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Críticas

Cineplayers

Só a metalinguagem salva?

5,0
Qualquer revitalização de um gênero pede, em algum momento, um olhar ou abordagem auto-crítico ou satírico sobre si mesmo. Wes Craven fez isso para o terror nos anos 90 com a auto-consciência debochada de Pânico, e para as comédias românticas, foram os clichês cimentados desde os anos 30 com a irresistibilidade de Aconteceu Naquela Noite até a atual nostalgia charmosa de pequenas pérolas como Harry e Sally - Feitos um para o Outro, Um Lugar Chamado Notting Hill e uma ou outra comédia estrelada por Meg Ryan, que tanto fizeram clamar por uma subversividade na comédia romântica, por mais que (500) Dias com Ela já tenha feito isso de forma tão consciente (e competente) anos atrás.

Como qualquer empresa disposta a apostar no que pode soar como novidade (ou, no mínimo, se mascarar como isso), a Netflix abriu as portas para que Rebel Wilson (de A Escolha Perfeita) pudesse ser uma das figuras contemporâneas das comédias românticas a subverter sua imagem dentro de um gênero ao qual já está atrelada, e se Megarromântico misteriosamente cai nas próprias armadilhas que tenta fugir, apresenta todo um clima de leveza, carisma e espírito contagiante digno das melhores comédias românticas que fizeram história nos anos 90, guardadas as devidas proporções, óbvios.

O mais interessante de Megarromântico é que o roteiro escrito por três mulheres, Erin Cardillo, Dana Fox e Katie Silberman, oferece essa abordagem revisionista abraçando a identidade de títulos marcantes como Uma Linda Mulher e Afinado no Amor, com os quais Megarromântico cria um paralelo inicial imediato para, ao longo de seus 90 minutos, deixar claro que pretende nadar contra a maré daquelas fórmulas e traçar um olhar de paródia sobre tudo. E talvez o filme deixe isso claro até demais.

Mas o ouro de Megarromântico, está, principalmente, na estereotipação máxima da ambientação costumeira das comédias românticas: quando Natalie, uma mulher totalmente desacreditada no amor e avessa à romances, bate a cabeça e entra num universo paralelo que repete a exaustão os tantos clichês que conhecemos, NY se torna um lugar exageradamente colorido e exuberante, o rico e bonito Blake (Liam Hemsworth, de A Vingança Está na Moda) se apaixona perdidamente por Natalie sem maiores explicações, e todos ao redor dela passam a enxergá-la como alguém digna de todos os elogios, tudo quando a baixa auto-estima da protagonista lhe diz que isto não é o que sua aparência lhe permite merecer.

Parodiando o tempo todas as obviedades que nos tornamos acostumados a enxergar nestes filmes, o que sacrifica as boas vontades de Megarromântico é que, ao final de tudo, o roteiro se faz na obrigação de atender ao mínimo do que se aguarda nas comédias românticas, mesmo com todo o discurso empoderador de que Natalie, antes de procurar um amor para sua vida, precisa amar primeiro a si mesma. Mas o amor, o par ideal, a idealização romântica, está sempre ali à espera para “preencher” o desfecho da protagonista, que nessa busca pela quebra dos clichês, desfaz as próprias regras e se entrega a eles para fechar a experiência de forma satisfatória. Da mesma forma, o filme parece tão decidido em ser notado por sua autoconsciência que as roteiristas explicitam mais do que deveriam o uso da metalinguagem, que em determinado momento se sobrepõem a própria história e, consequentemente, saturam a inicialmente divertida proposta do filme.

Assim sendo, ainda não foi a metalinguagem a arma capaz de tirar a comédia romântica da mesmice e trazer alguma inovação para um gênero que, ao longo dos anos, e como tantos outros, se acostumou a repetir fórmulas, histórias e personagens formulaicos, e por mais que Megarromântico seja um entretenimento de tom cômico ideal na maior parte do tempo, sua boa vontade em ser um novo refresco acaba saindo pela culatra.

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