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Críticas

Cineplayers

Revolutions acaba sendo diferente do que poderia ter sido, mas ainda assim é um belo filme de ação.

8,0

Como Matrix Revolutions é, certamente, um dos filmes mais esperados do ano, resolvi fazer algo diferente para a matéria deste filme. Há uma parte da matéria chamada “antes da revolução”, que trará toda a expectativa em relação ao filme, poucas horas antes da sessão, além de trazer novamente à tona alguns pontos encontrados nos dois filmes anteriores (os quais estarei me referindo aqui como “Matrix 1” e “Reloaded”).

Antes da revolução…

Apenas seis meses após o lançamento de Matrix Reloaded nos cinemas chega Revolutions. Filmado simultaneamente com o filme lançado em maio de 2003, Revolutions não é exatamente uma seqüência, e sim a segunda parte da mesma história, como fazem questão de frisar em todas as entrevistas os produtores do filme (e só pelos produtores, porque os diretores negam-se a dar entrevistas).

Foram gastos 300 milhões de dólares nos dois filmes, a mesma soma gasta nos três filmes da série O Senhor dos Anéis. Relativamente falando, então, cada Matrix custou 50% mais do que qualquer filme da série do diretor Peter Jackson. Mas antes de Matrix e O Senhor dos Anéis, outro diretor conhecidíssimo, Robert Zemeckis, fez o mesmo que os irmãos Wachowski: depois do sucesso arrebatador de De Volta Para o Futuro, as duas sequências foram filmadas simultaneamente, e foram também lançadas em um intervalo de tempo pequeno, os mesmos seis meses que separaram o lançamento das sequências de Matrix, mas nos anos de 1989 e 1990.

Nesta altura, Reloaded já está mais do que mastigado para mim (já assisti ao filme quatro vezes), e mesmo assim é impossível ter todas as respostas, que espero que sejam respondidas em Revolutions. Já elaborei e li, literalmente, mais de uma dúzia de teorias diferentes em relação ao que acontece em Reloaded, e nenhuma delas é livre de furos ou imperfeições. Algumas são mais apreciadas por mim, e para outras confesso que prefiro virar a cara. Vai ser este o maior desafio ao avaliar Revolutions: limpar a mente de conceitos pré-definidos sobre o que se acha que deveria acontecer no filme para, senão aceitar, pelo menos entender a visão dos irmãos diretores.

Minha visão em relação a Reloaded também mudou consideravelmente desde a primeira vez que assisti ao filme no cinema. É fácil sair encantado pelas espetaculares cenas de ação que o filme possui, mas a história também chamou muito a atenção (a não ser para parte do público que simplesmente nem tenta começar a entendê-la). As cenas de ação, depois de muitas vezes revistas, claro, perderam um pouco o impacto (mas mesmo assim, neste exato momento, antes de eu ver Revolutions, ainda são as visualmente mais impressionantes que já vi), e é fácil visualizar as muitas falhas que o filme apresentou.

As cenas de ação, se relacionadas à história, perdem quase totalmente seu encanto. Com os poderes ilimitados de Neo dentro da Matrix, ele não teria em absoluto necessidade de usar força física. E isto é só um exemplo. Os irmãos albinos mostraram-se vilões mais pálidos ainda: os irmãos Wachowski conseguiram aproveitar menos eles do que George Lucas em relação a Darth Maul, em Episódio I. Mas cada vez que assisto, o agente Smith torna-se mais e mais meu personagem favorito da série. Enfim, há pontos em Reloaded que se mostraram mais fortes que no início; outros bem mais frágeis. Infelizmente a Warner decidiu cortar o filme de modo muito abrupto, e Reloaded nunca poderá existir só por ele mesmo, coisa que mesmo a história continuada de As Duas Torres dá conta de fazer – muitos dos que viram o filme no cinema não assistiram A Sociedade do Anel e saíram encantados com a história. Obviamente, Matrix é ficção e tem um conteúdo muito mais hardcore, mas ainda assim o fato de Reloaded não poder sobreviver só por ele sempre vai me incomodar, se alguém me perguntar.

Bem, a hora está chegando, estou indo assistir a Revolutions somente com os trailers na cabeça e uma ou outra informação – com tanta propaganda na mídia fica quase impossível de se livrar das tentativas que te fazem para saber mais e mais sobre o filme. O jornal que eu costumo ler simplesmente colocou na sinopse do filme uma importante (creio eu) revelação feita no filme, como se fosse algo já sabido por todos. Pura ignorância...

E então? A revolução ocorreu ou não?

A pergunta acima foi formulada antes de eu assistir ao filme, e chegando da sessão, confesso que não posso responder a ela. Não neste exato momento, ao menos. Há tanto o que pensar, tanto o que refletir. Pelo menos Revolutions continua a fama da série de fazer as pessoas saírem dos cinemas pensando. As que, claro, conseguem enxergar além dos efeitos especiais animalescos, que estão ainda melhores do que em Matrix Reloaded, e das cenas de ação, que são em menor número do que no “capítulo” anterior da série, porém em proporções bem maiores.

Revolutions é um filme incrivelmente completo, ao mesmo tempo que assume total simplicidade. Para quem conhece a história de Reloaded, e soube identificar seus principais pontos (não estarei entrando nesses detalhes aqui), Revolutions é fácil de entender. A verdade é que toda e qualquer complexidade assumida pelo capítulo anterior foi jogada água abaixo. Não há em Revolutions teorias para se discutir por dias a fio. Os irmãos diretores deixaram o maior tempo bem claro quem é quem e o que acontece dentro do filme. Não que seja possível sair de uma primeira sessão do filme sem perguntas na cabeça, mas de certa forma Revolutions é uma antítese de Reloaded neste quesito. E isso é bom ou é ruim?

