul nas cenas. Mas isso não é um erro exclusivo de Matrix. Qualquer grande produção hoje em dia sofre com isso, principalmente pela diferença de iluminação criada pela luz do Sol e a lâmpada usada nos estúdios (só por curiosidade, creio que poucos filmes se salvam disso, Minority Report é um, por sua fotografia toda azulada, o que dificulta muito perceber essa diferença entre fundo azul e o que é real). A movimentação de alguns personagens digitais, principalmente na luta dos Smiths, também ficou um pouco inverossímil, deixando bem perceptível o uso dos computadores ali.

Mas esses são fatores pequenos, somados a algumas quebras no ritmo do filme, alguns clichês (o filme começar com um sonho, uma clarividência), algumas frases de imposição moral pretensiosas. O grande problema de Reloaded, sem dúvida, foi o que eu disse no começo: sua ligação com o primeiro filme, o diminuindo de uma maneira absurda (a irmã de um amigo meu, por exemplo, não viu o primeiro e, mesmo assim, entendeu 90% do filme!). Isso TEM que ser consertado com o terceiro filme, senão coitado do clássico Matrix... Vai ser melhor que no futuro o vejam por si só, esquecendo as continuações, se Revolutions for pelo mesmo caminho. Pode ser que Reloaded melhore com o lançamento do terceiro filme, mas analisando o filme por si só ele é tudo o que falei acima (e tentei me policiar quanto ao tamanho do texto; pelo visto falhei, pois ainda queria falar mais coisa e tentei ser bem direto nos parágrafos).

O que esperar de Revolutions?

Acho interessante abrir um pequeno tópico para falar de Revolutions. Para começar, senti vontade de fazer isso por dois fatores básicos: o imenso número de perguntas que ficaram no ar ao final do segundo filme e o teaser que passa no final dos créditos de Reloaded (se você não esperou até as letrinhas ao final acabar, perdeu, deu mole).

Há uma grande batalha para acontecer, a dos sentinelas contra o povo de Zion. Aquela batalha em que é citada o massacre ao final do filme não é contra Zion, e sim o contra-ataque que a cidade tentou fazer contra os 250.000 sentinelas (que falhou por causa do agente Smith no corpo do homem). Então pode-se esperar uma épica batalha, com bombas, andróides e tudo mais no melhor estilo Star Wars de ser (percebe-se isso até mesmo pela aparência geral de Zion).

Haverá também a descoberta de quem realmente é Reeves e, de quebra, todo o segredo da Matrix (já que, pelo que foi mostrado até agora, contradizendo o primeiro filme, só ficamos com pistas para teorizarmos a vontade; a verdade mesmo só quando o terceiro filme for lançado).

O destino dos demais personagens será traçado também. Depois da revelação de quem é realmente o oráculo, fica difícil distinguir com precisão quem é humano e quem é programa no filme inteiro, principalmente pela outra dúvida que ficou no ar: seria o mundo real uma segunda Matrix? Existem fatores que abrem essa possibilidade. Uma possibilidade bem forte, por sinal.

Evolução nos efeitos especiais? Pode ser que sim, pode ser que não. De acordo com o produtor, os efeitos do filme serão os mais sensacionais já vistos na história, mas fica difícil acreditar 100%. Que eles vão impressionar, não há dúvidas, afinal, isso aconteceu nesse filme, só resta saber se a promessa será cumprida ou não, pois revolucionar é uma palavra bem pesada para ser prometida.

Fora que se espera uma maior aparição dos personagens que foram apresentados nesse filme (a capitã, o protetor do oráculo, os gêmeos, o francês, etc). Ah, e tem também o propósito real do Smith, já que ele não depende mais da Matrix e, mesmo assim, continua perseguindo Neo. Enfim, muito ficou para ser explicado para Revolutions, deixando pouco tempo para que novas questões sejam levantadas. A diversão, pelo que foi visto até agora, está garantida.

Finalizando

Matrix Reloaded é um bom filme, principalmente se analisado individualmente. Se for considerá-lo em conjunto com o primeiro, é desprezar muita coisa que foi filosofada, o diminuindo de uma maneira grotesca. Mas tem mais ação, o que melhora incrivelmente o ritmo do filme, fora que ele cria um clima extremamente misterioso e interessante, o que atiça a curiosidade pelo terceiro filme. Vale a pena, assisti três vezes no cinema e não descarto a possibilidade de ver uma quarta. A ligação com o Animatrix ‘O Vôo Final de Osíris’ ficou bem bacana também. Tem uns pequenos defeitos e um extremamente grave, tudo que já fora comentado antes, mesmo assim não consegue perder o status de imperdível de se conferir.

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