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Críticas

Cineplayers

Um filme mais focado na ação do que no enredo. O que não é algo ruim: ela é fenomenal.

6,5

O sucesso do primeiro filme deu ensejo ao produtor Tom Cruise realizar algo interessante na série Missão: Impossível. Como ele mesmo já afirmou, é sua intenção colocar um diretor diferente para comandar cada capítulo da série. É uma opção consciente de Cruise, benéfica tanto para os próprios filmes quanto para os espectadores, uma vez que faz a série estar em constante renovação.

Agora, o agente do IMF Ethan Hunt é retirado de suas férias para perseguir um ex-parceiro, Sean Ambrose. Responsável pelo roubo de um vírus altamente contagioso, Ambrose pretende vendê-lo para o dono de uma grande indústria farmacêutica. Hunt une-se ao seu antigo parceiro Luther Stickwell e a uma ex-namorada de Ambrose para recuperar o vírus e, mais uma vez, salvar o mundo.

Seguindo o raciocínio do revezamento de diretores, Cruise convocou John Woo para o comando de Missão: Impossível II. E é inegável: o segundo capítulo da série é bastante diferente de seu antecessor. Se a obra de Brian De Palma era mais focada no enredo, o trabalho de John Woo pouco se importa com a trama, investindo mais na ação.

Evitando uma das pequenas falhas do filme original (os exageros da cena final no trem, que entrava em desacordo com o restante da obra), Woo deixa bem claro, desde o início, que Missão: Impossível II não será um filme que vai primar pela veracidade. A seqüência em que Ethan Hunt escala as montanhas é uma amostra clara do que o espectador está prestes a assistir: ação inverossímil, descerebrada, mas estupidamente divertida.

O roteiro de Robert Towne talvez nem mereça comentários, pelo simples fato de ser apenas uma desculpa para ligar as cenas de ação umas às outras. Uma criança de 12 anos de idade poderia ter escrito a trama Missão: Impossível II, que, além de previsível e nada surpreendente, traz alguns diálogos tão ruins que chegam até a entreter o espectador pela sua simplicidade. Assistir a Missão: Impossível II é quase como assistir a um filme B feito com mais de 100 milhões de dólares: o espectador consegue se divertir com tantos absurdos.

E o mais impressionante é que os realizadores simplesmente não fazem questão de colocar a menor lógica na trama. É algo do tipo: “vamos logo com isso pra chegar às cenas de ação”. Assim, não há a menor explicação sobre como os personagens chegam a certas conclusões ou descobrem algumas coisas. Um exemplo é o local onde é realizada a troca do vírus pelos vilões. Como Hunt sabia que seria naquele lugar? Ele simplesmente aparece lá, como se já tivesse nascido com a informação.

Este nem é o principal problema de Missão: Impossível II. Claro que as falhas do roteiro impedem uma maior apreciação do filme, mas o maior defeito da obra é que o ritmo se torna bastante irregular em certos momentos. Para ser mais específico, há um longo interlúdio entre o bom início e a eletrizante meia hora final, tempo no qual tenta-se desenvolver a história – sem sucesso, como já comentei.

No entanto, Missão: Impossível II ganha pontos quando John Woo finalmente tem a chance de fazer aquilo que faz melhor: cenas de ação de fazer o queixo do espectador encostar no chão. Utilizando de todos os artifícios que o tornaram um dos maiores mestres do gênero (câmera lenta, situações absurdas e, inclusive, o habitual aproveitamento dos pombos), Woo transforma seu filme em uma injeção de adrenalina capaz de deixar até mesmo o mais hermético intelectual na ponta da cadeira, como a explosiva – literalmente – perseguição de motos.

Na época do lançamento do filme, muitos reclamaram de certas cenas, de que aquilo jamais aconteceria na vida real. Esqueçam isso. Há momentos irreais, mas, como já comentei, Woo deixa bem claro que seu filme não terá os pés no chão. E o cineasta aproveita essa possibilidade ilimitada de diversão, fazendo os protagonistas praticarem acrobacias sobre motos, escaparem ilesos de explosões e até fazerem embaixadinhas com armas, em um malabarismo que poderia fazer inveja a um dentuço que joga em Barcelona.

Em uma cena, por exemplo, Hunt explode a porta da sala onde se encontram todos os vilões. Em meio ao fogo e na frente de todos, ele simplesmente passa caminhando pela porta, enquanto todos o observam. É um momento incrível, que jamais aconteceria na vida real. Nem em sonhos o “mocinho” se arriscaria assim. Mas isso interessa? Não em Missão: Impossível II. O que importa é que a cena tem um visual arrebatador e só.

Como se pode perceber, Missão: Impossível II tem pouco em comum com o primeiro filme. Dei nota idêntica aos dois pois acredito que ambos são igualmente satisfatórios, mas por motivos diferentes. Enquanto o filme de De Palma era mais bem elaborado em termos de trama, o trabalho de John Woo é diversão pura, sem a menor pretensão de se mostrar inteligente. Resta ao espectador escolher aquele mais adequado ao seu gosto. Ou esperar até a estréia de Missão: Impossível III, torcendo para que consiga combinar o que as duas primeiras partes tinham de melhor.

Comentários (3)

Vinícius Oliveira | segunda-feira, 17 de Junho de 2013 - 02:33

Realmente, reví o filme e a quantidade de absurdos é enorme. Mesmo sendo divertido, acredito que a mudança drástica de idéias quanto a produção dos filmes da franquia não ajuda, mas sim, atrapalha, pois a disparidade de qualidade de um e de outro é alarmante. O certo seria riscar esse Missão Impossível II e partir do primeiro logo para o terceiro e quarto, que são bem parecidos, bem elaborados e contam com a ação e enredo na mesma proporção. John Woo e Luc Besson são dois diretores que pela madrugada, só cenas de ação não salvam um filme, feras!

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