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Memórias do Medo

(Memórias do Medo, 2023)
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Críticas

Cineplayers

O medo se encaixando no hospital

5,0

Documentário média-metragem para canal jornalístico de Fortaleza-CE que narra a experiência de 5 figuras para com acontecimentos misteriosamente inexplicáveis. Segue um esquema tradicional de narrativa do estilo documental, que visa informar e causar interesse, sendo esperto ao vincular elementos de mistério na sua decupagem afim de enaltecer esse caráter na fita.

Parte da óbvia utilização do talking head (foco na boca e nos olhos também), afinal constata que é do interesse narrativo estabelecer claramente a relação entre as estórias e o discurso frontalizado dos personagens a contarem suas macabras experiências. Somando-se a esta estratégia há o bom uso da escuridão como forma a delinear os espaços e dar vulto imagético às estórias. A trilha sonora metida a sombria visa completar o pacote.

Imagens de reconstituição acompanham o contraste de claros e escuros que a parte meramente documental já ensejava. Estórias macabras contadas espíritos na área. Cores proeminentemente frias numa tentativa do trabalho em apostar no medo mesmo, e no que os tons frios ensejam. O gélido sensorial. Montagem e movimentos de câmera funcionais nesse encaixe, com perambulações e movimentos por corredores de hospital com intenção ilustrativa ao discurso ao fundo. Tudo bem funcional. Hospital como local de mistério.

A estórias propriamente ditas se agarram no extraordinário para existirem como pontos de interesse à narrativa, mas não trazem tantas inflexões ou novidades (e nem era esta a intenção). E como é de praxe em toda espécie de material que se vise como antologia de entrevistados, uns são mais interessantes que outros. O destaque aqui fica para o primeiro entrevistado: O médico com sua estória de assassinato e exumação de cadáver. E até que tudo funciona neste trecho, desde a estória propriamente dita, aos usos técnicos já citados, onde visitas ao cemitério são ilustradas como visualização do discurso do sujeito. Normalmente o exagero destas reconstituições estragam a experiência, mas aqui até que está equilibrado.

O medo do sobrenatural vem carregado – por obrigação tácita – ao mistério, já a ciência quando buscada por vezes não vai explicar algumas narrativas. E esse mistério gera interesse de um público sedento de curiosidades macabras que sejam o invólucro de um desejo humano em se torturar pela curiosidade mórbida. Por isso o terror/horror e o cinema fantástico fascinam. Conseguem causar sensações de estupor no expectador, ao mesmo tempo que satisfazem o seu desejo e o fazem querer mais. Nisso o material em questão não se furta em tentar explicitar. Sem tantos subterfúgios. Uma conurbação entre o real, o imaginado e o alucinatório.

O formato de média-metragem se encaixa aqui no limite do aceitável. A obra começa a cansar por não conseguir se sustentar tanto quando se aproxima do seu fechar, porém sua duração funciona direitinho para um passatempo rápido e divertido sobre assombrações diversas. O fato de ter sido rodado em solo cearense e por ter suas estórias vinculadas a ele, acaba por dar uma camada de pertencimento por algumas citações (nada de grandes absurdos já que as estórias possuem alguns apelos universais). Serve como um projeto sobre a nossa curiosidade ao desconhecido sem querer sair muito do tradicional quando aposta somente na segurança. No limiar do cafona, acaba por ser funcional em suas aspirações.

Material partícipe da 1ª Mostra de Cinema Papo Meia-Noite
Fortaleza-CE
Crítica integrante - a posteriori - do especial Abrasileiramento apropriador do Halloween

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