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Críticas

Cineplayers

Museu da truculência.

6,0

Dando prosseguimento à cinessérie iniciada em 2010, que tinha por proposta reunir as grandes estrelas do cinema de ação dos anos oitenta e noventa, além de alguns nomes contemporâneos, Stallone, após fazer em Os Mercenários 2 (The Expendables 2, 2012) uma ode à maturidade daqueles que insistiam em viver eternamente como jovens de vinte anos, mostra em Os Mercenários 3 (The Expendables 3, 2014) uma nítida busca por abrir caminho para de fato uma nova geração do star system de um cinema comercial ainda de grande apelo popular entre o público de cinema.

Com o sucesso conseguido no primeiro e a estabilidade conseguida no segundo, Stalone convida os icônicos veteranos Harrison Ford, como patrono da missão, Wesley Snipes, como um dos Mercenários originais, Antonio Banderas, como candidato a novo integrante da equipe, e Mel Gibson, como o vilão Conrad Stonebanks, que havia fundado a equipe dos “Dispensáveis” com o protagonista Barney Ross, mas que, desiludido com o próprio país, acabou se tornando traficante de armas. Logo em sua primeira cena, Gibson, atuando de novo aos moldes da personalidade na corda bamba entre o “cool” e charmoso e “quente” e psicótica do policial Martin Riggs da série Máquina Mortífera (Lethal Weapon, 1987), já define o conflito moral de Barney, ferindo mortalmente o especialista em armamento pesado Caesar, personagem de Terry Crews.

Com esse catalisador, Barney enfrenta uma crise de consciência pelos seus atos, que é praticamente idêntica ao do filme anterior, quando ele via o jovem talentoso Billy The Kid ser assassinado pelo Jean Villain de Jean-Claude Van Damme. Porém, a história de vendeta aqui é solitária, risca dinamitar o grupo que é representado não como profissional, mas afetivo – a história inicia com o grupo indo resgatar Dr. Death, personagem de Snipes, anos após ser sequestrado e ninguém ter notícias de sua localização. Os Mercenários são em suma gente que não tem para onde ir – companheiros, famílias, instituições, etc. Como diz o título, são dispensáveis.

Stallone, como mentor principal da série e também um dos roteiristas, é atraído pela ideia de mito vivo e consciente. A história é ditada em tom referencial através da estrutura física e frenética instituída no cinema de ação – onde combates, perseguições e tiroteios importam mais que a própria inserção de eventos, a caracterização e comentários sobre o que é visto através dos diálogos, onde nas poucas vezes que se destacam é através das citações diretas dos maiores exemplos do gênero.

Nessa celebração à memória com tom de fazer as pazes com seus demônios – ser um sobrevivente da cultura popular, relegado a praticamente só fazer sucesso dentro de um mesmo gênero e ser obrigado, de certa maneira, a ser aquele seu avatar cristalizado no auge da condição física vistos exaustivamente através de reprises e downloads saudosos. Décadas depois, Stallone tornou Rocky Balboa um pai, John Rambo um recluso e seu herói da maturidade, Barney Ross, uma amálgama do guerreiro cicatrizado com aquele excluído marginalizado com uma convicção inabalável.

Esta convicção inabalável, filme a filme, é testada por uma galeria de desafiadores, que passa do simples antagonismo do ditador latino do primeiro filme pela oposição de frieza sádica de Jean Villain contra a força de uma união no segundo filme para desembocar nesse terceiro, história de confronto de duplo, que bagunça as noções de bastião da moralidade, justiça e senso que o espectador depositava no protagonista até então.

Entre momentos de ruptura, decadência, desgraça e ascensão, Stallone reinventa o típico herói de ação para que ele continue a ser o mesmo e possa continuar a entregar saltos incríveis de moto, manobras perigosas com helicópteros, combates corpo-a-corpo acrobáticos, incrível poderio e destreza bélica e, por fim, sobrepujar inimigos, arrasar com sua fortaleza e dar de costas quando a mesma explode, rumo ao horizonte da próxima variação sobre o mesmo tema.

O caubói dava as costas para a casa americana e cavalgava em direção ao sol. O grande elenco reúne-se no bar, reafirma a aliança de amizade com o único universo de gênero que irá aceitar seus músculos, sua força, a atuação entre a inexpressão e o exagero e toda uma conjugação da pirotecnia visual cuja cartilha foi escrita nas últimas três décadas. Os Mercenários 3 é o museu de grandes novidades de Stallone, o único lugar onde ele é livre para repetir tudo aquilo que já existe com o alvará da fidelização, onde ele sempre poderá voltar para sentir-se acolhido, pois afeto fanático quer antes o bom e velho feijão com arroz do que qualquer nova ousadia.

Este é o registro sobre o qual Stallone opera e irá operar, pois lustrar as imagens do Olimpo da truculência exige um classicismo a ser repetido de forma ritualística indefinidamente. Afinal de contas, faz parte da responsabilidade de ter transgredido imagem, som e tempo para tornar-se ícone, sinônimo e referência.

Comentários (19)

Ted Rafael Araujo Nogueira | domingo, 24 de Agosto de 2014 - 16:09

Stallone atuando como se fosse um jovem em suas peripécias físicas. O grande lance é esse absurdo que neste filme fora diluído pela péssima direção e a não-construção das caricaturas divertidíssimas do segundo filme. Buscou a farsesca seriedade do primeiro e não buscou-se manter o frescor e a diversão do segundo. Uma pena. Cenas de ação péssimas, nem é o exagero do segundo (o que tornava tudo mais maluco e divertido). Vale pela resistência do cinema brucutu dos anos 80.

Natacha Alana | quarta-feira, 27 de Agosto de 2014 - 18:51

pra que forçar a atuação de uma lutadora? sofrível essa Ronda alguma coisa ai.

Cristian Oliveira Bruno | segunda-feira, 15 de Setembro de 2014 - 03:39

Os Mercenários não visa nada à não ser ser uma homenagem/auto-paródia de seus ícones astros na base da diversão mais do que descompromissada. O 1° filme foi sim, bem fraco, mas o segundo é de rachar o bico de rir com as referências. Ainda não vi, mas não espero nada além de descanso mental numa noite pós expediente ao lado dos meus heróis de infância.

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