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Críticas

Cineplayers

Uma aula, em forma de filme, da arte que é pintar um quadro.

8,0

Assim como os grandes musicais, que já dominaram por épocas e épocas as gerações passadas, os tão comentados “filmes de arte” parecem estar se tornando, com o passar do tempo, cada vez mais raros e escassos. Entretanto, a exemplo do outro gênero já citado, sempre acabam por surgir um filme ou dois a cada dois anos que acabam por dar uma chamada sobrevida ao gênero. E Moça com Brinco de Pérola é justamente uma obra excelente, voltada a arte em todas as suas formas, que conta com interpretações magníficas por um par de atores extremamente inspirados e que estão atravessando ótimas fases em suas carreiras profissionais.

Infelizmente, Moça com Brinco de Pérola não chegou a ser lançado em grande escala nos cinemas nacionais. Algumas mostras chegaram a exibí-lo, mas fora isso, somente conseguiu assistir ao filme quem realmente contou com a sorte. Do contrário, o jeito é esperar para que saia nas locadoras mais próximas o mais rápido possível.

A película é baseada em fatos reais. Entretanto, não retrata exatamente de forma legítima o que pode ter acontecido, afinal, estamos lidando aqui também com um filme de época, é apenas a visão do diretor a respeito dos acontecimentos. E que visão brilhante teve Peter Webber. O filme conta a historia de Griet (Scarlett Johansson, de Encontros e Desencontros), que é uma menina pobre da época que é obrigada a trabalhar como empregada na casa do artista e pintor Johannes Vermeer (Colin Firth, de Simplesmente Amor) para ajudar sua família. A menina acaba por, eventualmente, se tornar a modelo da obra mais famosa de Vermeer, considerada mundialmente e respeitada como a “monalisa holandesa”.

Moça com Brinco de Pérola é um filme que contém uma carga de emoções contidas e não expressadas por seus personagens, por motivos óbvios apresentados durante o tempo de projeção, que acaba fazendo com que muitas vezes o par Griet e Vermeer não tenha nem que praticar ou realizar algum ato explícito para sabermos o que eles realmente estão sentindo um pelo outro. Aliás, devo dizer, é um filme de pouquíssimas palavras (e em muitas passagens elas não se fazem necessárias mesmos) e curto. Scarlett Johansson, que vem atravessando uma fase excepcional em sua emergente carreira, tem uma atuação maravilhosa. Até mesmo deveria dizer, melhor que em seu último trabalho, o tão comentado Encontros e Desencontros. Colin Firth também esta impecável, fazendo aqui o melhor trabalho de toda sua carreira. A química entre os dois atores é algo de extraordinário. Palavras não se fazem necessárias e gestos e olhares são o suficiente para demonstrar toda a carga emocional pela qual os personagens estão passando pela inserção, um do outro, em suas vidas.

É interessante observar também alguns dos demais aspectos do filme relacionados à história. Veja bem, temos uma ótima comparação a fazer a respeito dos dois romances e atos que ocorrem durante a projeção. Em um deles, vemos explicitamente Griet envolver-se com o jovem filho do açougueiro, Pieter (Cillian Murphy, de Cold Moutain), onde presenciamos a única satisfação carnal e sexual da personagem de Scarlett. Porém, o público logo nota que o ato sexual entre os dois não é nada alem de pura curiosidade e desejo momentâneo de Griet, pois, apesar de nunca ter tido uma relação dessas com Vermeer, seus sentimentos, expressões e emoções em relação ao pintor eram muito mais complexos e emocionalmente mais fortes que qualquer coisa. A cena em que Vermeer começa a pintar Griet com o brinco de pérola demonstra bem isso.

A química entre o casal que se estabelece é muito bem costurada. Parte disso vem pelo fato de Griet realmente entender a complexidade das coisas e dos elementos que Vermeer se vê cercado e que para sua mulher são simplesmente coisas apáticas e materiais que fazem com que seu marido sustente a família. Apesar de tudo, vemos também que, em momento algum, Vermeer trata sua mulher com desprezo ou insegurança, dando a parecer que entende o que ela está passando.

No que diz respeito à direção de arte e outros aspectos técnicos, a equipe de Peter Webber está realmente de parabéns, o trabalho é minucioso e quase perfeito. A cidade mostrada com seus subúrbios, campos e casarões de época foram muito bem construídos. A maquiagem e as roupas de época também contam pontos positivos para o filme. Ah, não poderia deixar de comentar, mas Scarlett Johansson, pra variar um pouco, está linda em cena.

Baseado no livro de Tracy Chavalier, esse primeiro trabalho do estreante diretor Peter Webber é um prato cheio para quem curte um bom drama e especialmente por aqueles que tem um pouco mais de apreço por belos filmes de arte. Com uma parte técnica deslumbrante e dois atores em atuações e papéis brilhantes, jamais poderia deixar de recomendar Moça com Brinco de Pérola, simplesmente um dos melhores filmes do ano até o presente momento. Uma pequena grande obra.

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