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Críticas

Cineplayers

Mais uma sequência totalmente dispensável, uma aposta fracassada de Sandra Bullock.

4,0

Que ninguém negue que o primeiro “Miss Simpatia” era delicioso. Tinha suas falhas – sub-trama policial fraca, trilha sonora primária – mas fazia rir aos montes, ajudado pela atriz que melhor atualmente sabe fazer o estilo de comédia física, Sandra Bullock, que vinha de uma série de fracassos comerciais e que, com o sucesso do filme (faturou mais de 200 milhões de dólares), reafirmou seu status de estrela de primeira grandeza de Hollywood.

Ficamos todos esperando por uma continuação, o que seria o óbvio neste mundo de remake e continuações do cinemão americano. Curiosamente, quem mais relutou em seguir a história de Gracie Hart, a agente durona do FBI que no filme original virava uma miss, foi Sandra Bullock. Ela, que chegou ao fundo de sua carreira ao estrelar “Velocidade Máxima 2”, e não queria se envolver em mais um projeto-seqüência. Mas como dinheiro consegue tudo (ou poder, já que Ms. Bullock conseguiu que sua produtora realizasse o projeto), cá estamos nós com a continuação.

A equipe do novo filme foi bastante modificada. A começar pela direção: saiu o especialista Donald Petrie (“Como Perder um Homem em 10 Dias”, “Meu Marciano Favorito”), entra o fraco John Pasquin, cujo último trabalho tinha sido o péssimo “Joe Sujo” e que só foi escolhido para o cargo por ter trabalhado na série de televisão “The George Lopez Show”, do qual Sandra Bullock é produtora. Do elenco, as faltas mais sentidas foram as de Michael Caine (que preferiu trabalhar em “Batman Begins”, totalmente justificável) e Benjamin Bratt, o par romântico de Gracie Hart no filme anterior.

Bratt não voltou até porque a proposta, de acordo com seus realizadores, não era fazer mais uma comédia romântica, e sim algo totalmente diferente dos padrões. Foi uma bela aposta, mas que, infelizmente, não funcionou, já que o filme parece um pouco perdido, sem qualquer tipo de apelo que tanto funcionava no anterior. A culpa, com certeza, é do roteirista Marc Lawrence, escritor do primeiro filme, mas que só vem pisando na bola – foi ele quem roteirizou/dirigiu o chato “Amor à Segunda Vista”. Lawrence até que consegue bons momentos, mas seu roteiro é preguiçoso e cheio de clichês já por demais explorados no cinema. Ele, por exemplo, alterou aquilo que era de mais sagrado no filme anterior: a personalidade “simpática” e de bom coração de Gracie Hart, que aqui se torna uma perua chata e insossa.

Essa mudança de comportamento da heroína é justificada por conta que Gracie Hart se tornou muito famosa após os eventos do filme anterior e, por isso, seria uma ameaça às novas missões secretas do FBI. Entre virar uma funcionária burocrática do bureau ou vir a se tornar garota propaganda do segundo, ela não tem dúvidas e acaba encarnando “o rosto do FBI”. Escreve um livro, passa a dar entrevistas em programas de televisão, até que volta à ação quando sua amiga Cheryl Fraser (Heather Burns), a Miss Estados Unidos, acaba sendo raptada junto a Stan Fields (William Shatner), o ex-apresentador do concurso de miss. Só que Gracie Hart dessa vez será ajudada (ou não) na investigação por sua atual guarda-costas, Sam Fuller (Regina King), uma agente esquentadinha que não leva desaforo para casa.

Sandra Bullock não consegue levar sua personagem ao mesmo nível do anterior mesmo com a ajuda de vários artifícios: maquiagem de envelhecimento (como em “Vovó... Zona”), uso de roupas de corista e modelitos que fariam inveja à socialites brasileiras – sempre amparada por um consultor de moda, a cargo do ator Diedrich Bader, que não foge do estereótipo do homossexual afetado e que chega a usar um traje constrangedor. Quem brilha mesmo é Regina King, fazendo um contraponto interessante, masculinizado e bem composto. King, que deu um show de interpretação em “Ray”, tem se mostrado uma das atrizes mais versáteis da atualidade.

Há de se ressaltar a péssima fotografia de Peter Menzies Jr. (“Lara Croft: Tomb Raider”), com ângulos ruins e fotografia escura demais. Enfim, é um filme que acabou fracassando nas bilheterias (fez 46 milhões de dólares no mercado doméstico norte-americano) e que não deixa muitas lembranças após a subida dos créditos.

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