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Críticas

Cineplayers

De um episódio a outro, cinesserie sobre futuro apocalíptico vai do céu ao inferno.

4,0
Spoiler do primeiro Maze Runner a frente!
Leia por sua conta em risco.

No lançamento ano passado do primeiro Maze Runner, imaginei que enfim essa legião de adaptações de livros 'young adults' americanos, onde todos versam sobre uma sociedade totalitária que oprime uma população geralmente centrado num grupo de jovens rebeldes, tinha enfim encontrado um diferencial e uma versão a agradar bem mais os meninos que as meninas. Tendo em vista que os outros dois exemplares de sucesso são defendidos pelas feições de Jennifer Lawrence e Shailene Woodley (isso fora as inúmeras tentativas fracassadas de criar novas franquias a partir de outros livros, todos indo pro lado "crepuscular" da coisa), era legal ver enfim um grupo de rapazes preso num local/ilha/comunidade, e separado do resto do mundo por um perigosíssimo labirinto intransponível, até a chegada de um novo morador capaz de correr como nenhum outro e com disposição de enfrentar os perigos da estrutura. Ao final do primeiro bem-sucedido exemplar da série, os jovens conseguem fugir do tal labirinto, descobrindo que (oh, que surpresa!) o mundo tinha sofrido uma espécie de guerra que o devastou, e as respostas para zilhões de perguntas viriam no capítulo dois.

Será que a ausência do labirinto fez parte da magia se esvair? Provavelmente. Longe de sua "prisão", os rapazes se encontram num mundo semi desértico de inspirações "madmaxianas" e o filme começa a colecionar um sem número de referências e apropriações de outras obras, todas inferiores aos originais e desinteressantes; sim, infelizmente parece que o que tornou o primeiro exemplar uma elaborada e eficiente 'sessão da tarde', se foi sem muita chance de retorno. Algumas sequências são ainda empolgantes (como a perseguição por um prédio em ruínas inclinado), e rapidamente ainda observamos elementos do cinema de horror dar as caras quando fica claro que o tal apocalipse tem ligação com um processo de zumbificação dos seres humanos, mas o filme simplesmente não tem fôlego durante boa parte da projeção, e o que deveria ser ao menos um produto veloz e ágil simplesmente não dá as caras, e os bocejos se tornam uma constante de tempos em tempos, ou seja, pouco do que tinha funcionado no primeiro restou aqui.

Até mesmo as bacanas metáforas sobre os regimes opressores de ontem e hoje se perdem e soam vazios, além do filme ter perdido qualquer diferencial para com os similares Jogos Vorazes é Divergente, e o que tinha de superior a eles aqui é passado; o filme vai muito mal se comparado às segundas partes desses outros dois, e se formos somente comparar com seu próprio início já dá pena. O desfecho do filme ainda volta a acelerar, mas já é num clima de repetição de tudo já visto recentemente, com traições e máscaras puxadas, e muita abnegação por parte do protagonista, chegando a lembrar os irritantes finais em círculo da série animada dos anos 80 Caverna do Dragão, com o protagonista eternamente voltando atrás do seu destino por não desistir de seus companheiros de aventura.

Com a queda da originalidade e do ritmo, o elenco dificilmente iria resistir e, se alguém conseguiu se destacar no meio da pasmaceira, talvez seja a entrada em cena da talentosa Lili Taylor; o elenco jovem não consegue impor nada, e se limita a dizer o texto em cenas constrangedoras (a pior delas onde todos recordam de amigos queridos já mortos) ou correr pra lá e pra cá, conforme o interesse do roteiro. Ao ter suas questões esvaziadas e suas motivações resumidas a uma correria nada intensa, a série escorregou em mensagem e realização, mesmo que o diretor seja o mesmo Wes Ball do primeiro; simplesmente inexplicável como um projeto se descaracterizou tanto no espaço de um ano.

Resta torcer para que o terceiro exemplar recupere sua bem sucedida mistura de estudo sobre distopias e blockbuster sem compromisso. Sim, afinal ninguém quer ver filmes inferiores a suas pretensões e intenções, ainda mais quando o trabalho já foi realizado com sucesso. Mas tendo à frente a reta final, fica mais ou menos no ar que o próximo episódio seria apenas o desfecho de adrenalina 'non stop' que estamos acostumados a encarar em encerramento de séries, onde o roteiro apenas acena de longe e a tela é ocupada com tiro, porrada e bomba. Só que Maze Runner já nos deu uma rasteira (ainda que negativa) nesse segundo episódio, não custa torcer para nova rasteira, dessa vez coroando a saga com um fim empolgante e pungente como se desenhou lá no início.

Comentários (2)

Alexandre Koball | sábado, 19 de Setembro de 2015 - 14:12

Devia ter ficado no primeiro, acabou tão bem.

Rodrigo Cunha | sábado, 19 de Setembro de 2015 - 14:59

Também gostei muito do primeiro. Pena que esse foi para esses lados, então.

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