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Milagre Inesperado, Um

(Penguin Bloom, 2020)
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Críticas

Cineplayers

Pássaros feridos

6,0

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O Cinema é lindo. A Vida é linda. E é mais lindo ainda quando nos mostram exemplos que nos apoiem a lidar com as grandes dificuldades que já enfrentamos ou possamos vir a enfrentar. Pois todos temos problemas – em teoria. Imagine então ter uma vida maravilhosa, com uma família que você ama e é amada em retribuição. Ter uma boa carreira, boa cultura, viajar pelo mundo e não ter problemas que não seja uma mãe enxerida e pequenos percalços em seu caminho e, de um minuto para o outro, perder os movimentos das pernas e ver todas as possibilidades da vida se esvairem, de forma irreparável.

Mas, na realidade, há reparação. E ela aparece na forma de um pássaro, a quem a família chama de “Pinguim”, pois ele está com as asas machucadas e não pode voar, além de ter as cores de um pinguim de verdade. Caiu sobre os ombros da linda e talentosa Naomi Watts a responsabilidade de viver essa personagem com esse arco complexo, cheia de altos e baixos, de sorrisos e choro, em passagens cheias de nuances. No final das contas, é um drama super tradicional com conflitos conhecidos, mas tudo é levado com bastante classe e elegância pelo elenco e equipe técnica.

Ironicamente, de certa forma, o pássaro é o coadjuvante de maior peso da nossa protagonista, ele parece ter personalidade e inteligência acima da média, claro que essa percepção é ajudada pela montagem e enquadramentos que direcionam o nosso olhar. As outras coadjuvantes – o restante do núcleo familiar – cumprem o papel servindo como apoio à nova condição da personagem de Watts, mas têm textos pouco inspirados e seus conflitos são previsíveis, como a filha que sente-se culpada pelo destino infortuno da mãe (pelo acidente que ocasionou a perda de movimentos), ou a mãe dela, que tenta trazer normalidade forçada ao não aceitar a nova condição de cadeirante (e a depressão pesadíssima que essa condição trouxe junto) da filha.

A locação da costa australiana funciona como um contraponto ao tema pesado, então, ao invés de termos um filme sobre depressão e superação cinzento, escuro e triste, temos lindas praias, muito sol e costas verdes, o que cria uma combinação, no mínimo, interessante. Entáo é de se esperar um drama oscilando entre o desespero e a esperança; entre palavras duras e o alívio da aceitação através do amor. Na realidade não se precisa ir muito além ao afirmar que todo o desenrolar é um tanto quanto previsível, ainda mais ao sabermos que o âmago dessa história é baseado em um caso real – pré-requisito perfeito para o gênero.

No final das contas, o que marca a obra é esse relacionamento improvável entre um pássaro e uma mulher que precisa se reencontrar na vida, que precisa se reinventar para voltar a saborear os prazeres da existência humana. Como não há palavras trocadas entre os dois, ficam os olhares, os pequenos gestos e os sons inconsequentes entre a dupla, com a certeza de que, eventualmente, haverá cenas de cortar o coração. Não é original, mas é bonito e bem apreciável, um filme seguro dentro da carreira de Naomi Watts e que, em uma época marcada pelo mundo virado de cabeça pra baixo por conta da Covid-19, é bem-vindo e certamente recomendável.

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