Os dois! Bom pois o filme conseguiu resolver pelo menos boa parte das questões apresentadas antes, mesmo que muitas delas fiquem em aberto ou simplesmente esquecidas ao final de Revolutions (sem entrar em detalhes, o que aconteceu com todos os tão perigosos e imortais agentes apresentados em Matrix 1, ao final de tudo?, só para citar um exemplo). Mas é principalmente ruim! Com tais simplificações, Revolutions acaba sendo pouco mais do que um filme de ação comum, bem contra o mal, lotado de situações clichês e sem o tom grandioso (exceto pelo seu final) que todos os fãs gostariam que o filme tivesse. A escolha de tornar o terceiro filme acima de tudo um filme de ação acaba, então, fazendo com que a série Matrix não possa ser comparada a outras séries que serão imortalizadas pelo cinema, como Star Wars e O Senhor dos Anéis, por não manter a regularidade esperada depois de Matrix 1.

Revolutions é, finalizando, um passo abaixo em termos de história, em relação a Matrix 1, mesmo que eu tenha saído satisfeito (embora não sorridente) com as resoluções tomadas para o final da série, ainda que parte delas sejam bem questionáveis em termos de bom gosto (mesmo se vistas com a cabeça muito aberta). Só que como toda moeda tem dois lados, digo que Revolutions é um passo acima de Reloaded - e esse passo faz o filme QUASE alcançar o nível de Matrix 1 – em termos de diversão e satisfação final. O que não o faz alcançar os níveis de Matrix 1 é justamente sua história não incrivelmente excitante (não há nada de realmente novo no mundo de Matrix neste capítulo que não tenha sido apresentado antes).

Há também alguns pontos risíveis em Revolutions, que seguem a linha de Reloaded. Alguns diálogos muito ruins, coadjuvantes que parecem sair de um filme pornô (veja a luta na entrada do clube, por exemplo) e alguns momentos beeeeeeem lentos fazem do filme uma verdadeira chateação em alguns momentos. É daqueles momentos que, no futuro, quando o filme for visto em casa, você vai dar fast forward no seu controle remoto. Mas não é motivo para preocupação, mesmo filmes que considero “perfeitos” (não literalmente, óbvio, visto que isso é humanamente impossível), possuem tais momentos. As Duas Torres é um exemplo disso.

Tecnicamente Matrix Revolutions segue uma linha mais “dark” em relação a Reloaded, é um filme muito mais escuro em sua fotografia (com exceção de dois lindos momentos) e sangrento. Mais barulhento também, a batalha em Zion é épica, possui momentos de babar em meio a momentos fracos, que abusam da inteligência do espectador. Os diretores conseguem, pelo menos, deixar um clima bem tenso, criando uma fase de preparação, assim como aconteceu na batalha do Abismo de Helm em As Duas Torres. No final, até que é possível se importar – um pouquinho – com os personagens dentro da batalha.

Os efeitos especiais estão ainda melhores que em Reloaded. Se este filme levar o Oscar na categoria (assim como Matrix 1 levou no ano em que concorreu), não creio que seja uma injustiça, mesmo antes de assistir seu provável concorrente, O Retorno do Rei. A comentada batalha final, que relembra os filmes de Superman onde o herói combate Lex Luthor nos céus, é simplesmente perfeita, excitante, e com uma resolução escrita no capricho pelos Wachowski (e um dos poucos momentos que pode confundir o espectador, em termos de enredo). Momento babante do ano até o momento!

Quando escrevi sobre Reloaded, comentei a óbvia inspiração da equipe de arte em filmes como Star Wars, por exemplo. Aqui a inspiração fica ainda mais evidente, e em outros filmes também, como Alien, de Ridley Scott. Tudo, claro, perfeitamente desenhado, elaborado, em um trabalho técnico maravilhoso, mistura de computação com outras técnicas manuais de poucos precedentes no mundo do cinema. A trilha sonora do filme é, assim como tudo até aqui (e sei que isso deve estar repetitivo), cheia de altos e baixos. Músicas épicas para momentos épicos (a música dos créditos finais desta vez tem um estilo diferente, e é linda), e também muito lixo auditivo em meio de tantas cenas de ação, seguindo o gosto dos diretores.

Então é isso! Depois de quatro anos a série Matrix apareceu, passou e deixou algumas marcas. Muitas negativas, que justificam a opinião de algumas pessoas de que “as sequências não deveriam ter existido”, mas o saldo geral é muito positivo. Sem dúvida, foram filmes divertidíssimos, com alguns personagens incríveis (Smith acaba sendo o meu favorito de toda a série, mesmo aparecendo pouco em Revolutions) e efeitos que fizeram – e farão – outros diretores terem inspiração por anos. Foi como uma grande volta numa montanha-russa. Poderia ter sido um pouco mais alta, com curvas mais fechadas e descidas mais emocionantes, mas que foi uma ótima volta na montanha-russa, isso foi. Por sequência, prefiro: Matrix 1, Revolutions e Reloaded.

Comentários (1)

Vinícius Oliveira | domingo, 17 de Fevereiro de 2013 - 03:31

Acredito que o fato de Neo perder a visão e mesmo assim ser capaz de enxergar a aurea de todas as coisas, eh algo de novo em Revolutions, mesmo sendo um acréscimo absurdo, pois isso se explicaria qnd Neo está conectado a matrix, e não faz o menor sentindo qnd ele está desplugado!!!

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