Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Três curtas histórias que provam a vasticidade de temas que os Animes possuem.

7,5

O universo da animação japonesa é vasto, complexo e infinito. Inúmeros estilos, por mais diferentes que sejam, misturam-se e compartilham da imaginação de leitores e espectadores. Garotas de cabelo colorido, super-heróis, guerreiros, demônios, robôs gigantescos e cidades no espaço conquistam fãs por todo o mundo, além de serem um pilar importante da cultura nipônica. Um nome que se sobressai em meio a tantos outros é o de Katsuhiro Otomo, criador de Akira e roteirista de Metrópolis. Ambos os animes são considerados obrigatórios para qualquer fã de animação, e foram ovacionados pela crítica e pelo público. Memórias reúne três curtas histórias (Rosa Magnética, Bomba Fedorenta e Carga de Canhão) dirigidas por Otomo em parceria com outros diretores, "discípulos" dele: Koji Morimoto e Tensai Okamura.

ROSA MAGNÉTICA

A primeira história é uma das melhores da antologia. Um grupo de astronautas, que vasculha o espaço à procura de resíduos e lixo espacial recebe um pedido de socorro vindo do que eles julgam ser uma aeronave. Seguindo em frente, descobrem que o sinal advém de uma grande rosa magnética, que suga todo metal que estiver por perto. Assim, os lixeiros espaciais acabam sugados pela rosa, confrontando-se e interagindo com memórias de uma cantora de ópera.

O traço do anime diverge bastante do usual, beirando o realismo. Os cenários são ricamente detalhados, e receberam cores fortes para realçar o luxo e a magnitude ali presentes. A ausência de olhos grandes e expressivos, típicos da animação japonesa, fez cair a expressividade das personagens, que às vezes mantêm no rosto a mesma expressão. Os efeitos de sombra mantêm o clima necessário em algumas cenas, e projetam-se nos ambientes de maneira impressionante. O visual da animação é perfeito para sua trama obscura e misteriosa, que, com certeza, não pode ser completamente compreendida apenas com uma assistida. Além do mais, a trilha sonora apresenta trechos de Madame Butterfly. De fato, a primeira história de Memórias revela-se uma peça interessantíssima da animação japonesa.

BOMBA FEDORENTA

Talvez a mais sem graça das três, Bomba Fedorenta é uma comédia sem muito conteúdo. Uma epidemia virótica alastrou-se pela cidade, e um pesquisador laboratorial, de nome Nobuo, após tomar a vacina contra a doença, vai para o trabalho. Lá, ele começa a se sentir mal e procura por um remédio - é quando encontra um misterioso vidro repleto de pílulas. Sem pensar duas vezes, ele ingere uma das pílulas, sente-se sonolento e dorme. Quando acorda, todos no laboratório estão desmaiados.

Mais tarde, descobre-se que ocorreu uma reação química no corpo de Nobuo, resultante da combinação da pílula com a vacina. A reação produz e faz o rapaz liberar uma quantidade excessiva de um gás fétido, motivo por que todos se encontram desacordados. Quando Nobuo sai do laboratório para entregar uns documentos anteriormente a ele requisitados, o problema se dissemina e não há quem possa impedi-lo.

O traço de Bomba Fedorenta também segue um estilo mais realista, mas é mais negligente quanto ao uso de efeitos de sombra e luz. As cores não são vibrantes e as formas são bem simples, nada que chegue a impressionar. O que torna Bomba Fedorenta desinteressante é o modo como a história segue: linearmente e sem grandes momentos de tensão. Há um clímax bem planejado no final, levando a uma conclusão genial e engraçada. Mesmo assim, o ritmo imposto à película é monótono, porque não há a presença de conflitos realmente interessantes - pode-se, inclusive, desviar a atenção da animação por algum tempo sem que grandes informações sejam perdidas.

CARGA DE CANHÃO

Outra história interessantíssima, Carga de Canhão revela-se impressionante e tem um quê de revolucionária. Sátira à guerra, a animação apresenta uma cidade onde tudo e todos se voltam para uma única atividade: bombardear o inimigo. As mulheres trabalham em fábricas de munições e os homens encarregam-se de acionar os canhões, enquanto as crianças aprendem nas escolas a química das pólvoras e a matemática envolvida nos disparos. Os espectadores acompanham a trama através dos olhos de uma criança, desde o momento em que ela acorda até a hora a que vai dormir. Em seu apartamento, há uma enorme foto de um homem de farda e ar importante, responsável pelos disparos mais poderosos e ídolo da personagem principal.

Visualmente, Carga de Canhão foge por completo do padrão. Quem não conhece a história pode dizer que não se trata de uma animação japonesa, pois o estilo de desenho é bastante diferente - lembra, inclusive, o filme de animação francesa As Bicicletas de Belleville, de Sylvain Chomet. As cores utilizadas são simples, sem grandes enfoques para efeitos de luz e sombra, talvez porque o diretor quisesse fazer a história parecer um pouco mais infantil, já que a acompanhamos através da visão de uma criança. Além do mais, quase não há cortes de câmera, o que deixa a animação muito mais dinâmica e inteligente.

Carga de Canhão é, também, a mais intelectual das três histórias. À medida que se acompanha a animação, observa-se que tudo pode ser apenas uma metáfora, principalmente quando a criança pergunta com quem estavam lutando até então, ao que o pai responde: "Você vai entender quando crescer". Assim, quando a criança vai dormir e os créditos começam a subir, percebe-se que Memórias é, verdadeiramente, uma antologia agradável e fora do comum, concebida por um dos grandes nomes da animação japonesa.

Comentários (0)

Faça login para comentar.